“É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar – porque tem gente que tem esperança do verbo esperar, e esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir” (Paulo Freire)
Identificar as necessidades da sociedade é uma das condutas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) para a elaboração de iniciativas que contribuam com o desenvolvimento humano. Atendendo demandas da comunidade santa-mariense, dez propostas estão em atuação no Espaço de Ações Comunitárias e Empreendedoras (Antiga Reitoria), localizado no centro da cidade. Em meio aos diversos públicos atendidos no prédio, estão os jovens do acolhimento institucional de Santa Maria (RS), que há três anos são o foco do Projeto de Extensão Esperançando.
O Rio Grande do Sul é o segundo estado com maior número de crianças e adolescentes atendidos por serviços de acolhimento no país, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). As estatísticas abrangem jovens em situação de vulnerabilidade que aguardam o retorno à família de origem ou a adoção. Entre os quase 3.600 que vivenciam o acolhimento familiar e institucional no estado, mais de 1.200 ultrapassam os 14 anos de idade e progressivamente se aproximam da maioridade civil, quando se encerra o tempo de permanência nas unidades.
Considerando esse cenário, três servidoras da UFSM e integrantes do Grupo de Apoio e Incentivo à Adoção de Santa Maria (GAIA-SM) perceberam a necessidade de construir uma rede em suporte aos adolescentes que estão tendo que deixar os serviços de acolhimento do município. Alice Lameira Farias, coordenadora da iniciativa, relata: “Aos 18 anos, os jovens precisam sair das instituições independentemente de terem um lugar para ir ou não; de estarem empregados ou não. Pensando nisso, nos unimos na idealização de uma proposta voltada a eles”. O Esperançando auxilia na transição para a vida pós-acolhimento.
O projeto, vinculado ao Fundo de Incentivo à Extensão (FIEX) e ao Observatório de Direitos Humanos (ODH) da UFSM, funciona na sala 503 do edifício da Antiga Reitoria. Nas tardes de segunda, terça, quinta e sexta-feira, o ambiente está disponível para atendimento geral, enquanto aos sábados recebe o grupo. “Os planejamentos, as atividades e os movimentos possibilitados pela sala são muito importantes, assim como saber que temos um espaço e que podemos contar com ele. É um lugar de pertencimento”, expressa Alice.
Desde 2019, quando surgiu, o Esperançando atendeu 50 pessoas. Atualmente, mantém 15 membros. O público compreende adolescentes de 14 a 18 anos que residem nas instituições de acolhimento de Santa Maria – Lar de Mírian e Mãe Celita e Aldeias Infantis SOS Brasil. Também são atendidos jovens de 19 e 20 anos que já deixaram o serviço e optam por manter contato com o projeto.
As assistências são realizadas por uma equipe de 27 integrantes, incluindo oito servidoras da UFSM, oito profissionais liberais e 11 estudantes universitários de diversos cursos – Serviço Social, Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Produção Editorial, Letras, História, Ciências Sociais, Psicologia, Pedagogia e Terapia Ocupacional. Além desse suporte, há o apoio de uma rede de parcerias e o auxílio da comunidade com doações eventuais de livros, mobílias, roupas e celulares.
A ação tem como foco atender quatro eixos: educação, renda, moradia e cidadania. Para isso, a equipe organiza-se em cinco frentes de trabalho. A Frente de Ações Educacionais é coordenada pela professora Jane Schumacher e promove aulas de reforço e atividades lúdicas de ensino. A Frente de Mercado de Trabalho, coordenada pela professora Luciana Traverso, proporciona a preparação para a atuação profissional e a busca por oportunidades como jovem aprendiz aos adolescentes entre 14 e 16 anos; como estagiário a partir dos 16; e como trabalhador formal acima dos 18. A Frente de Cidadania e Assistência Social, coordenada por Ailyn Bueno, une a luta por moradia à busca por atividades culturais. Além dessas, há também a Frente de Comunicação, coordenada pela professora Cristina Gomes; e a Frente do Plano de Acompanhamento Individual, coordenada pela psicóloga Karine Pacheco.
Através de atividades como essas, a iniciativa busca, além de amparar, reforçar o senso de independência. “O objetivo maior do projeto é que os jovens sejam protagonistas das histórias deles”, expressa a coordenadora. Ela explica que o primeiro gesto que refletiu essa intenção foi propor que o projeto fosse nomeado por eles, logo no início: “No começo ele tinha outro nome, que era ‘Construindo um novo fim – uma proposta para adolescentes que estão saindo do Acolhimento Institucional em razão da maioridade’. Com as sugestões dos adolescentes, surgiu o Esperançando, que tem tudo a ver com o projeto”.
Para o futuro, Alice aponta que o plano, a curto prazo, é expandir ainda mais as atividades. “Nos próximos meses, estaremos montando um brechó do Esperançando. Também haverá venda de doces e bolos feitos pelos jovens que já realizaram o curso de confeitaria. Vamos trabalhar o empreendedorismo com os adolescentes”, conta Alice. A longo prazo, há a ideia de manter o apoio extensionista, mas criar uma Organização Não Governamental (ONG) equivalente à proposta, a fim de aumentar a captação de recursos e, assim, ampliar as contribuições.
O contato com o Esperançando pode ser realizado presencialmente, no espaço na Antiga Reitoria, ou de forma digital, através do Facebook e Instagram.
Texto e Fotos: Anna Júlia da Silva | Pró-Reitoria de Extensão UFSM
Revisão: Camila Steinhorst | Pró-Reitoria de Extensão UFSM