Ao longo da história, pessoas transgênero têm enfrentado exclusão, preconceito e diversas formas de violência, incluindo condições de trabalho desumanas e agressões que reduzem significativamente sua expectativa de vida, estimada em cerca de 35 anos. Além disso, até 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificava a transsexualidade como um transtorno mental, uma definição que deslegitimava a identidade trans e reforçava o estigma ao tratá-las como doentes.
Símbolo de força e resistência

Segundo dados de uma pesquisa elaborada pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Ainda assim, a comunidade segue resistindo e lutando pela garantia de seus direitos. Nesse contexto, surgiu o projeto “Transver: Ações performáticas junto da comunidade transgênero de Santa Maria”, contemplado pelo edital do Fundo de Incentivo à Extensão (FIEX) em 2024. A iniciativa busca viabilizar a participação de pessoas transgênero em ambientes ligados à arte, fortalecendo suas identidades.
O projeto nasceu a partir de uma demanda do Ambulatório Transcender, coletivo da Secretaria de Saúde de Santa Maria que acolhe pessoas LGBTQIAP+, oferecendo apoio à saúde mental e física. Com isso, a iniciativa participou dos editais FIEX e ODH, vinculados à Casa Verônica, e iniciou suas atividades em abril de 2024 com encontros na Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (CACISM) e no Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NEPes).
Arte é sobre ocupar espaços
O projeto Transver realiza oficinas fundamentadas na metodologia do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal. São desenvolvidos jogos teatrais, improvisações e atividades de consciência corporal, visando ao fortalecimento da identidade de gênero dos participantes. “É uma comunidade que quase não tem espaço de expressão e a nossa intenção é viabilizar um local para que essas pessoas se conheçam e fortaleçam suas identidades”, comenta o coordenador Daniel.
A ação pretende desenvolver um espetáculo teatral a ser encenado pelos participantes e apresentado na UFSM e em casas culturais de Santa Maria. Ademais, será realizado um processo seletivo para contemplar, além dos membros do ambulatório, estudantes trans do Centro de Artes e Letras (CAL) da UFSM.

Apesar dos avanços, a população transgênero ainda sofre com a marginalização. O preconceito se manifesta de diferentes formas, desde a recusa em usar os pronomes corretos até agressões físicas. Esse cenário dificulta o alcance do público-alvo do projeto, pois muitas pessoas trans se veem impedidas de se expor e ser quem verdadeiramente são. Diante desse desafio, o professor Daniel destaca o trabalho realizado pela Casa Verônica e pelo Observatório de Direitos Humanos (ODH) dentro da UFSM. “É muito importante ter esses órgãos voltados para as populações marginalizadas, porque é assim que a Universidade cumpre com a sua função de transformação social. A humanidade não sobrevive sem sentido, e a arte e os direitos humanos dão sentido à vida”, enfatiza o coordenador.
Para saber mais sobre o projeto, acompanhe o Instagram @grupotradere.
Texto: Myreya Antunes, bolsista de jornalismo da Subdivisão de Divulgação e Editoração da Pró-Reitoria de Extensão (SDE/PRE).
Revisão: Valéria Luzardo, da Subdivisão de Divulgação e Editoração da Pró-Reitoria de Extensão (SDE/PRE).