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Egressa da UFSM desenvolve escultura que faz surdos “sentirem” músicas

A obra, chamada Blooming Sounds, já foi exposta em museus da Europa




Escultura de flor desenvolvida por Caroline

Uma escultura em formato de flor que permite que pessoas surdas sintam as vibrações das músicas: a “Blooming Sounds” (Sons de Florescência) foi elaborada por Caroline Gaudeoso, egressa do curso de Engenharia Acústica da UFSM e exposta em museus da Europa. Feita de materiais como madeira e acrílico, a obra é conectada a um shaker e vibra como um auto-falante mas, em vez do som, ele emite vibração nos diferentes tipos de superfícies.

Trajetória para a acessibilidade musical

Caroline iniciou o projeto quando estava no mestrado em Engenharia Acústica, na Universidade Técnica da Dinamarca. No entanto, o interesse no tema é anterior, e parte das vivências que teve na UFSM, das trocas com colegas e professores e das oportunidades geradas na graduação.

Para o desenvolvimento da “Blooming Sounds”. durante seis meses, ela e o colega francês Justin Sabaté trabalharam sob orientação do professor Jeremy Marozeau e com ajuda da artista Kiral World. “A gente foi testando como cada pétala vibrava. A partir disso, tentamos fazer com que elas tivessem padrões de frequências de ressonância diferentes, para poder vibrar com o maior espectro das músicas que fossem tocar”, explicou a engenheira.

Segundo a idealizadora, o trabalho foi criado para a comunidade surda sentir a música, mas não somente: também tem o objetivo de passar mais informações sobre as canções que normalmente não são priorizadas pelos ouvintes, como a vibração de cada acorde. “É muito interessante você sentir a música de outra forma que não seja só através do som”, comentou.

Mesmo quando ainda estava em seus primeiros protótipos, a Blooming Sounds era exposta em diversos locais renomados no continente europeu. O primeiro deles foi em um dos dias do Distortion, um festival de música que acontece nas ruas de Copenhague, capital da Dinamarca. Depois, ficou cerca de 10 dias no Copenhagen Contemporary, um museu de arte contemporânea na mesma cidade. Quando estava no Museu de História e Arte de Genebra, na Suíça, músicos eram mensalmente convidados para concertos no local. As canções eram tocadas e as esculturas vibravam em tempo real.

As pesquisas que incluem os sentidos das músicas para pessoas surdas cada vez mais estão em pauta. No ano passado, o humorista Whindersson Nunes patrocinou pesquisas de um protótipo produzido pela startup TRON. O vocalista da banda Coldplay, que foi destaque no Rock in Rio em 2022, já comentou que distribui coletes para surdos nos shows do grupo. O trabalho de Caroline reforça a discussão da inclusão e acessibilidade na música.

Quem é Caroline e como o projeto surgiu

Caroline Gaudeoso, 27 anos, nasceu e cresceu em Santos, São Paulo. Ainda no ensino médio, ela visitou uma feira de ciências na Universidade de São Paulo (USP), onde se interessou pelo projeto de uma pulseira que vibrava com as músicas reproduzidas em um teclado. Com isso em mente, em 2014, Caroline ingressou na graduação de Engenharia Acústica na UFSM, única Instituição do país que oferta o curso, e onde poderia estudar e desenvolver iniciativas semelhantes com o que conheceu.

A experiência na instituição reforçou a vontade em trabalhar com a acessibilidade musical. “Eu fiz as disciplinas Libras I e II como complementares, e gostei muito. Foi um ano nesse conteúdo. Eu conheci alguns surdos na UFSM e cheguei a conversar com alguns professores sobre essa ideia. Tive bastante incentivo”, explicou. A ideia da pulseira continuou com a engenheira durante toda sua formação.

Durante este processo, ela realizou o estágio obrigatório de graduação em uma empresa na Dinamarca. Foi onde se inscreveu no mestrado e conheceu o professor que já estava com um projeto em andamento na área em que ela queria. “Um aluno há muito tempo que fez um banco que vibrava, era bem simples. O professor abriu novas vagas para o projeto e eu entrei, no objetivo de desenvolver esculturas com a mesma proposta, mas de outras formas”, conta, explicando como a obra em formato de flor surgiu. Hoje, ela não atua mais diretamente no projeto, mas, alguns colegas seguem no ramo desenvolvendo esculturas cada vez mais qualificadas.

Focada em concluir a dissertação do mestrado, Caroline relembra da importância da Universidade para chegar onde está hoje: “Foi extremamente importante, eu realmente não sei o que teria feito se não fosse esse curso na UFSM, porque era o que eu queria e sigo com a temática no mestrado agora. Tenho muita paixão pela engenharia acústica e a UFSM foi a base para isso”, finaliza.

Texto: Paula Appolinario, estudante de jornalismo e estagiária da Agência de Notícias
Fotos: Arquivo pessoal de Caroline
Edição: Mariana Henriques, jornalista

Fonte: ufsm.br

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