Por Caroline Siqueira | Bolsista de Jornalismo
Ao longo da história, as mulheres conquistaram uma série de vitórias em prol da igualdade de gênero. Desde o direito de ir à escola, em 1827, até a sanção da Lei 13.718/2018, que tornou o assédio crime, o gênero feminino tem se organizado e lutado para realizar essas conquistas. No entanto, a disparidade entre homens e mulheres permanece na sociedade.
Em um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado em março deste ano, é indicado que 54,4% das mulheres com 15 anos ou mais fazem parte da força de trabalho (pessoas empregadas ou que estão procurando emprego) no Brasil em 2019. Enquanto que entre os homens, nessa mesma época, o percentual foi de 73,7%.
Outro ponto relevante a ser levantado é que durante a pandemia, os números de denúncias contra violência doméstica cresceram exponencialmente em todo o mundo. De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, entre março e abril de 2020, meses críticos da crise sanitária, os casos de feminicídio aumentaram 41,4%.
Não há como ter um mundo mais sustentável sem que haja justiça. Pensando nisso, a Agenda 2030 prevê o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 5: Igualdade de Gênero. Este ODS apresenta missões que são atendidas por diversos projetos de extensão da Universidade Federal de Santa Maria.
“Adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas, em todos os níveis”
Artigo C do ODS 5
A UFSM é a 10° instituição de ensino superior do mundo com maior produção científica realizada por mulheres, segundo dados de 2019 do Centro de Estudos da Ciência e Tecnologia da Universidade de Leiden, na Holanda. No âmbito nacional, a UFSM ocupa o 3° lugar, atrás apenas da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Dentre os trabalhos analisados pelo levantamento, no total 11.227, 50,5% deles foram produzidos por mulheres , porcentagem que corresponde a 5.671 artigos. A maioria deles relacionados às áreas das Ciências Biomédicas e da Saúde. Hoje em dia, cerca de 56% da comunidade acadêmica da UFSM são mulheres.
Atualmente, a UFSM conta com milhares de produções científicas produzidas por mulheres. Na campanha ”Mulheres Sustentáveis e Transformadoras”, voltada à ODS 5, divulgamos projetos de extensão liderados por mulheres e focados nelas. Aqui, listamos alguns exemplos desses projetos.
- Gênero, Interseccionalidade e Direitos Humanos (GIDH).
A professora Mariana Selister Gomes coordena, em conjunto com a também docente da UFSM Janaína Xavier do Nascimento, o projeto de extensão “Gênero, Interseccionalidade de Direitos Humanos”, desenvolvido pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Cultura, Gênero e Saúde (GEPACS) da UFSM. O programa teve início em 2019 e visa difundir e fortalecer as discussões científicas voltadas ao gênero, interseccionalidade e direitos humanos.
Em agosto de 2019, o GIDH realizou o Festival da Diversidade, na Escola de Samba Mocidade Independente das Dores, em Santa Maria, com o intuito de fortalecer a parceria da UFSM com os movimentos sociais. No mesmo ano, o projeto promoveu diversos workshops e palestras voltadas ao debate de gênero, classe e cor de pele, todos relatados no Instagram do projeto.
Com a pandemia, a iniciativa se reinventou e adaptou suas ações para o meio virtual. Capacitações online, como o curso sobre feminismo e antirracismo, realizado entre outubro e novembro de 2020, e o Webinar Direitos Humanos em Diálogo, em parceria com a Ordem de Advogados do Brasil (OAB) do Rio Grande do Sul, subseção Santa Maria, são alguns exemplos da continuidade do trabalho durante a crise sanitária.
O projeto ainda conta com o apoio de coletivos da comunidade LGBTQIA+ e da comunidade preta feminina.
Doutora em Sociologia pelo Instituto Universitário de Lisboa, Gomes apresenta uma longa produção bibliográfica e participação em eventos voltados aos estudos de gênero. Em seu doutorado, defendeu a tese “O imaginário social da mulher brasileira em Portugal: uma análise da construção de saberes, das relações de poder e dos modos de subjetivação.” Temática esta que foi trabalhada em uma publicação das redes sociais do GIDH.
Já Nascimento, além dos diversos artigos publicados, teve uma participação engajada na 34° Jornada Acadêmica Integrada da UFSM, com 7 produções apresentadas, todas tratando temáticas de gênero, cor e classe. Em seu doutorado em Sociologia Política, pela UFSC com período sanduíche na Freie Universität Berlin, Alemanha, ela defendeu a tese “Para uma teoria da identidade na modernidade: mudanças e permanências à luz do reconhecimento e do feminismo”, tema amplamente trabalhado no projeto.
“Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública.”
