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O Fracasso Institucional

Racismo institucional/sistêmico, o racismo que não desponta na mídia.

Texto de Lenora Consales.
Revisão: Andressa Mourão Duarte
Leandra da Silva Cunha

“Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai…”
Jorge Aragão

O Protagonismo Negro em entrevista com Victor De Carli Lopes, formado em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mestrando em História e servidor pela mesma instituição dialogou conosco, na terça feira dia 12 de junho, sobre o racismo Institucional e suas especificidades. Com uma pesquisa pautada em questões da África e intelectuais negros, trabalhando atualmente como servidor público na Pró-Reitoria de Extensão, Victor nos traz elementos importantes e urgentes para entrarmos no debate sobre o racismo Institucional. Uma das questões que Victor coloca e que podemos ler também no texto “ Racismo Institucional: Uma abordagem conceitual”  realizado pelo Geledés – Instituto da Mulher Negra, é que devemos perceber o racismo institucional também como uma “ideologia/fenômeno social entre pessoas e grupos no desenvolvimento de políticas públicas, nas estruturas de governo e nas formas de organização dos estados, sendo um fenômeno de abrangência ampla e complexa que penetra e participa da cultura, da política e da ética. Para isso requisita uma série de instrumentos capazes de mover os processos em favor de seus interesses e necessidades de continuidade, mantendo e perpetuando privilégios e hegemonias” ( p.11).

Um exemplo “bem escuro” (com isso quero dizer evidente) que Victor nos lembrou e que concretiza o que foi citado acima é o caso ocorrido em 2016, de Flavio Cesar Damasco, advogado de 60 anos, que foi hostilizado e algemado por agentes de segurança da Justiça do Trabalho de São Paulo (SP) quando tentava entrar no Tribunal para participar de uma reunião com a desembargadora responsável pelo processo de um cliente. O advogado quando abordado pelos seguranças foi impedido de entrar nos elevadores (o privativo, único para Juízes e integrantes do ministério público, e o público), desacreditado em sua função trabalhista, tratado com desrespeito e agressividade ao ser algemado e levado a delegacia sem qualquer motivo. Fica escuro nesse exemplo, o instrumento do racismo institucional, o qual nega espaços, é direto e naturalizado, privilegiando alguns em detrimento de outros. Flavio Cesar Damasco, tinha o direito de estar naquele espaço, não promoveu nenhum perigo aparente ao local,estava vestido “a caráter” ao que o espaço/pessoas esperam de um advogado e apresentou sua carteira profissional. O que faltava para Flavio ser tratado com dignidade? Ser Branco?

60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais já sofreram violência policial; A cada 4 pessoas mortas pela polícia, 3 são negras. Nas universidades brasileiras apenas 2% dos alunos são negros; A cada 4 horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo; Aqui quem fala é Primo Preto, mais um sobrevivente. Racionais Mc’s (1997)

É necessário entendermos urgentemente que o sistema se organiza através de estruturas, políticas e práticas capazes de definir oportunidades e valores para a população, a partir de sua aparência, atuando em diferentes níveis: Pessoal, Interpessoal e Institucional. No nível Institucional ora ocorre à indisponibilidade ou acesso reduzido a políticas de qualidades, ora ocorre uma barreira no acesso ao poder, a informação, a participação e controle social, além da escassez de recursos a populações pertencentes a “linha de cor”. Essa “Linha de cor” se refere conforme Du Bois a separação ( segregação) das pessoas permitindo os mais claros ocuparem posições superiores na hierarquia social enquanto os mais escuros são mantidos em posições inferiores independente de sua condição social.

O termo “Racismo Institucional’ foi definido pelos ativistas integrantes do grupo Panteras Negras Stokely Carmichael e Charles Hamilton em 1967, como capaz de produzir: “A falha coletiva de uma organização em prover um serviço apropriado e profissional às pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica. “ (Carmichael, S. e Hamilton, C. Black power: the politics of liberation in America. New York, Vintage, 1967, p. 4).

Entendesse por isso, que o racismo Institucional é um mecanismo estrutural que garante a exclusão seletiva dos grupos racialmente subordinados, possuindo sua base na apropriação desigual da renda, da riqueza, nos espaços de convivência e poderes, dentro nas estruturas organizativas – Universidade, atendimento à saúde, atendimento qualitativo de vida- no alcance de privilégios, na perda de direitos comuns a “todos” e na perda do direito ao controle dos nossos corpos negros.

Dizendo de outro modo, o racismo institucional é um modo de subordinar o direito e a democracia às necessidades do racismo, fazendo com que os direitos inexistam ou existam de forma precária, diante das barreiras interpostas na vivência dos grupos e indivíduos negros aprisionados pelos esquemas de subordinação da tal “democracia”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Racismo Institucional- Uma abordagem conceitual. Fonte, Geledés – Instituto da Mulher Negra.Cap.1Disponível em:<http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2016/04/FINAL-WEB-Racismo-Institucional-uma-abordagem-conceitual.pdf>. Acesso em:25 Junho. 2018.

Pellizzaro, Vinícius Uberti. Racismo Institucional – O Ato Silencioso que Distingue as Raças. 07 Nov,2017. Disponível em : <https://www.geledes.org.br/racismo-institucional-o-ato-silencioso-que-distingue-as-racas/>.Acesso em 25 Junho. 2018

Advogado negro é agredido e algemado após ser impedido de usar elevador no TRT. 06 jun,2017. Disponível em:<https://www.pragmatismopolitico.com.br/2017/06/advogado-negro-e-agredido-e-algemado-apos-ser-impedido-de-usar-elevador-no-trt.html> Acesso em 27 junho. 2018