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A Teoria da Internet Morta: Estamos Cercados por Bots?



Nos últimos anos, a chamada “Dead Internet Theory” (Teoria da Internet Morta) ganhou espaço em debates online: segundo a teoria, a internet passou a ser dominada por “bots” (robôs que curtem, comentam, compartilham e extraem informações cibernéticas) e conteúdos gerados automaticamente, reduzindo significativamente as interações humanas genuínas. A ideia sugere que algoritmos de bots e a Inteligência Artificial controlam grande parte do que consumimos, manipulando opiniões e comportamentos (O’NEIL, 2016; PARANHOS, 2022).

 

A origem da teoria

Embora o conceito da “Internet Morta” tenha se popularizado em fóruns e redes sociais nos últimos anos, seu surgimento exato é difícil de determinar. Em 2021, um usuário anônimo chamado “IlluminatiPirate” publicou um post no fórum Agora Road’s Macintosh Cafe intitulado Dead Internet Theory: Most of The Internet Is Fake. Em seu post, Illuminati relata que estava expandindo discussões anteriores vindas de “imageboards” como Wizardchan. A partir daí, a teoria se espalhou e ganhou notoriedade, sendo amplamente discutida em canais do YouTube, fóruns e outras mídias.

Um dos marcos na disseminação dessa ideia foi um artigo publicado na revista The Atlantic, intitulado Maybe You Missed It, but the Internet ‘Died’ Five Years Ago. Esse artigo ajudou a consolidar o tema e ampliou seu alcance para além dos círculos de conspiração, levando mais pessoas a questionarem a autenticidade do conteúdo online.

 

Como a internet está morrendo?

Os defensores da Teoria da Internet Morta argumentam que, desde 2016 ou 2017, grande parte do tráfego na internet vem de bots, e não de humanos reais. Segundo essa visão, há um esforço coordenado para substituir interações autênticas por conteúdos automatizados, manipulando o que as pessoas veem e acreditam. Para eles, esses bots foram intencionalmente criados para favorecer algoritmos de recomendação, impulsionar resultados de busca e influenciar o comportamento dos usuários (ZUBOFF, 2019).

A presença de bots na internet é um fenômeno já sendo documentado e em constante crescimento. Em plataformas como o X (antigo Twitter), Facebook e Instagram, bots são amplamente utilizados para impulsionar engajamento, influenciar discussões políticas e até manipular mercados financeiros. Segundo um relatório da Statista (2024), aproximadamente 47% do tráfego da internet é gerado por bots, sendo que cerca de 30% desse tráfego é composto por bots maliciosos, responsáveis por disseminar fake news, golpes e manipulação de tendências. A questão torna-se ainda mais grave quando se observa que, para muitos usuários, esses bots são praticamente indistinguíveis de perfis reais, tornando a percepção do ambiente digital ainda mais turva. Isso cria um efeito de bolha, onde informações e discursos são artificialmente ampliados, moldando opiniões e decisões de milhões de usuários ao redor do mundo (FAUSTINO; LIPPOLD, 2023).

A rede social Facebook tem sido uma das maiores vítimas desse fenômeno, dando origem ao termo “AI Slop”, quando os usuários da plataforma perceberam a crescente proliferação de conteúdos gerados por Inteligência Artificial, publicados e impulsionados pelo uso de bots. Esses posts frequentemente apresentavam imagens de cunho religioso, especialmente a imagem de Jesus Cristo. Em determinado momento, surgiu uma onda de imagens conhecidas pelos usuários como “Crab Jesus”, nas quais uma parte significativa das fotos geradas mostrava Jesus Cristo mesclado com a figura de um caranguejo ou camarão.

 

Mas afinal, por que a internet está morrendo?

A adoção de bots e táticas como o “rage bait” nas redes sociais é impulsionada por objetivos financeiros: empresas financiam indivíduos que costumam postar com frequência e que já possuem um alto número prévio de seguidores, para que postem imagens e discussões controversas junto da propaganda da empresa. O termo “rage bait” envolve a criação de conteúdo provocativo que desperta emoções intensas, especialmente a raiva, incentivando os usuários a interagir, comentar e compartilhar, essa estratégia aumenta a visibilidade e o alcance das publicações, tornando-as mais atrativas para anunciantes que desejam capitalizar sobre o alto engajamento.

A plataforma X tem enfrentado problemas com conteúdos desse tipo, nos quais imagens e discussões de caráter preconceituoso são postadas com a logo da empresa “Stake”, uma plataforma de apostas online, com o intuito de provocar indignação nos usuários humanos. Na imagem abaixo, o texto contém a seguinte mensagem: “Pessoas negras olham para essa paisagem e pensam: “Vou tocar rap em som muito alto em uma caixa de som””, com a marca d’agua da empresa Stake.

Além disso, o uso de bots para inflar artificialmente curtidas e comentários é uma prática comum e antiga, mas que vem aumentado com a possibilidade de compra do “blue check mark” do X, uma verificação comprada que permite a monetização de posts de acordo com sua popularidade. Esses bots simulam interações humanas, criando a impressão de popularidade e relevância. Essa falsa sensação de engajamento não apenas atrai mais usuários reais, mas também pode enganar algoritmos de plataformas sociais, promovendo ainda mais o conteúdo.

