A tecnologia permeia nosso cotidiano de maneira incontestável. Dispositivos como smartphones, tablets e smart TVs não são mais luxos, mas sim necessidades. A partir disso poderíamos supor que que gerações mais velhas como a Geração X e os Millennials, enfrentariam mais desafios ao se adaptarem a essas inovações, pelo fato de não terem crescido imersos de forma tão intensa nelas. Em contrapartida, espera-se que jovens – as Gerações Z e Alfa – dominassem essas ferramentas com facilidade. No entanto, a realidade revela nuances inusitadas nesse campo, especialmente quando se trata no uso de computadores e dispositivos de escritório, as também conhecidas por tech skills. E é exatamente sobre isso que iremos tratar na PET Redação deste mês: as gerações mais novas são realmente proficientes em tecnologia ou estamos diante de um mito?
Desafios inesperados no mundo tecnológico
Nesses últimos anos, uma série de reportagens e estudos divulgados por veículos de comunicação e sites de recrutamento têm destacado as dificuldades enfrentadas por jovens que estão prestes a entrar no mercado de trabalho, especialmente em tarefas tecnológicas básicas como operar impressoras, gerenciar arquivos ou utilizar ferramentas colaborativas como calendários e planilhas. Um exemplo notável é o artigo ‘File Not Found’, do The Verge, de 2021, que descreve uma professora de engenharia surpresa ao descobrir que seus alunos não conseguem encontrar arquivos em um software de modelagem, com a maioria recebendo a mensagem de erro: “The file couldn’t be found” (o arquivo não pode ser encontrado). Ela questiona onde salvaram seus trabalhos – na área de trabalho ou na pasta de documentos? – mas se depara com olhares confusos e a pergunta: “Do que você está falando?”. Isso levanta uma questão importante: eles realmente sabem como organizar e navegar por diretórios? Ademais, pesquisas como a realizada pelo Pew Research Center mostram que apenas 17% dos jovens adultos se sentem capacitados para manusear ferramentas digitais de escritório, como planilhas e aplicativos colaborativos – um fato preocupante.
O papel das escolas
Diante desse contexto, surge a questão: “Por que isso ocorre?”. A explicação pode ser relativamente simples: muitas escolas falham em fornecer aos estudantes os conhecimentos fundamentais de informática necessários para enfrentar o mercado de trabalho. Em uma era dominada pela tecnologia, é crucial que os alunos aprendam a operar sistemas operacionais de desktop robustos, como o Windows, e realizem tarefas básicas. E parece haver um consenso sobre essa necessidade por parte dos próprios estudantes que sofrem com isso. Uma pesquisa da Dell Research realizada com jovens entre 18 e 26 anos revelou dados significativos, com 44% expressando que as escolas ensinam pouquíssimo a respeito de computadores, 37% acredita que as escolas não os prepararam nem preparam as crianças da maneira correta para o mercado de trabalho, e 40% dos entrevistados entendem que aprender digital skills é algo essencial para sua carreira profissional. Além disso, existe outro fenômeno que corrobora para a dificuldade desse grupo em adquirir novas digital skills, conhecido por ‘Tech Shame’, destacado em um artigo do The Guardian, que indica que muitos jovens hesitam em pedir ajuda ou admitir desconhecimento em tarefas do ramo por temerem o julgamento dos outros, que presumem que eles já possuem essas tais habilidades.
A contribuição dos smartphones nesse cenário
Agora vamos nos aprofundar na questão dos smartphones e o impacto que tiveram na evolução das interações das aplicações, especialmente no que diz respeito à comunicação e ao uso de redes sociais. Pode parecer bobo, mas a simplicidade das interfaces móveis, projetadas para serem intuitivas e fáceis de usar, esconde uma complexidade tecnológica que a maioria dos sistemas desktop não fazem. Com poucos botões, destacados e com texto reduzido, elas capturam a atenção e contrastam com a sutileza de softwares de computador, como o Microsoft Word e suas múltiplas opções de formatação. Essa tendência de design influencia a maneira como interagimos com todos os tipos de aplicativos móveis, e é nas redes sociais que isso se torna mais evidente, e como é dito na matéria do The Guardian, “bastam 5 segundos para aprender a usar o TikTok, mas com certeza mais que isso para aprender a usar uma impressora. Isso reflete uma realidade onde os jovens passam a recorrer ao TikTok em vez do Google para obter resultados de pesquisas. E a partir disso podemos entender que os jovens em sua maioria não são necessariamente bons em operar ferramentas, saber usar a Netflix, o Spotify ou jogar Minecraft não são sinônimo de competência tecnológica real, não se traduz automaticamente em habilidades tecnológicas fundamentais.
Considerações finais
Para finalizar essa discussão, convido vocês a recapitular algumas coisas que discutimos:
- Presença da Tecnologia: A tecnologia está profundamente enraizada em nosso dia a dia, com dispositivos como smartphones e tablets se tornando essenciais.
- Desafios das Gerações: Contrariamente às expectativas, tanto gerações mais velhas quanto mais jovens enfrentam desafios ao se adaptar às inovações tecnológicas.
- Proficiência Tecnológica: Existe um equívoco comum de que as gerações mais jovens são naturalmente proficientes em tecnologia, o que muitas vezes não é o caso.
- Educação em Informática: As escolas muitas vezes falham em ensinar habilidades computacionais básicas, deixando os alunos mal preparados para o mercado de trabalho.
- Tech Shame: O fenômeno da ‘Vergonha Tecnológica’ faz com que muitos jovens hesitem em buscar ajuda ou admitir lacunas no conhecimento tecnológico.
- Influência dos Smartphones: A simplicidade das interfaces móveis pode mascarar a complexidade tecnológica e influenciar negativamente a compreensão e uso de ferramentas tecnológicas mais complexas.
- Redes Sociais e Competência Tecnológica: A facilidade de uso das redes sociais, como o TikTok, não é sinônimo de competência tecnológica real. A habilidade de usar plataformas de entretenimento não se traduz automaticamente em habilidades tecnológicas fundamentais necessárias no ambiente profissional.
Tendo em vista esses tópicos, poderíamos considerar como ponto crucial para reverter esse cenário a valorização da educação, com um foco particular no desenvolvimento dessas habilidades digitais essenciais. Encorajar esse aprendizado além do uso rotineiro não deve ser tratado como algo opcional, mas sim como uma necessidade fundamental, principalmente por se tratar de uma era digital, como na qual vivemos.
Referências:
Gen Z Is Apparently Baffled by Basic Technology (futurism.com)
‘Scanners are complicated’: why Gen Z faces workplace ‘tech shame’ | Technology | The Guardian
The Smartphone Generation Needs Computer Help – Sponsor Content – Grow with Google (theatlantic.com)
Appendix: Detail on digital readiness and other metrics across groups | Pew Research Center
Gen Z: The future has arrived | Dell USA
Autor: Enzo Zanini Becker