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Da coleta seletiva à alimentação saudável



Desde 2006, todas as entidades e todos os órgãos da Administração Pública Federal são orientados a realizarem a separação do lixo produzido nos ambientes públicos e os destinarem a associações e cooperativas de materiais recicláveis, visto que, até o final deste ano, as cidades com mais de 100 mil habitantes, como Santa Maria, terão que encerrar o envio dos resíduos sólidos para os “lixões”, garantido a destinação correta destes materiais. A medida, que ainda gera muitos debates no campo político e social, visa à conscientização ambiental e ao fortalecimento da relação saudável com o Meio Ambiente.


Na Universidade Federal de Santa Maria, desde 2016, a coleta, a separação e a destinação correta dos resíduos são realizadas pelo Setor de Planejamento Ambiental (SPA) da Pró-Reitoria de Infraestrutura (PROINFRA), em conjunto com a Comissão de Planejamento Ambiental (COMPLANA). Antes do projeto, outras iniciativas sobre a temática já eram realizadas na universidade, mas de maneira isolada, por pessoas preocupadas com a sustentabilidade e com os impactos causados pelas atividades desenvolvidas na UFSM.


Da Coleta Seletiva Solidária, desenvolvida pelo SPA, saem dois tipos de resíduos: os orgânicos, que são enviados à composteira do Colégio Politécnico da UFSM, para a produção de adubo orgânico destinado à jardinagem interna e aos agricultores da Polifeira; e os sólidos, tais como plástico, metal e papel, que são destinados às cooperativas de reciclagem. Atualmente, três associações recebem esses resíduos, com o cuidado do SPA em manter o mesmo número de entregas para todos, em período letivo ou não.


Para o engenheiro ambiental e sanitarista, Elzon Rippel, a coleta seletiva realizada pela UFSM, além de aliviar a coleta domiciliar convencional, proporciona geração de renda e uma consequente melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores pertencentes às associações atendidas pelo projeto. Elzon também destaca que há uma proposta não só de expansão da rede de coleta, como também de criação de um espaço, no próprio campus, dedicado ao recebimento e à separação dos resíduos produzidos pela manutenção. Atualmente, o Setor de Planejamento Ambiental é composto por seis Técnicos Administrativos e seis estagiários, garantindo um futuro mais sustentável para o campus sede da UFSM.


Além da Coleta Seletiva, o SPA-PROINFRA também é responsável por outras ações ambientais dentro da UFSM, entre elas o licenciamento ambiental, a recuperação de áreas degradadas e as ações de Educação Ambiental através do projeto UMA – Universidade Sustentável.

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Benefícios à extensão e à alimentação saudável

Um dos projetos de extensão beneficiados pela Coleta Seletiva Solidária da UFSM é a Polifeira, que completou dois anos de atuação em abril de 2019. O projeto de extensão tem como objetivo principal promover a alimentação saudável para os consumidores da feira, através da produção de alimentos sem agrotóxicos. Para o professor Gustavo Pinto da Silva, responsável pela feira, a Polifeira busca resgatar a confiança entre o agricultor e o consumidor, valorizando o alimento que é produzido, sem veneno, pela agricultura familiar. “Nós realizamos a análise semanal da presença ou não de resíduos de pesticidas, valorizando o conhecimento artesanal e buscando ser uma alternativa para a produção realizada com demasiados conservantes e pouca diversidade de produção”. O professor ressalta, ainda, que os agricultores não podem comercializar alimentos que não sejam produzidos por eles e devem estar dispostos a receber o acompanhamento contínuo da equipe técnica do projeto.


No início das atividades, a Polifeira contava com 17 feirantes. Hoje a equipe se expandiu e conta com 25 feirantes, cinco bolsistas, um docente e um técnico administrativo. Para o técnico-administrativo e um dos coordenadores da Polifeira, Cristiano Dotto, os agricultores são beneficiados a partir do momento em que eles depositam os resíduos orgânicos na compostagem do Colégio, onde acontece o processo de maturação do material, até o momento de retorno desse material ao ponto de adubo orgânico. “Deste modo, é fechado o ciclo do projeto, que inicia com o plantio, passa pela assistência técnica, pela colheita e termina na pós-venda. Os produtos que não são comercializados são enviados à composteira e voltam para eles em forma de adubo”, coloca Cristiano.


Para o produtor Geraldo André Raddatz, participante da Polifeira, entre os principais benefícios proporcionados pelo projeto está a oportunidade de voltar aos estudos e conhecer novas técnicas e culturas. Além disso, o agricultor ressalta que a Polifeira proporciona o contato direto com o cliente, permitindo explicar os benefícios dos produtos que estão sendo comercializados, diferente de outras feiras, onde os produtos comercializados não são necessariamente produzidos pelo comerciante.

Os produtos cultivados são todos sem agrotóxicos, verificados por professores visitantes, técnicos e engenheiros agrônomos da UFSM. Para auxiliar na produção limpa, Geraldo utiliza flores, plantas repelentes e plantas sacrifícios, uma técnica aprendida em um curso de Agroecologia no Instituto Federal Farroupilha (IFFar) de Júlio de Castilhos, através da Polifeira. “Minha produção é focada em produtos nutracêuticos, ou seja, produtos que, além do valor nutricional, também apresentam valor medicinal. Por exemplo a mandioca vermelha, que contém licopeno; a batata yacon, que auxilia no controle da diabetes; a pitaya, na qual 50% das sementes são o ômega 3 e 6; e o inhame, que ajuda na imunidade. Além disso, temos a linha de geleias e ‘chimias’, fabricadas com as frutas do sítio”, comenta Geraldo.


Na propriedade de Raddatz, também são desenvolvidas outras ações de extensão e pesquisa da UFSM. Entre elas, há o projeto de inoculação da trufa americana no milho crioulo, que servirá de base para uma pesquisa de pós-doutorado; o levantamento tanto da flora quanto da fauna local; e o projeto de visitação pública para conhecer outros projetos. “Tenho muito o que falar: esta é a universidade na qual eu acredito, uma universidade na qual o conhecimento não fica dentro dos muros, o conhecimento vai até às propriedades, como no nosso caso, de produtores rurais”, finaliza Geraldo.

A Polifeira é realizada na Biblioteca Central, às terças pela manhã, e no Planetário, às quintas pela tarde. Para o professor Gustavo Pinto, a feira é uma garantia, para o consumidor, do alimento adquirido: “neste clima de ansiedade generalizada, onde não sabemos se o que consumimos é bom ou é ruim, é importante lembrar que a Polifeira tem um trabalho sério envolvido com a assistência permanente dos agricultores, através de atividades de qualificação, buscando garantir um alimento de qualidade superior”, conclui.

Reportagem: Wellington Hack/ bolsista NDI PRE

Revisão Textual: Erica Medeiros / bolsista NDI PRE 

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