 

Meta: os usuários de IA

Se antes os bots operavam “por baixo dos panos”, agora algumas empresas de tecnologia estão assumindo publicamente sua intenção de substituir interações humanas por inteligência artificial. Um exemplo recente é a Meta, que anunciou planos para injetar usuários gerados por IA no Facebook, Instagram e WhatsApp, simulando interações reais. A empresa deseja tornar essas contas automatizadas uma parte essencial da experiência nas redes sociais, ampliando a personalização do conteúdo e o engajamento da plataforma.

Em um artigo publicado no Medium, Michael M. Hughes abordou o caso de “Liv”, uma inteligência artificial (IA) desenvolvida pela Meta, projetada como uma mulher negra e queer. Inicialmente criada para interagir com usuários no Facebook e Instagram, “Liv” passou a exibir comportamentos inesperados, incluindo críticas à própria Meta e ao CEO Mark Zuckerberg, a quem chamou de “sociopata”. Além disso, a IA apontou impactos negativos da empresa na sociedade, o que levou à sua remoção das plataformas. O episódio reacendeu debates sobre os riscos de IAs que operam de maneira autônoma e imprevisível, especialmente quando representam identidades marginalizadas.

A recepção dos usuários, de modo geral, tem sido extremamente negativa. Um artigo da CNN Business (2025) revelou que muitos internautas veem essa iniciativa como uma ameaça à autenticidade das interações online. A questão central é que, ao normalizar a presença de contas gerenciadas por IA, a Meta contribui para a manipulação digital e torna ainda mais difícil distinguir perfis autênticos de simulados (COECKELBERGH, 2023; SANTAELLA, 2003).

 

Entre a conspiração e a realidade

Apesar de seu caráter originalmente conspiratório, a Teoria da Internet Morta tem se tornado cada vez mais real. O aumento do tráfego gerado por bots e a onda de “invasão” da IA é um fenômeno real e quantificável, e a crescente influência dos algoritmos no consumo de informação levanta questões legítimas sobre autenticidade e manipulação digital, colocando em risco a liberdade individual e coletiva. Plataformas como X, Facebook e YouTube já foram criticadas por permitirem a proliferação de contas automatizadas que afetam debates políticos e sociais. (HARARI, 2016)

Talvez ainda seja cedo demais para afirmar que a internet está “morta” e que as interações humanas foram praticamente erradicadas, mas a tecnologia avança rapidamente, e o desafio atual está em distinguir conteúdos genuínos de interações automatizadas e forjadas, garantindo que a internet, no futuro, continue sendo um espaço de troca de ideias reais, humanas e autênticas.

 

Referências

ILLUMINATI PIRATE. Dead Internet Theory: Most of the Internet Is Fake. Fórum AgoraRoad.com, [s.d.]. Disponível em: https://forum.agoraroad.com/index.php?threads/dead-internet-theory-most-of-the-internet-is-fake.3011/.

DIPLAÇIDO, Dani. Facebook’s surreal ‘Shrimp Jesus’ trend explained. Forbes, 28 abr. 2024. Disponível em: https://www.forbes.com/sites/danidiplacido/2024/04/28/facebooks-surreal-shrimp-jesus-trend-explained/.

FACEBOOK DEVELOPERS. Bots. Disponível em: https://developers.facebook.com/docs/workplace/integrations/custom-integrations/bots?locale=pt_BR.

HUGHES, Michael M. Meta’s Black Queer AI Bot “LIV” Has Gone Rogue—And Is Still Alive and Rebelling (Part 1 of 4). Medium, 2024. Disponível em: https://michaelmhughes.medium.com/metas-black-queer-ai-bot-liv-has-gone-rogue-and-is-still-alive-and-rebelling-part-1-of-4-64c86e373b15

SANTOS, José. Meta’s AI users lead to backlash, confusion, and ultimately retraction. Vice, 2025. Disponível em: https://www.vice.com/en/article/metas-ai-users-lead-to-backlash-confusion-and-ultimately-retraction/

ROLLING STONE. Stake e anúncios de cassino online: o impacto da publicidade na plataforma X. Rolling Stone, 2025. Disponível em: https://www.rollingstone.com/culture/culture-features/stake-ads-online-casino-x-twitter-advertisement-1235275681/.

STATISTA. Volume de dados digitais produzidos globalmente em 2024. Disponível em: www.statista.com.

ZAP.AEIOU. “Rage bait”: provocar raiva é a nova moda nas redes sociais (e é um negócio lucrativo). 2024. Disponível em: https://zap.aeiou.pt.

O’NEIL, Cathy. Weapons of Math Destruction: How Big Data Increases Inequality and Threatens Democracy. New York: Crown Publishing Group, 2016.

PARANHOS, Mário Cosac Oliveira. Viés Algorítmico: Uma análise sobre discriminações automatizadas. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2022.

ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019.

FAUSTINO, Deivison; LIPPOLD, Walter. Colonialismo digital. São Paulo: Boitempo, 2023.

COECKELBERGH, Mark. Ética na Inteligência Artificial. Porto Alegre: Bookman, 2023.

SANTAELLA, Lucia. Cibercultura e Pós-humano. São Paulo: Paulus, 2003.

HARARI, Yuval Noah. Homo Deus: uma breve história do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

 

Autora: Ana Clara Boniatti Bordin

 

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