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“A gente precisa da visibilidade para ter reconhecimento”



Às 14 horas do último domingo, 7, a equipe Americana sagrou-se campeã da Copa do Mundo de Futebol Feminino. O time da Holanda ficou em segundo lugar.

Esta Copa do Mundo foi atípica, especialmente para o Brasil, afinal, foi a primeira vez que o futebol feminino passou a ganhar visibilidade e lugar de destaque nos principais noticiários do país. Além disso, os jogos da Seleção Brasileira que, infelizmente, caiu nas oitavas de final para a França, foram transmitidos pela Rede Globo, Band e SporTV. Uma quebra de paradigmas que deu destaque às mulheres e também ao futebol e, demonstrou que lugar de mulher é onde elas quiserem. E que desempenham com maestria qualquer função.

Para a árbitra assistente de futebol da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Maira Mastella, a participação da equipe feminina foi muito positiva. “Acho que o Brasil avançou muito em relação ao preconceito e quanto à seleção porque o futebol feminino está sendo mais estimulado. Então, na medida do possível, a equipe foi muito bem e passou essa paixão para os brasileiros. Vi muita gente tendo uma mudança de ótica em relação à seleção brasileira. Uma conhecida inclusive colocou a filha para jogar futsal em função da Copa do Mundo”, comenta.

No entanto, embora inúmeros canais de televisão tenham dado grande visibilidade à copa, despertado a curiosidade da sociedade e quebrado alguns tabus em relação ao futebol feminino, o tratamento dado em relação à seleção masculina ainda é bastante diferente. “A mídia começa a dar mais valor, mas ainda há um longo caminho a prosseguir pois ainda, culturalmente falando, o futebol masculino é mais midiático, principalmente comercialmente. E sabemos que a mídia televisiva é comercial, com mais patrocínios”, explica a jornalista esportiva Maria Angélica Varaschini.

Já para a árbitra da CBF e FGF, a falta de visibilidade predomina principalmente nos telejornais. “Eles iniciam, dão uma pincelada sobre a seleção feminina, porém já voltam a falar da masculina, ainda mais que estamos na época da Copa América. Teve um dia que era jogo da seleção brasileira à tarde, e eu fiquei a manhã toda assistindo ao SporTV e, por uma hora inteira, em nenhum momento citaram o jogo. Mas, se fosse a masculina a jogar às 15h, eles estariam falando a manhã inteira”.

 

Em busca de visibilidade

Em 1941, o então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, assinou um decreto que proibia às mulheres a prática de esportes como o futebol. “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”.

Um longo caminho foi percorrido até chegarmos a 2019, ano em que o futebol feminino, representado na figura da seleção feminina, começou, portanto, a ganhar as telas de TV, páginas de jornais e sites, e, é claro, o coração dos brasileiros. A jornada da Seleção Brasileira Feminina de Futebol nesta Copa do Mundo pode ser vista como um divisor de águas, afinal, marca o momento em que milhões de brasileiros pararam para assistir às partidas protagonizadas por mulheres e reconheceram o trabalho desempenhado por elas.

Porém, ainda falta muito para que as barreiras entre homens e mulheres deixem de existir e que, assim, todos sejam tratados como iguais. Para a jornalista esportiva, “ainda ganhamos menos em muitos empregos. A Marta é um exemplo disso, eleita seis vezes melhor jogadora do mundo e o salário é praticamente o mesmo que um jogador ganha para jogar um campeonato brasileiro. Então, ainda há sim muita diferença nisso. Mas, acredito que isso vem mudando, a passos lentos e graduais, mas vem acontecendo. O que não podemos é nos intimidar, isso jamais”.

Maira Mastella também vê um longo caminho pela frente, que se iniciou quando as mulheres foram à luta em busca de uma colocação no mercado de trabalho. “Vejo passos de formiguinha, as coisas não vão mudar do dia pra noite. E não é o que precisa ser feito, a gente precisa seguir trabalhando e de apoio. A gente precisa da visibilidade para ter reconhecimento”

Esse apoio pode ser exemplificado na Copa Libertadores da América e no Campeonato Brasileiro, os quais exigem que os clubes participantes tenham também uma equipe feminina. É um estimulo e que abre as fronteiras de um universo ainda amplamente masculinizado. “As equipes estão apoiando e, mesmo que obrigadas, vão ter que apoiar, porque se não, não poderão participar do campeonato”, frisa a árbitra.

Quarenta anos depois, as mulheres finalmente puderam mostrar seu futebol para todo o país. E, a partir de agora, esperamos que, não só no mundo esportivo, mas em todas as esferas da sociedade, as mulheres sejam reconhecidas e que tenham seus salários equiparados aos homens. Que sejam valorizadas. 

UFSM e o futebol feminino

É comum durante as competições masculinas que o comércio feche as portas, as escolas dispensem os alunos e os serviços sejam paralisados durante os jogos. O prestígio da seleção feminina, no entanto, não é o mesmo e a mobilização é praticamente inexistente.

Pensando nisso, neste ano, o Observatório de Direitos Humanos, vinculado à Pró-Reitoria de Extensão da UFSM, exibiu duas das quatro partidas disputadas pela seleção feminina brasileira. Após os jogos, aconteceram debates que buscaram problematizar a situação da mulher no mundo esportivo, ainda fortemente marcado pelo machismo. De acordo com  Victor de Carli Lopes, coordenador do ODH, a atividade tem um valor simbólico muito grande e busca valorizar a participação das mulheres em um espaço ainda fortemente masculino.

 

Texto: Andréa Ortis/ Bolsista NDI PRE

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