Construir e fortalecer laços de apoio psicossocial em escolas da região do Morro Cechella (RS). Este foi um dos objetivos do projeto “Tecendo redes de resiliência, afetos e pertencimento” desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A iniciativa integra a lista de ações em apoio às comunidades atingidas pelo desastre climático no Rio Grande do Sul, por meio da chamada “Reconstrução RS” e do programa UFSM Solidária e Cidadã.
“Um desastre, uma emergência, demanda principalmente ações que sejam coletivas”, destaca Jana Gonçalves Zappe, professora do Departamento de Psicologia da UFSM e coordenadora do projeto. Segundo ela, o projeto surgiu de diálogos com a Promotoria Regional da Educação e com as próprias escolas estaduais Walter Jobim, Padre Rômulo Zanchi e Dr. Antônio Xavier da Rocha, onde as ações foram desenvolvidas.
As atividades envolveram estudantes de graduação e pós-graduação da área de Psicologia que fizeram acompanhamentos e atividades de suporte emocional para crianças, adolescentes, servidores e professores. Conforme explica a professora Jana, as escolas se tornam espaços de apoio para toda a comunidade, afetada por desabamentos, desalojamentos e mortes decorrentes do desastre climático.
As ações do projeto seguiram os protocolos de intervenção para situações de desastres e outras metodologias da Rede de Estudos e Pesquisas sobre Desenvolvimento na Infância, Adolescência e Juventude (Redijuv). A intenção, acrescenta a professora da UFSM, é dar continuidade às atividades com a realização de ações direcionadas, como a elaboração de um programa para crianças afetadas por situações de desastres.
De acordo com Jana Zappe, a participação ativa das escolas foi um dos fatores diferenciais que permitiu a realização da extensão. “Apesar desse pedido de ajuda em termos de saúde mental ter partido das escolas – que talvez identificassem em si mesmas alguma fragilidade – nós chegamos nas escolas e as sentimos muito fortes. Deste ponto de vista, elas foram um ponto de apoio muito importante para a comunidade: não só para os estudantes, mas para as famílias dos estudantes e até para egressos das escolas”, descreve a docente.
A percepção das escolas
Na escola estadual Dr. Antônio Xavier da Rocha, o trabalho de escuta de estudantes, servidores e professores durou cerca de dois meses. “Eles (estudantes) tinham uma necessidade de falar”, conta o diretor Cícero Alves sobre a retomada das atividades escolares após os deslizamentos que afetaram a comunidade. Segundo ele, o atendimento do grupo coordenado pela professora Jana serviu para atender essa demanda e a expectativa é que o projeto tenha continuidade na instituição em setembro.
Orientadora educacional na escola estadual Dr. Walter Jobim, Luana Rosalie Stahl explica que o projeto começou a ser desenvolvido em um momento que a escola vivia o trauma da perda de uma estudante e de sua mãe, devido aos eventos climáticos. “O projeto acontece na escola servindo de apoio à saúde mental na comunidade escolar. São realizadas atividades com temas que ampliam o olhar dos estudantes sobre si e o outro”, acrescenta Luana.
“O projeto Tecendo redes de resiliência chegou em nossa escola na hora mais do que certa”, afirma Jeronimo Kunz Lauer, diretor do colégio estadual padre Rômulo Zanchi. Ele descreve que alguns alunos desenvolveram preocupações e medo relacionados às chuvas e enchentes, por isso, o projeto foi recebido como uma oportunidade de apoio psicológico. Jeronimo também agradeceu aos profissionais e manifestou o desejo pela continuidade das atividades.
Promotora de Justiça da Promotoria Regional de Educação de Santa Maria, do Ministério Público, Rosangela Corrêa da Rosa enaltece o apoio do Grupo de Estudos do Programa de Pós Graduação da Psicologia da UFSM, com a aplicação do Projeto “Tecendo redes de resiliência, afetos e pertencimento”. De acordo com ela, a iniciativa atendeu ao chamado da Promotoria de Justiça em resposta às necessidades apontadas pelas escolas em momento de escuta pós-calamidade.
Voluntários tiveram oportunidade de contato com a prática
Doutorando em Psicologia na UFSM, Lenon Vargas conta os aprendizados e o caráter de desenvolvimento prático, associado ao conhecimento teórico que as ações da extensão proporcionaram. “A oferta de suporte emocional aos alunos tem sido bastante significativa e materializado o compromisso da extensão universitária com as demandas da comunidade local”, ressalta, ao pontuar a importância de espaços de diálogo e circulação de vivências em momentos de pós-desastre.
Também extensionista do “Tecendo redes de resiliência, afetos e pertencimento” e graduanda de Psicologia, Isabelle Vargas Martins menciona o empenho das escolas durante a realização das ações. “Nosso trabalho também tem sido buscar fortalecer as redes da comunidade escolar para que eles possam se reconhecer enquanto uma referência de cuidado”, complementa a estudante da UFSM.
Saiba mais sobre a chamada humanitária “Reconstrução RS”
Texto: Micael dos Santos Olegário, Subdivisão de Divulgação e Eventos da PRE