Coordenado pela professora Vanessa Barbisan Fortes, a ideia do Projeto Sentinela surgiu entre os anos de 2008 e 2009, quando um surto de febre amarela assolou o Rio Grande do Sul, o que causou uma perseguição aos bugios, que também são vítimas da doença. Devido à desinformação, muitas pessoas caçam esses animais acreditando que eles são transmissores do vírus e, com o objetivo de levar informações corretas para as pessoas, o projeto foi desenvolvido.
A ação se compromete em disseminar conhecimento sobre a importância de preservar a natureza, habitat natural dos macacos e de tantas outras espécies. Para isso, são realizadas palestras, oficinas e jogos em escolas para estudantes do Ensino Fundamental e Médio. Contudo, o projeto vai além dos muros escolares, atendendo as demandas que aparecem pelo caminho. Vanessa menciona que, durante o período de enchentes que atingiram o Estado, o Sentinela desempenhou um papel de avaliar o impacto dos alagamentos na região da Quarta Colônia para os bugios, que atualmente sofrem com a ameaça de extinção. Esse convite partiu do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, o ICMBIO. “Durante todo o mês de agosto, até o início de setembro estivemos em campo, percorrendo as áreas que foram inundadas em toda a várzea de Agudo, nas matas que foram inundadas para dar um parecer sobre os bugios que ficaram ainda mais ameaçados. Vimos áreas onde as árvores foram todas derrubadas, e a mata ciliar, que é uma estrutura importante para conter enchentes futuras, e isso é muito prejudicial para os macacos também”.
Como forma de atenuar esses impactos percebidos, a iniciativa pretende realizar oficinas para recuperação da microbiologia do solo, perdida com as fortes chuvas. Nessas práticas, a comunidade poderá realizar o plantio de mudas e sementes para adquirir práticas que auxiliem na preservação ambiental.
Além disso, serão implementadas trilhas turísticas na cidade de Silveira Martins, com o intuito de instruir os turistas a respeito da preservação dos animais, enquanto ocorre a observação dos macacos que vivem na mata. As trilhas devem ser realizadas na propriedade Quinta Marco 50, ainda neste semestre.
Desafios na proteção dos primatas
A coordenadora do projeto conta que um dos principais empecilhos enfrentados na conservação dos primatas é a fragmentação do habitat, ou seja, a diminuição do espaço natural desses bichos:
“Os bugios são animais arborícolas e estão tendo que se deslocar pelo chão em alguns lugares porque as matas estão isoladas e isso causa uma maior exposição a atropelamentos e ataques de cães. Então, eles estão tendo que se deslocar pelos fios elétricos, o que gera muita eletrocussão.”
Vanessa comenta que, para evitar esses casos de electrocussão, o Sentinela realiza oficinas de confecção de pontes de corda (passagens aéreas) para bugios: Nós promovemos oficinas, ensinamos os estudantes da área da biologia sobre toda essa problemática do risco que os bugios correm e fizemos a instalação das pontes em um parque municipal em Santa Maria. Neste ano, pretendemos produzir essas passagens para instalar em propriedades nas regiões afetadas pelas enchentes, pois pudemos ver, durante as nossas visitas, os animais tendo que caminhar no chão subir abraçados em coqueiros porque não têm como pular, então ficou bem ruim para eles.”
O Projeto Sentinela também realiza um importante trabalho de resgate e acompanhamento de bugios machucados. Após esse processo, os macacos são soltos em seu habitat natural.
É possível acompanhar as ações desenvolvidas pela iniciativa através do Instagram @projeto.sentinela_ufsm e pelo Facebook Projeto Sentinela.
Texto: Myreya Antunes, da Subdivisão de Divulgação e Eventos da PRE
Revisão: Catharina Viegas de Carvalho, da Subdivisão de Divulgação e Eventos da PRE.
Imagens: Acervo do Projeto Sentinela