No dia 22 de agosto, aconteceu o 2º Encontro da Rede de Leitura Inclusiva – Grupo de Trabalho Centro/RS aqui em Santa Maria. O GT é uma ação local da Fundação Dorina Nowill, organização que existe há 70 anos em São Paulo e é reconhecida por ter sido a primeira editora gráfica em braile na América Latina. Além disso, a Dorina também foi a primeira editora a transcrever histórias já publicadas para o braile.
O coordenador do GT Centro, Cristian Strohschoen, conheceu a Fundação Dorina Nowill a partir da sua perda de visão. Em um Encontro de Acessibilidade no Ensino Superior, na Universidade Federal de Santa Catarina, conversou com quem, na época, coordenava a entrega dos livros para os cadastrados no site da editoria. Eles mantiveram contato e decidiram criar um GT para o interior do Estado, em Santa Maria, visto que já existia o de Porto Alegre. Cristian afirma a importância de acontecer eventos como esse: “Todo mundo tem direito à leitura, à comunicação e à informação. A gente acredita que a maior parte das pessoas, empresas e dos profissionais ainda não conhecem essas iniciativas. Então, fazemos essa proposta de divulgar.”
A Fundação atende a todas idades e traduz desde leituras clássicas brasileiras e estrangeiras, obras infantis, e até os best-sellers. A produção é viabilizada por meio de patrocínios e Leis de Incentivo Fiscal, como a Lei Rouanet. Por esse motivo, há uma quantidade limitada de livros por ano, variando entre 200 a 1000 títulos publicados e distribuidos gratuitamente.
Perla Assunção, representante da Fundação Dorina Nowill, esteve presente no Encontro e conversou com a nossa equipe sobre a produção dos livros.
Como funciona a tradução para o braile?
Primeiro, vamos até a Editora para pedir o material e fazer a transcrição, muitas são parceiras, outras nem tanto. Então, em alguns casos, a gente tem que digitalizar todo o livro e começar no formato digital e, a partir disso, transformar em braile. Quando se faz esse processo de transformar um livro em tinta para braile é necessário fazer alguns ajustes, como na grafia. Após isso, imprimimos a primeira versão e começamos a correção: passa pela revisão de uma pessoa com deficiência visual, depois para um revisor sem dificiência visual e, por fim, volta para o último ajuste. A forma de impressão vai depender da quantidade de livros que serão produzidos. Se for um número menor, usa-se as impressoras. Já se for em grande quantidade, vai para o parque gráfico que faz a produção de chapas para a impressão em braile.
Existe algum critério que decide para qual formato o livro será transcrito?
Há 5 formatos: o braile; a fonte ampliada, que são letras maiores pra baixa visão; o tinta braile, que é o fonte ampliada com o braile na mesma publicação; o falado, em áudio; e o Daisy, que é o Digital Acessível, ele tem mais navegabilidade e mais recursos para uma leitura complexa. A gente avalia um pouco do conteúdo e o porte de produção para pensar qual formato é o mais adequado.
Tem alguns livros, como Harry Potter, que é um livro grande e volumoso, a tradução em braile ficou ainda maior. O primeiro livro tem 16 partes, o que gera muito custo e se torna trabalhoso pra quem corrige. Este, talvez, seria um formato que poderia ser feito uma versão digital também: a pessoa baixaria esse material, ou teria um CD do livro. Além desse, se for uma leitura mais técnica, que precise de marcação no texto, não há fluidez para fazer essa leitura em braile. Então, o ideal seria o livro digital. Histórias em quadrinho, por exemplo, em que o desenho conta muito, há a necessidade de que as pessoas possam ter acesso às imagens com audiodescrição, então, o formato mais adequado seria o Daisy. Já para contos e histórias mais fluídas, pode ser usado o formato falado.
Para adquirir os livros da Fundação Dorina Nowill entre no site www.dorinateca.org.br e se cadastre. Você poderá fazer download dos livros e, se desejar, cadastrar sua instituição, escola ou Universidade. Você também tem a opção de receber os livros físicos no local desejado.