Dois projetos de extensão oferecem aulas de pré-vestibular gratuitas na antiga reitoria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O Coletivo de Educação Práxis, popularmente conhecido apenas como Práxis, e o Pré-Universitário Popular Alternativa (PUPA), mais conhecido como Alternativa, têm sua sede no Complexo Multicultural Antiga Reitoria.
Ambos os projetos foram criados no fim dos anos 90 e início dos anos 2000, com o objetivo de oferecer educação popular e de qualidade à comunidade, principalmente para o público que deseja ingressar no ensino superior. As iniciativas promovem cursos para estudantes de baixa renda que estão se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros vestibulares.
Coletivo de Educação Práxis
O Coletivo de Educação Práxis é um projeto de extensão criado em 1999 por acadêmicos, principalmente de História e licenciatura, ligados ao movimento estudantil. Até hoje, o Práxis oferece uma educação popular e crítica para seus estudantes.
Para Laura Kunde, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação e Ciências e educadora do Práxis desde 2021, o objetivo do projeto sempre foi trazer a democratização do acesso ao ensino superior. “A gente faz isso ofertando o cursinho pré-vestibular para quem não tem condições de pagar um particular, como uma forma de dar algum acesso a essas pessoas para a universidade”.
Segundo Laura, o público é bastante diversificado, abrangendo desde estudantes do ensino médio até aqueles que já saíram da escola há 20 ou 30 anos e decidiram voltar a estudar: “Nós temos de tudo um pouco”. Ela também destaca a diversidade no quadro de educadores: “Tem pessoas com as mais diversas formações, licenciatura, engenharia, bacharelado, relações públicas, de todas as áreas que possam imaginar”.
A educadora também menciona o envolvimento do Práxis com entidades ligadas a movimentos sociais, como a Vila Resistência, assentamento no bairro Pinheiro Machado com viés anarquista, e o Ateliê Griô, um espaço de arte e construção coletiva. Além disso, Laura destaca o Práxis Cultural, realizado em 2024 e aprovado pela Lei Paulo Gustavo, que visa comemorar os 25 anos do coletivo com ações socioculturais em parceria com esses movimentos.
“A concentração social-educacional é extremamente importante, porque é assim que o sujeito toma consciência de si, da sua cidadania, ele toma consciência do espaço que ele pertence e de por que ele pertence. E, ao descobrir isso, ao tomar consciência disso, ele percebe que ele tem que estar dentro das decisões da sociedade, que ele não é só uma pessoa, que ele é o povo, igual Paulo Freire falava. Ele tem que ajudar a decidir, ele tem que ser um sujeito ativo, ser um cidadão pleno. Então a educação é uma forma de conscientizar, de formar sujeitos críticos, o que é extremamente importante e decisivo para que a gente possa criar uma política, criar uma sociedade que seja boa para todos, não só para quem tem muito recurso financeiro” – Laura Kunde.
Pré-Universitário Popular Alternativa
O Pré-Universitário Popular Alternativa (PUPA) é um programa criado em 2000 e, inicialmente, acolhido como projeto de extensão da UFSM. O projeto foi criado por integrantes do movimento estudantil, oriundos do Centro de Ciências Rurais, em resposta ao contexto de elitização do acesso à universidade, com a proliferação de cursinhos pré-vestibulares particulares. Até os dias atuais, o Alternativa atende vestibulandos que não tem condições de pagar um cursinho preparatório e que buscam a aprovação no ENEM e vestibulares, oferecendo educação popular e gratuita.
Giulia Zimmer, graduanda do oitavo semestre de Terapia Ocupacional na UFSM e integrante da coordenação do projeto desde 2022, explica o objetivo do programa: “Contribuir para a democratização do acesso ao ensino superior por meio da educação popular, sendo inclusiva para todas as pessoas, independentemente de quaisquer características sociais”. Para alcançar isso, o programa oferece aulas no período noturno, facilitando o acesso de pessoas vindas de diferentes regiões da cidade.
Um dos critérios de seleção para ingresso no Alternativa é a renda. Giulia, assim como Laura, também define o público do programa como bastante diverso, incluindo não só pessoas em vulnerabilidade socioeconômica, mas também minorias sociais, como membros da comunidade LGBTQIA+, pessoas com deficiência e idosos, entre outros. “Atualmente, temos um corpo discente com bastante diversidade e prezamos que seja um espaço confortável e seguro para todes”.
Com exceção dos coordenadores, o quadro de educadores do Alternativa é composto apenas por docentes voluntários. Giulia enfatiza a importância do voluntariado para o programa: “Sem eles, o PUPA não teria como existir”. Ela explica ainda o objetivo do projeto com os docentes voluntários: “Buscamos capacitar educadores que desenvolvam o pensamento crítico sobre a educação brasileira, explorando as possibilidades do ensino-aprendizagem popular por meio de uma metodologia dialógica que vai contra o que conhecemos do ensino tradicional”.
Além das disciplinas tradicionais dos vestibulares, o programa inclui disciplinas extracurriculares para promover debates que atravessam os conteúdos mais tradicionais do ENEM e vestibulares, preparando os alunos para a vida acadêmica com espaços de acolhimento e dinâmicas de ensino voltadas ao diálogo. O programa também conta com equipes de educação especial e multidisciplinar.
Impacto na sociedade
O Práxis acredita que a educação pública de qualidade impacta positivamente a sociedade, pois, dessa forma, a mobilização social se torna efetiva. Como educadora, Laura dá ênfase ao objetivo principal do projeto: “Nós não servimos para fazer caridade, servimos para conscientizar politicamente as pessoas e facilitar o acesso à universidade”.
De acordo com Giulia, o Alternativa acredita que a educação pública atua como um agente de transformação social: “Acreditamos que garantir que esses espaços sejam ocupados por pessoas da periferia, pessoas trans, racializadas, trabalhadores e trabalhadoras, é o caminho para pensar não só em uma mudança da realidade socioeconômica, mas também de autoestima e valorização dessa população”.
Quando perguntadas sobre a importância de manter um polo de extensão como sede dos cursinhos no Centro de Santa Maria, ambas destacam a acessibilidade: “Estar no centro é uma forma de aproximar, querendo ou não, porque é uma possibilidade maior de pegar um ônibus, estar mais perto desses alunos”, comenta Laura. Além disso, a falta de recursos para mobilidade ainda é um obstáculo: “E um dos motivos é a falta de recurso para as passagens, pois ainda não possuímos esse tipo de recurso institucionalizado para oferecer aos nossos educandos, então acabamos resolvendo isso internamente por meio de doações realizadas pelos próprios educadores”, acrescenta Giulia.
Texto: Thomas, Subdivisão de Ações Comunitárias da CODERC/PRE
Edição: Micael dos Santos Olegário, Subdivisão de Divulgação e Editoração (PRE/UFSM)
Revisão: Valéria Luzardo, Subdivisão de Divulgação e Editoração (PRE/UFSM)