A Fundação Dorina Nowill para cegos acaba de lançar o livro com crônicas inéditas de alguns dos seus escritores favoritos. Imagine que você jamais poderá ler esses contos porque estão escritos em braille – e você não lê braille.. Palavras Invisíveis traz crônicas de Luis Fernando Verissimo, Lya Luft, Eliane Brum, Ivan Martins, Fabrício Carpinejar, Martha Medeiros, Tati Bernardi, Carlos de Britto e Mello, Antônio Prata e Estevão Azevedo.
O livro jamais será lançado em tinta.
A ideia é fazer com que o público vivencie uma experiência corriqueira na vida de pessoas com deficiência visual: a exclusão. E que dessa vivência surja um resultado positivo, que o público reflita e comece a pensar – e agir – de forma mais inclusiva.
No Brasil, 95% dos livros publicados não são lançados em formatos acessíveis – como áudio, Daisy (sigla para digital accessible information system ou sistema digital acessível), fonte ampliada e braille, por exemplo.
Além da versão em braille, Palavras Invisíveis também está disponível em vídeos no YouTube. Neles, pessoas com deficiência visual leem as crônicas para a câmera.
Falando à BBC Brasil, Ivan Martins, que não lê braille, disse que teve uma surpresa agradável ao ver seu conto lido no YouTube pela jovem Bruna Schatschineider.
“Escrevi (a crônica). Quando fui escutar, fiquei tocado com a leitura da Bruna. Virou outra coisa, muito melhor”.
No início, estava um pouco apreensivo, ele contou.
“Fiquei honrado em ser convidado, achei uma ideia nova, bacana, nobre. Aceitei rápido e depois fiquei nervoso. Aí me veio a lembrança dessa história que aconteceu quando eu morava na Inglaterra. Me ajudou a refletir sobre o poder das palavras”.
Como um convite à reflexão sobre o significado do conceito de inclusão, o livro Palavras Invisíveis de fato cumpre um papel – até mesmo por suas limitações.
Sem uma versão do texto em tinta ou em formato digital e sem a disponibilização de um vídeo em Libras (Língua Brasileira de Sinais) a iniciativa exclui, por exemplo, as pessoas com deficiência auditiva.
Estas não terão acesso ao conteúdo em braille nem ao vídeo com áudio oferecido no YouTube – que, por sinal, também não permite leitura labial, já que a câmera muitas vezes deixa de focar o rosto da pessoa que lê para mostrar suas mãos sobre o livro em braille.
A assessora de imprensa da Fundação Dorina Nowill, Priscila Saraiva, disse que comentários e sugestões são bem-vindos. Ela explicou que a fundação recebeu ofertas de outros escritores interessados em participar de um segundo volume de contos, o que criaria oportunidades para que as sugestões fossem incorporadas.
Para que este artigo também possa ser acessível a pessoas com deficiências visuais, a BBC Brasil gravou uma versão do texto em áudio que pode ser acessada ao lado.
Palavras Invisíveis busca provocar o público de maneira positiva e inteligente. E ao fazer isso, o projeto também ressalta quão incipiente é a discussão sobre inclusão no Brasil.
“No Brasil, avançamos nas leis, nas políticas, mas não temos prática social inclusiva, especialmente na comunicação. Cardápios em bares, guias turísticos, filmes, livros”, disse à BBC Brasil a jornalista e escritora Cláudia Werneck, fundadora da ONG de fomento à inclusão Escola de Gente.
Autora de vários livros sobre inclusão, Werneck diz que é nessa área – acessibilidade na comunicação – que ocorrem as mais graves formas de discriminação.
“Sem acessiblididade na comunicação, as pessoas com deficiência não podem ter acesso à informação, não podem se expressar, acompanhar o debate político, expressar modos de vida e saberes para contribuir com a evolução humana na sociedade”.
Werneck ressalta não se trata de sentirmos “pena” da pessoa que é excluída.
“Sem acesso – e não estou com pena – o sistema como um todo é lesado, porque quando as pessoas com essas diversidades puderem se expressar, poderemos encontrar soluções para os problemas do planeta”.
“A exclusão gera atraso em processos políticos, econômicos, sociais. Não temos acesso a conteúdos privilegiados. Porque o saber a ser oferecido por pessoas com deficiência é de extrema importância e a sociedade precisa receber esse saber como algo indispensável ao seu conhecimento, não como algo que emociona e faz chorar”.
A assessora de imprensa da Fundação Dorina Nowill, Priscila Saraiva, disse que comentários e sugestões são bem-vindos. Ela explicou que a fundação recebeu ofertas de outros escritores interessados em participar de um segundo volume de contos, o que criaria oportunidades para que as sugestões fossem incorporadas.
Para que este artigo também possa ser acessível a pessoas com deficiências visuais, a BBC Brasil gravou uma versão do texto em áudio que pode ser acessada ao lado.
Palavras Invisíveis busca provocar o público de maneira positiva e inteligente. E ao fazer isso, o projeto também ressalta quão incipiente é a discussão sobre inclusão no Brasil.
“No Brasil, avançamos nas leis, nas políticas, mas não temos prática social inclusiva, especialmente na comunicação. Cardápios em bares, guias turísticos, filmes, livros”, disse à BBC Brasil a jornalista e escritora Cláudia Werneck, fundadora da ONG de fomento à inclusão Escola de Gente.
Autora de vários livros sobre inclusão, Werneck diz que é nessa área – acessibilidade na comunicação – que ocorrem as mais graves formas de discriminação.
“Sem acessiblididade na comunicação, as pessoas com deficiência não podem ter acesso à informação, não podem se expressar, acompanhar o debate político, expressar modos de vida e saberes para contribuir com a evolução humana na sociedade”.
Werneck ressalta não se trata de sentirmos “pena” da pessoa que é excluída.
“Sem acesso – e não estou com pena – o sistema como um todo é lesado, porque quando as pessoas com essas diversidades puderem se expressar, poderemos encontrar soluções para os problemas do planeta”.
“A exclusão gera atraso em processos políticos, econômicos, sociais. Não temos acesso a conteúdos privilegiados. Porque o saber a ser oferecido por pessoas com deficiência é de extrema importância e a sociedade precisa receber esse saber como algo indispensável ao seu conhecimento, não como algo que emociona e faz chorar”.
FONTE: BBC BRASIL