Mudanças climáticas. Aquecimento global. Nos últimos anos, esses termos ganharam visibilidade e se tornam cada vez mais comuns em nossas vidas. O aumento das temperaturas globais, o derretimento das geleiras, as enchentes e as secas prolongadas são apenas algumas das consequências de uma crise climática que afeta todos os cantos do planeta. Nesse cenário, a mídia surge como uma das principais responsáveis por alertar, informar e mobilizar a população para a urgência da situação.
À medida que os impactos do aquecimento global se tornam mais frequentes, a cobertura jornalística evolui. Se antes se limitava a reportagens pontuais sobre desastres naturais, hoje ela explora múltiplas faces de conceitos científicos à denúncias de ações que ameaçam o planeta. O desafio é comunicar um problema global complexo sem afastar o público, que muitas vezes se sente sobrecarregado ou impotente diante da gravidade da situação.
Para driblar esse obstáculo, jornalistas têm buscado maneiras mais acessíveis e engajadoras de tratar o tema. Como destaca a professora Cláudia Moraes, da UFSM, “decorrente de educação ambiental, da divulgação científica e da atuação de meios de comunicação, o tema se torna mais palpável para a população”. Assim, o jornalismo ambiental não apenas informa, mas também aproxima, conecta e cria identificação com o cotidiano das pessoas, facilitando a compreensão e incentivando a reflexão.
Histórias e imagens que falam por si
Uma das principais estratégias adotadas pelos veículos de comunicação é a humanização da pauta climática. Em vez de se concentrar em apenas dados científicos, muitas reportagens têm dado voz a pessoas diretamente afetadas pelas mudanças climáticas, como pequenos agricultores que perderam suas colheitas por causa de secas prolongadas, famílias desalojadas por enchentes e comunidades indígenas que lutam contra o desmatamento.
Outra tática cada vez mais usada é o uso de imagens impactantes para mostrar a urgência da situação. Fotos de florestas em chamas, geleiras derretendo e animais em extinção ajudam a chamar a atenção do público, especialmente em redes sociais. Um exemplo marcante dessa estratégia foi a foto de um cavalo caramelo durante as enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul em 2024. A imagem, que rapidamente se espalhou pelas redes sociais, foi pauta em diversos jornais, captando a imensidão do desastre. Não apenas evidenciou o desespero da situação, mas também destacou de forma vívida o impacto das chuvas intensas agravadas pelo aquecimento global.
O jornalismo exerce um papel fundamental ao registrar experiências coletivas e projetar caminhos futuros, especialmente em contextos de crise. Mais do que números, é essencial dar visibilidade às histórias vividas. Em 2023, o Brasil foi o sexto país com maior número de deslocamentos por desastres, segundo a ONU, com 745 mil casos — sendo meio milhão apenas no Rio Grande do Sul após as inundações. — o que gera um prejuízo não apenas socioeconômico, mas também geográfico e sociocultural.

Do técnico ao compreensível
Traduzir a linguagem científica para um formato acessível é outro cuidado adotado pela mídia que cobre o tema ambiental. O uso frequente de dados científicos tornou-se essencial para manter o público bem informado, sem cair no excesso de termos técnicos que podem dificultar a compreensão. Embora esses dados sejam importantes para embasar as reportagens, a maneira como são apresentadas exige um cuidado especial, pois é necessário tornar a informação compreensível sem perder a precisão.
Nesse sentido, as reportagens online contam com recursos visuais como infográficos, animações explicativas e entrevistas com especialistas que ajudam a esclarecer termos que são importantes para as mudanças climáticas, e muitas vezes desconhecidos pelo público geral. Além disso, as entrevistas com especialistas acabam sendo ainda mais importantes, pois permitem que cientistas e estudiosos traduzam de maneira simples e acessível os termos técnicos, oferecendo uma experiência contextualizada e fácil de entender.
As fontes seguras são fundamentais para garantir a qualidade do jornalismo, especialmente quando se trata de temas complexos como os ambientais. Consultá-las sempre que possível é uma prática essencial para assegurar que a informação transmitida seja precisa e acessível, o que fortalece a confiança do público nas notícias. Como dizem os pesquisadores Luciano Victor e Andreia Couto, da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, “mesmo em um período de críticas à ciência, à educação e ao jornalismo, é importante resgatar a responsabilidade e a segurança apresentada por fontes com credibilidade”.
O desafio de manter a atenção
Apesar dos esforços, a cobertura climática ainda enfrenta obstáculos. O excesso de informações, a concorrência com outras pautas urgentes e a proliferação de desinformação nas redes sociais dificultam o trabalho de jornalistas e comunicadores. Segundo a pesquisadora de Jornalismo Ambiental da UFRGS, Ilza Girardi, “os jornalistas têm que dedicar muito tempo para saber a verdade e divulgar a informação correta”. A luta contra o negacionismo climático exige atenção redobrada e uma constante checagem de fatos.
Cabe à mídia não apenas noticiar os efeitos da crise ambiental, mas também contribuir para a construção de uma consciência coletiva sobre a gravidade e a urgência do tema. Ao adotar estratégias que aproximam o público da realidade climática – seja por meio de histórias humanas, imagens comoventes ou linguagem acessível – os meios de comunicação ajudam a transformar informações em engajamento.
Em um cenário cada vez mais afetado por eventos extremos, a continuidade e a qualidade da cobertura jornalística sobre o clima serão decisivos para o futuro das políticas ambientais e das atitudes sociais. Mais do que nunca, informar é também uma forma de agir.
Luana Novaes | Bolsista do PET Educom Clima
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