
As câmeras do Museu Gama d’Eça captaram estranhas atividades em seu interior na noite desta quarta-feira (5). Quem passou pela Rua do Acampamento não sabia que lá dentro ocorria a primeira edição do evento “Uma Noite No Museu”. Ao contrário do filme homônimo, não foram as peças do acervo que deram vida ao Gama d’Eça quando as portas se fecharam, mas sim um grupo de 15 visitantes que procuravam uma misteriosa peça a partir de pistas espalhadas no prédio histórico que estava com as luzes apagadas.
Pequenas dicas espalhadas pelo museu foram utilizadas pelos visitantes como um mapa na “caça ao tesouro”. Quanto mais perto de descobrir qual era a peça misteriosa, mais se conhecia sobre seu acervo em diferentes áreas como arqueologia, paleontologia, zoologia, numismática e geologia. Em alguns momentos, a investigação foi deixada de lado para dar espaço a apreciação do acervo, descoberto aos poucos com o auxílio das lanternas.
Com o interior do museu todo vasculhado, chegou o momento de investigar o anexo externo do Gama d’Eça pois, como dizia uma das pistas, “o objeto era grande demais para ficar dentro do museu”. Ao chegar no local, o grupo encontrou a peça misteriosa: uma carruagem que pertenceu a Manoel Marques de Souza, o Conde de Porto Alegre. Marques de Souza é bisavô de José Mariano da Rocha Filho, idealizador e primeiro reitor da UFSM. O veículo foi adquirido em Paris entre os anos de 1836 e 1837.
A carruagem foi utilizada como meio de transporte e escritório de reuniões pelo militar em campanhas como a Guerra dos Farrapos (1835-1845), onde lutou pelo exército imperial; Guerra do Prata (1851-1852) e Guerra do Paraguai (1864-1870). Após sua participação neste último conflito, Marques de Sousa recebeu o título de conde. O veículo também foi utilizado em sua carreira política, onde se destacou pela luta abolicionista pela criação e liderança de uma associação civil que comprava a liberdade de crianças escravizadas.

Equipe do museu planeja novas edições abertas ao público
A dinâmica interativa e desafiadora da atividade surpreendeu a estudante de Estatística, Maria Castro. “A experiência não só aumentou o meu interesse pela história e pela cultura, como me fez ter um olhar diferente pela maneira como a atividade foi realizada e pela diversidade do acervo”, conta a universitária que, apesar do pequeno desconforto causado pelo encontro com os animais empalhados no escuro, pretende visitar o museu novamente.
Isabela Morais, estudante de Paisagismo, visitou o museu pela primeira vez e se surpreendeu com os caminhos percorridos e histórias carregadas pela carruagem com quase dois séculos de existência. “Não imaginava que ela tivesse passado por tantas coisas. Além de ter sido um meio de transporte familiar, também passou por guerras e provavelmente levou pessoas feridas. Achei muito valiosa essa experiência”, conta. Também chamaram a atenção de Isabela as moedas e cédulas antigas na seção de Numismática e os utensílios utilizados na culinária indígena na seção de Arqueologia do Gama d’Eça.
O Setor de Apoio Integral ao Estudante (Satie), lidago à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), em parceria com a equipe do museu promoveu o evento para moradores da Casa do Estudante II que, em sua maioria, visitaram o espaço museal pela primeira vez, assim como Maria e Isabela. Ao todo, foram recebidas aproximadamente 100 inscrições para a atividade, tanto do público acadêmico, quanto do público externo. O diretor do museu, Bernardo Duque de Paula afirma que o objetivo é realizar novas edições do evento voltadas para a comunidade externa e também para o público infantil.

Texto: Bernardo Silva, estudante de Jornalismo e bolsista da Agência de Notícias
Edição: Maurício Dias