Entender que o mundo está passando por modificações ambientais gravíssimas não é novidade, mas compreender que estas são resultados de problemas sociais muito mais complexos do que imaginamos é uma mudança de paradigma.
Não podemos desconectar a problemática do plástico e de outros resíduos em grande escala na natureza do consumo desenfreado da população e da exploração do trabalho em países emergentes. Muito menos separar que a desigualdade social foi e ainda é um fator de risco na questão sanitária, visto que na presente pandemia do COVID-19, a população mais afetada no Brasil foi a mais pobre e periférica, composta principalmente por pessoas negras. Isso ocorre justamente pelos locais em que essas pessoas vivem, que na maioria das vezes são moradias muito próximas uma da outra, possuem acesso inadequado à água e ao saneamento, dificultando o cumprimento das recomendações básicas de higiene, como lavar as mãos com sabão e distanciamento social.
Esses e muitos outros exemplos comprovam que a questão ambiental é transversal e só pode ser amenizada com uma ação em conjunto. Mas para que haja uma mudança efetiva, é necessário que a sociedade esteja, no mínimo, com maiores graus de equidade entre todas as pessoas, o que ainda não é uma realidade, especialmente na questão de gênero.
Ao longo da história, as mulheres conquistaram uma série de vitórias em prol da igualdade de gênero. Desde o direito de ir à escola, em 1827, até a sanção da Lei 13.718/2018, que tornou o assédio crime, o gênero feminino tem se organizado e lutado para realizar essas conquistas no Brasil. No entanto, a disparidade entre homens e mulheres permanece na sociedade.
Em um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado em março deste ano, é indicado que 54,4% das mulheres com 15 anos ou mais fazem parte da força de trabalho (pessoas empregadas ou que estão procurando emprego) no Brasil em 2019. Enquanto que entre os homens, nessa mesma época, o percentual foi de 73,7%.
Outro ponto relevante a ser levantado é que durante a pandemia, os números de denúncias contra violência doméstica cresceram exponencialmente em todo o mundo. De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, entre março e abril de 2020, meses críticos da crise sanitária, os casos de feminicídio aumentaram 41,4%.
Não há como ter um mundo mais sustentável sem que haja justiça. Pensando nisso, a Organização das Nações Unidas lançou em 2015 a Agenda 2030, documento que traz consigo 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) que somam juntos 169 metas que almejam amenizar os problemas sociais para que, assim, o meio ambiente também se recupere de parte dos danos causados até o ano de 2030.
Trazendo títulos que remetem às metas que devem ser cumpridas, como “Fome Zero e Agricultura Sustentável” (ODS 2) e “Igualdade de Gênero” (ODS 5), os Objetivos da Agenda 2030 são assuntos recorrentes nos debates ambientais e norteiam uma série de ações. A pandemia, no entanto, piorou ainda mais o cenário socioambiental mundial e dificultou o cumprimento das metas, mas isso não alterou a força de vontade de milhares de pesquisadoras das Instituições de Ensino Superior (IES), que a partir dos seus três pilares (ensino, pesquisa e extensão), adquirem papel fundamental nesse caminho de transformação.
Entre máscaras de proteção facial, álcool em gel, distanciamento social e medo constante, as mulheres da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) não pararam seus trabalhos. Na verdade, algumas estão na linha de frente do combate ao vírus, estudando estratégias para entender e sanar essa crise sanitária que nos assola, e outras permanecem atuando em seus projetos e pesquisas que colaboram diretamente com o cumprimento dos ODSs.
A partir deste contexto surgiu o quadro “Mulheres Sustentáveis e Transformadoras”, que visa divulgar as atividades de profissionais da UFSM que se interligam às metas da Agenda 2030 e tem como objetivo alcançar o desenvolvimento sustentável. Entre professoras e técnicas da Universidade, as mulheres presentes nessa série, desenvolvida pelo projeto institucional Universidade Meio Ambiente (UMA), coordenam ações em diferentes áreas, mas com o mesmo propósito: transformar realidades.
Foram elaborados 17 episódios, cada um representando um Objetivo de Desenvolvimento Sustentável e trazendo uma mulher protagonista para o seu cumprimento. Professoras e técnicas de diversas áreas contribuíram para a organização deste conteúdo, como por exemplo a professora adjunta da UFSM no Departamento de Alimentos e Nutrição na área de Nutrição Clínica, Ângela Giovana Batista, que coordena a equipe de Diagnóstico Molecular de SARS-CoV-2 por RT-qPCR (UFSM-Detecta) e foi protagonista do episódio 3 da série.
O UFSM Detecta é uma das principais ações da Universidade no combate à pandemia e atua realizando o diagnóstico dos testes de COVID-19 realizados pela comunidade externa nos laboratórios da UFSM campus Palmeira das Missões. A equipe de Batista é composta majoritariamente por mulheres, contando com outras profissionais da Universidade e também com estudantes.
Apesar das particularidades de cada participante e de cada Objetivo, é essencial que lembremos, como pontuou a técnica em Assuntos Educacionais na Pró-Reitoria de Extensão da UFSM, Jaciele Carine Sell, que se destaca no episódio número 12, em entrevista, que todos os Objetivos estão interligados e é possível que uma ação se enquadre não apenas em um ODS, mas também em vários outros. Confira abaixo todos os episódios da série Mulheres Sustentáveis e Transformadoras.