Embora o termo “fake news” tenha se popularizado nos últimos anos, o surgimento da desinformação tem origem em períodos históricos de crise, guerra e manipulação política. A invenção dos jornais sensacionalistas no final do século XIX, por exemplo, já refletia o desejo de manipular a opinião pública por meio de informações distorcidas.
Nos últimos anos, o fenômeno das fake news consolidou-se como um dos maiores desafios da comunicação. Com o avanço das redes sociais e o alcance massivo da internet, a propagação de informações falsas tornou-se mais rápida e difícil de controlar. As fake news não apenas distorcem a realidade, mas têm o poder de influenciar decisões políticas, prejudicar a credibilidade de instituições e até mesmo colocar em risco a saúde pública, como evidenciado durante a pandemia de Covid-19. Além disso, esse fenômeno afeta a confiança das pessoas na mídia tradicional e contribui para a polarização social, alimentando o ciclo de desinformação.

O termo “infodemia” surgiu com força durante a pandemia da Covid-19 para descrever a grande disseminação de informações, tanto verdadeiras quanto falsas, que ocorreram de forma descontrolada. A palavra é uma junção de “informação” e “epidemia”, destacando como o excesso de dados pode se espalhar rapidamente, muitas vezes dificultando a distinção entre fatos confiáveis e desinformação. A Organização Mundial da Saúde (OMS) utilizou o termo para alertar sobre os perigos da circulação de fake news, teorias da conspiração e dados imprecisos relacionados ao coronavírus, tratamentos e vacinas. A infodemia contribuiu para o aumento do medo, desconfiança nas instituições de saúde e adoção de comportamentos inadequados, como o uso de medicamentos sem eficácia comprovada.
Com o avanço das redes sociais e aplicativos de mensagens, a propagação de informações sem verificação tornou-se ainda mais rápida e impactante. Elas facilitam o alcance global de rumores, teorias conspiratórias e boatos. Esse fenômeno ressaltou a importância da alfabetização midiática, do papel do jornalismo responsável e da checagem de fatos para combater a desinformação. A infodemia não se limitou apenas à pandemia, mas mostrou como, em qualquer crise global, a gestão da informação é crucial para evitar pânico e garantir que as pessoas tenham acesso a conteúdos confiáveis para tomar decisões seguras.
Impactos sociais e políticos das fake news
Uma pesquisa do Instituto Locomotiva, divulgada pela Agência Brasil, revela que quase 90% da população brasileira admite já ter acreditado em conteúdos falsos. Segundo o levantamento, oito em cada dez brasileiros já confiaram em fake news. No entanto, 62% afirmam confiar em sua própria capacidade de distinguir informações falsas das verdadeiras.
Os impactos das fake news são profundos e amplos. Em âmbito social, elas contribuem para a polarização política, criando bolhas informativas em que indivíduos se cercam apenas de conteúdos que reforçam suas crenças preexistentes. Isso dificulta o diálogo e o entendimento entre diferentes grupos, gerando uma sociedade mais desconfiada, na qual as pessoas questionam a veracidade de informações provenientes de fontes confiáveis, como a mídia tradicional e os especialistas.
Desinformação climática: um desafio à crise ambiental
A desinformação climática se apresenta como um dos aspectos mais preocupantes da atual crise ambiental, uma vez que afeta diretamente a forma como a sociedade compreende e responde às mudanças climáticas. Apesar de a ciência climática ser clara e sólida, com um consenso global sobre a gravidade do aquecimento global e suas consequências, a disseminação de informações falsas ou distorcidas ainda representa um obstáculo significativo para ações políticas e sociais eficazes. A desinformação climática se espalha rapidamente pelas redes sociais. Informações falsas ou alarmistas, muitas vezes exageradas ou distorcidas, geram maior engajamento online, criando um ciclo vicioso em que a desinformação se propaga mais rapidamente do que os fatos científicos verídicos. Em um cenário como este, muitos são expostos a teorias conspiratórias, como a ideia de que as mudanças climáticas seriam uma “fraude” ou um “mito”.
