Como imaginar outros futuros diante da crise climática e seus impactos na saúde e nas vidas das pessoas? E como trabalhar o tema com as novas gerações? Este mês de setembro já está marcado pela fumaça e cinzas das florestas e vegetações nativas queimadas, com impactos no Rio Grande do Sul e na região de Santa Maria. Em meio a esse contexto, um projeto de extensão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) procura ampliar a valorização do meio ambiente em escolas do Território Imembuy.
A iniciativa é inspirada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), principalmente o 15° objetivo – proteger a vida terrestre. Porém, mais do que apenas cumprir uma agenda de sustentabilidade, o projeto tem como foco sensibilizar crianças, jovens e professores sobre a importância de se reconectar com a fauna, a flora e as paisagens ao redor.
“O diferencial é essa questão que trabalhamos bastante o pertencimento à natureza através do estímulo dos sentidos”, descreve Stefania Gorski, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências (PPgECi) e uma das participantes das ações de extensão.
Com o nome de “Valorização ambiental e social por um viés educativo sensorial”, o projeto é coordenado pela professora do Centro de Educação da UFSM, Cadidja Coutinho, em conjunto com uma equipe de mulheres pesquisadoras. Fazem parte desse time estudantes de graduação, pós-graduação e docentes do Grupo de Pesquisa Ciênciaemflor (CNPq/UFSM).
Inicialmente planejadas para escolas de Santa Maria e Silveira Martins (RS), as ações já atingiram cerca de dez instituições, incluindo outras cidades da Quarta Colônia e o município de Sinimbu, em ação da chamada humanitária “Reconstrução RS”.
Além da mestranda Stefania Gorski, participaram do projeto Melina Hickmann e Fernanda Tarouco Gonçalves, também discentes do PPgECi; Eduarda Rosa Silveira e Rebeca Costa Adolpho Silva, graduanda em Ciências Biológicas; e Alana da Cruz Bueno, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE).
O impacto do projeto e a perspectiva das escolas
Entre as estratégias adotadas nas atividades realizadas nas escolas, esteve a visão da comunidade local e regional acerca do Parque Natural Municipal dos Morros (PNMM), uma unidade de conservação que apresenta uma paisagem única ao unir características dos biomas Mata Atlântica e Pampa na região de Santa Maria.
Coordenadora pedagógica da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Vicente Farencena, Vera Lúcia Alves da Silva, aponta que a atividade proporcionou uma oportunidade de conhecer melhor detalhes sobre a riqueza natural do município de Santa Maria, em especial do PNMM.
“O ambiente delicadamente preparado, os materiais e as dinâmicas proporcionaram um momento singular de diálogo, compartilhamento de memórias afetivas e de experiências sobre as questões ambientais”, conta a coordenadora da escola que fica no bairro Camobi.
A opinião é compartilhada pelo professor, Rodrigo Moro Savegnago. Segundo ele, a atividade permitiu um momento de pausa e reflexão em meio ao cotidiano atribulado enfrentado pelos professores. “Foi um momento de parada para fazermos uma reflexão, para olharmos para nós mesmos e para o nosso entorno e perceber o quão lindo, o quão espetacular este entorno é”, acrescenta Rodrigo que atua como coordenador pedagógico na Escola Estadual de Educação Básica Bom Conselho, em Silveira Martins.
Potencial e inovação
Na entrevista para a Pró-Reitoria de Extensão (PRE), na sala do Ciênciaemflor, Stefania Gorski traça uma linha do tempo e cita as pontes acadêmicas que levaram à sua participação no projeto. “Contribui muito para a nossa formação, enquanto estudante de pós-graduação e de graduação”, afirma. Além das ações nas comunidades, a iniciativa também resultou em publicações científicas, consolidando o tripé da extensão com o ensino e a pesquisa.
Em relação à origem do projeto, Stefania Gorski explica que surgiu justamente como uma alternativa para colocar em prática debates sobre outras formas de promover a educação ambiental nas escolas, com um viés sensorial. “Trabalhamos o uso dos sentidos mesmo, de perceber a natureza através do olfato, da audição, da visão, do tato. Essa sensação de estar presente no momento”, destaca a mestranda.
Durante as atividades, os participantes são estimulados a descrever a experiência de estar no ambiente natural. Depois, grupos são formados para produção de audiovisuais que têm os estudantes como protagonistas. Foi esse elo com a valorização ambiental que permitiu que o projeto fosse adicionado nas ações do “Reconstrução RS”, com objetivo de ajudar na recuperação de comunidades atingidas pelo desastre de abril e maio no estado.
Estratégia para estimular consciência sobre as mudanças climáticas
Na visão da professora Cadidja Coutinho, esse tipo de metodologia ajuda a fugir de um “lugar comum” e de um reducionismo que afeta o tratamento do tema ambiental em salas de aula. Como exemplo, ela menciona as datas comemorativas como um dos poucos momentos em que a natureza é pensada nas escolas.
“Nosso principal objetivo é fugir de um entendimento, às vezes, muito raso sobre a questão ambiental. Temos discutido muito nesse sentido, principalmente quando se fala de educação ambiental e escola, que é o nosso principal foco, se pontua datas comemorativas e muitas vezes a discussão não se amplia para além disso”, explica a coordenadora do Ciênciaemflor.
A abordagem não poderia estar mais contextualizada, uma vez que, no momento da entrevista, os céus de Santa Maria estavam cobertos por fumaça – uma consequência visível da ação de degradação humana sobre a natureza. “O nosso propósito é que sejam feitas essas atividades (em datas comemorativas), mas que não se estanque nisso, que exista uma abertura para discutir qual é o todo da questão ambiental que a gente precisa entender”, complementa a docente da UFSM.
Portanto, a palavra-chave para a iniciativa é o que Cadidja Coutinho descreve como letramento ambiental. De acordo com ela, isso implica em “conhecer os conceitos (ambientais e da crise climática) e conseguir aplicar no dia a dia”. A intenção, acrescenta a pesquisadora, é inspirar e colaborar com o trabalho dos professores da educação básica.
Espaço Pertencer
Recentemente, o projeto ganhou uma sala própria no Espaço Multidisciplinar de Pesquisa e Extensão da UFSM em Silveira Martins. Batizado de Espaço Pertencer, o local vai servir para o desenvolvimento de atividades de educação ambiental, pertencimento e valorização da biodiversidade com outros públicos.
Conforme explica Cadidja, a proposta é fazer com que o espaço seja um ponto de referência para o trabalho com a temática. Além disso, as visitas em escolas continuarão sendo feitas, principalmente, para alcançar estudantes e professores que não possuem condições de visitar a sala.
Texto: Micael dos Santos Olegário, Subdivisão de Divulgação e Eventos da PRE.
Revisão: Melissa de Barros Martini, Subdivisão de Divulgação e Eventos da PRE.