Isabel Cristina Baggio, egressa do curso de Educação Física da Universidade Federal de Santa Maria, turma de 1985, tem Especialização em Pesquisa e Ensino do Movimento Humano (1997) e Mestrado em Ciência do Movimento Humano (2000), também pela UFSM.
Tem grande experiência na área de Educação Física, foi professora da Rede Estadual de Ensino e Professora da Rede Municipal de Ensino de Santa Maria. Atualmente é diretora da Escola Estadual Indígena Augusto Ope da Silva, fazendo um incrível trabalho de ajuda na manutenção da cultura dos povos originários, criando um espaço acolhedor para os Kaingangs.
VOLVER – Para começar, nos conte quais lembranças guarda da UFSM e como a universidade contribuiu para que você chegasse onde está hoje?
ISABEL – Tenho ótimas lembranças da UFSM, da minha turma, dos meus colegas e professores, são amizades que mantenho até hoje. Foi um período muito intenso, de muitas descobertas, parcerias e aprendizados. Lembro que era um motivo de muito orgulho e a realização de um sonho realmente, para aquela geração, poder estudar numa Universidade Pública tão bem-conceituada como a UFSM. Creio que só depois de algum tempo, a gente se dá conta da qualidade da formação que tivemos naquele período. Me sinto realmente privilegiada por ter convivido com excelentes professores, que nos educavam também com a sua vivência e postura profissional, nos lembrando sempre de a formação deveria ser constante.
VOLVER – Você é formada em educação física, como foi a escolha pela área da educação?
ISABEL – Me formei em Educação Física, na turma de 1985, no CEFD. Escolhi esta área porque, desde criança, era apaixonada por atividades físicas e esportes. Desde o Curso de graduação e mais tarde, na minha atuação como professora de educação física nas escolas da rede privada, municipal e estadual de ensino pude constatar a importância da área da Educação Física no desenvolvimento das pessoas. Retornei à UFSM para fazer Pós- Graduação, e em 1997 conclui o Curso de Especialização e no ano 2000 conclui o Curso de Mestrado em Ciência do Movimento Humano. Estive por oito anos atuando na gestão do esporte no município de Santa Maria e também foi um período em que me senti muito realizada profissionalmente, pois tivemos a oportunidade de implementar muitas políticas públicas de esporte e lazer na cidade, atendendo um público de várias faixas etárias e em várias manifestações de recreação, esporte e lazer. Na maior parte da minha vida profissional eu sempre atuei em escolas e acredito muito no poder transformador da educação.
VOLVER – Quais desafios e quais recompensas você aponta no trabalhar com educação no Brasil?
ISABEL – São muitos desafios, a educação ainda não é valorizada como deveria pelos governantes. A desvalorização salarial do professor é gritante. Existe uma política de acesso que ainda não é plena, e também há falta de uma política que assegure a permanência dos alunos na escola, isto passa por ter uma renda mínima, direito à transporte, moradia, saúde, segurança, alimentação… A sociedade brasileira ainda não despertou, não dá a importância de fato. Às vezes fico triste de pensar que se não fosse a obrigatoriedade, algumas famílias não encaminhariam os seus filhos para a escola. Outra tristeza é ver o corte dos investimentos em pesquisas, o sucateamento dos prédios, dos espaços públicos.
Por outro lado, fico muito feliz quando vejo as escolas como referência para muitos jovens, os alunos que aproveitaram a formação escolar e conseguem realizar suas escolhas no campo profissional e pessoal, ou quando vejo colegas que se dedicam à formação das novas gerações e dividem suas experiências e esperanças com seus alunos, numa incansável semeadura de sonhos, despertando o interesse pela aprendizagem, provocando a leitura crítica da realidade e acreditando que a educação é capaz de transformar o mundo para melhor.
VOLVER – Atualmente você é diretora da Escola Estadual Indígena Augusto Ope da Silva, como é ser educadora lidando com uma cultura diferente, pode no contar um pouco mais sobre?
ISABEL – Na cultura indígena a vida é comunitária, deste modo a escola está inserida no seio da comunidade e toda a comunidade se sente parte da escola. A escola é bilíngue, multicultural e atua como uma ponte entre as duas culturas (indígena e não indígena), sendo uma grande fonte de informação para todas as áreas onde os indígenas sentem necessidade de apoio. E a escola está muito próxima para dar apoio também na luta pelos direitos básicos da comunidade indígena. A educação indígena vem junto com outros direitos, à terra, à saúde… ela não acontece de modo isolado, uma coisa depende da outra e no cotidiano a gente percebe muito isso.
Para mim é um privilégio ter esta oportunidade de conviver com a cultura dos povos originários. É uma experiência de muito diálogo com os Kaingangs. Temos de estar em constante construção e avaliação, junto com as lideranças indígenas, pois a escola dentro de uma aldeia, que antigamente serviu para perseguir e aniquilar a cultura indígena, agora, após a Constituição de 1988, é um instrumento de resistência e de fortalecimento da identidade. Esta escola diferenciada é uma experiência inovadora, exige muito diálogo e respeito ao modo de vida da comunidade e por isto todas as decisões que impactam a vida da comunidade tem a participação da comunidade e das lideranças indígenas. Eu vejo a escola indígena como um espaço que possibilita a formação de cidadãos, a valorização dos conhecimentos destes povos e sobretudo a oportunidade deles fazerem suas escolhas profissionais ou pessoais, sentindo-se seguros, livres para viver cada vez com mais dignidade na sua cultura.
VOLVER – Qual futuro você vislumbra para a educação do país?
ISABEL – Eu quero ser otimista e realmente creio que não há outra saída para a barbárie e miséria a não ser pela educação. Acredito que a sociedade precisa se dar conta de que a educação é uma das mais importantes alternativas para superar os problemas de desigualdade social, de atraso de desenvolvimento, pois é fundamental no processo de conscientização dos direitos básicos do cidadão. Acredito também que a conquista da valorização da educação com os investimentos necessários não virá naturalmente e nem de modo fácil, será preciso muita mobilização e luta social, terá de partir justamente dos trabalhadores, dos jovens, e da conscientização das pessoas acerca de seus direitos fundamentais e do desejo de viver num país mais justo e menos desigual.
VOLVER – Como você se vê daqui a 10 anos?
ISABEL – Eu imagino que vou estar aposentada, mas ainda atuante na vida social. E se for possível gostaria de viajar muito pelo Brasil, e conhecer e interagir com as muitas culturas, com os muitos Brasis que existem dentro do nosso imenso país.
Texto: Lucas Zambon