Artigo 5 do ODS 5
- Fórum de enfrentamento à violência por parceiro íntimo contra as mulheres do Município de Santa Maria: promoção da cultura de paz e superação da violência
O projeto “Fórum de enfrentamento à violência por parceiro íntimo contra as mulheres do Município de Santa Maria: promoção da cultura de paz e superação da violência” conta com a coordenação da professora Laura Ferreira Cortes. Graduada, mestra e doutora em Enfermagem pela UFSM, Cortes apresenta interesse acadêmico pelas questões de gênero desde sua graduação, onde apresentou como tema de seu trabalho de conclusão de curso “Gênero e suas manifestações no cotidiano dos serviços: compreensão de profissionais de uma equipe de enfermagem da Unidade Tocoginecológica de um Hospital de Ensino”.
O Fórum foi idealizado após emergir a demanda de suporte às mulheres no enfrentamento à violência durante o Seminário “Tecendo redes no enfrentamento à violência contra as mulheres: promoção da cultura de paz e superação da violência”, em 2018. O projeto busca integrar profissionais das diferentes áreas, como saúde, assistência social e judiciário, a fim de formar juntos uma rede de apoio às mulheres vítimas de violência doméstica em Santa Maria.
Ele conta com o fomento institucional da Pró-Reitoria de Extensão (PRE) da UFSM, do Observatório dos Direitos Humanos (ODH), do Departamento de Saúde Coletiva, do programa de Pós-Graduação em Estudos de Gênero, do Colégio Politécnico, da Pró-Reitoria de Infraestrutura e de outros projetos de extensão. Externamente, mantém colaboração de órgãos públicos do município de Santa Maria, como a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, Brigada Militar, Assembleia Legislativa/RS, Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o jornal Diário de Santa Maria, as emissoras de televisão SBT/TV e RBS TV, entre outros.
Em 2020, o Fórum realizou a campanha “Vidas de mulheres importam – SANTA MARIA 50 – 50: uma campanha por igualdade”, inspirada no Projeto 50-50 da Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres que visa estimular o quinto objetivo da Agenda 2030. Essa movimentação teve coordenação da professora aposentada do curso de Enfermagem da UFSM Maria Celeste Landerhal. A campanha promoveu diversas ações, dentre elas, destacamos a primeira edição do Curso Segura: Segurança Pública com Elas, que contou com cerca de 50 profissionais da Polícia Civil, Brigada Militar e Guarda Municipal. Com duração de três meses e meio, as aulas tinham enfoque na violência de gênero, comunicação não violenta e acolhimento das vítimas, e todas foram ministradas de forma online por docentes da UFSM e de outras instituições, pós-graduandas e colaboradoras dos serviços de apoio à mulher.
Nessa mesma campanha, foi criado o “Disque COVID UFSM – Acolhe Mulheres”. Com teor emergencial, essa ação baseava-se em um teleatendimento das mulheres vítimas de violência doméstica em tempos de pandemia por parte das participantes do Fórum. Enfermeiras, professoras, advogadas, assistentes sociais e psicólogas formaram essa rede de atenção e atuaram nela de maio a setembro de 2020. Com turnos alternados, as profissionais prestaram apoio ao gênero feminino e deram um exemplo de sororidade.
“Eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e exploração sexual e de outros tipos.”
Artigo 2 do ODS 5
- Uniescola: Mulheres rumo à Engenharia construindo o futuro.
Segundo dados do IBGE de 2019, de todos os alunos matriculados em cursos de Engenharia e profissões correlatas, apenas 21,6% correspondem ao gênero feminino. Buscando uma inclusão maior das mulheres nessa área, a professora da UFSM Nilza Luiza Venturini Zampieri coordena o projeto “Uniescola: Mulheres rumo à Engenharia construindo o futuro”.
O projeto promove vivências laboratoriais que procuram inspirar as alunas das escolas de ensino fundamental e médio da periferia de Santa Maria à entrar na Universidade, especificamente em cursos de ciências exatas, engenharias e computação, Com uso de tecnologias inéditas em ações da UFSM, como o Problem Based Learning e o Design Thinking, além do desenvolvimento e estímulo das alunas, o Uniescola procura auxiliar os professores de ciências exatas que atuam nas escolas, através da troca de experiências com as professoras da universidade, que organizam as atividades do projeto.
Devido à pandemia, o projeto interrompeu suas atividades desde maio de 2020.
Zampieri é graduada em Engenharia Elétrica e mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Maria. Com doutorado em Engenharia e Gestão Industrial, pela Universidade de Aveiro, Portugal, a professora possui uma vasta experiência na área das Engenharias. Ela também é fundadora e coordenadora da Incubadora Tecnológica de Santa Maria, coordenou o projeto de construção e implantação do TECNOPARQUE Parque Tecnológico de Santa Maria, e foi sua presidente até o final de 2018.