Nesse sentido, podemos citar o Observatório do Clima (OC) que é uma coalizão composta por mais de 50 organizações não governamentais dedicadas à promoção da sustentabilidade e ao combate às mudanças climáticas no Brasil. Além de atuar como centro de monitoramento e análise de políticas ambientais, o OC desenvolve iniciativas para combater a desinformação climática, como o projeto “Fakebook”, que identifica e desmascara informações falsas sobre o meio ambiente. Por meio de sua plataforma, a organização reforça a transparência e a responsabilidade na disseminação de informações ambientais, garantindo que a sociedade tenha acesso a dados precisos e confiáveis sobre as mudanças climáticas e suas implicações.
Os impactos da desinformação climática são devastadores. Além de afetar a percepção pública sobre a gravidade do problema, contribui para a polarização social e política, especialmente quando utilizada para dividir grupos e desviar a atenção das soluções reais. Aqueles que se opõem à ação climática frequentemente se aproveitam dessa desinformação para fomentar a divisão, retratando as iniciativas ambientais como uma ameaça ao modo de vida das pessoas e utilizando argumentos distorcidos para gerar medo e resistência.
Essa desinformação também possui um custo humano, pois impede que as pessoas compreendam adequadamente os riscos e as soluções para desastres naturais, que se tornam cada vez mais frequentes devido às mudanças climáticas — como inundações, secas, incêndios florestais e tempestades mais intensas. Em regiões vulneráveis, onde os impactos dessas mudanças são mais acentuados, a falta de informação correta pode significar a diferença entre a preparação e a tragédia.
Uma solução contra a desinformação
A educomunicação surge como uma solução importante para combater a desinformação, especialmente em temas complexos como as mudanças climáticas. Sendo assim, no segundo semestre de 2024 uma oficina sobre fake news, foi realizada na Escola Estadual Padre Abílio Sponchiado, em Vista Alegre, promovida pelos alunos da disciplina de Educomunicação do curso de Jornalismo da UFSM-FW e teve como principal objetivo conscientizar os estudantes sobre os perigos da desinformação no ambiente digital. Destinada aos alunos do primeiro e segundo ano do ensino médio, a atividade foi conduzida de maneira interativa, permitindo que os participantes aprendessem, na prática, como identificar notícias falsas e compreender seus impactos na sociedade. Sob a orientação das professoras Janaina Gomes e Cláudia Herte de Moraes, a oficina começou com uma exposição teórica sobre o conceito de desinformação, explicando como ela se propaga nas redes sociais e pode influenciar a opinião pública de maneira negativa.

Para tornar o aprendizado mais dinâmico, os alunos participaram de uma atividade interativa utilizando QR codes, que direcionavam para conteúdos variados, misturando informações verdadeiras e falsas. O desafio proposto era analisar criticamente os materiais apresentados e identificar quais eram falsos. A dinâmica não apenas despertou a curiosidade dos estudantes, como também estimulou um olhar mais crítico sobre o consumo de informações digitais, evidenciando a importância da verificação dos fatos antes de compartilhar conteúdos online.
Além da temática central sobre desinformação, a oficina também proporcionou um momento de experimentação artística por meio da fotografia, permitindo que os alunos explorassem novas formas de expressão e criatividade. Eles tiveram a oportunidade de utilizar uma câmera profissional, tornando a experiência ainda mais enriquecedora. A ação demonstrou a relevância de abordar temas como fake news dentro do ambiente escolar, principalmente considerando que os adolescentes estão em contato constante com as redes sociais, um dos principais canais de disseminação de notícias falsas. A oficina contribuiu, assim, para o desenvolvimento de um pensamento crítico nos jovens, capacitando-os a consumir e compartilhar informações de maneira mais responsável e consciente.
Em tempos de disseminação acelerada de desinformação pelas redes sociais e meios digitais, a educomunicação oferece uma base sólida para que as pessoas possam discernir fatos de ficção, permitindo uma ação mais eficaz em prol da preservação do meio ambiente. Ao invés de sermos reféns das mentiras que circulam pelo mundo, a educomunicação nos oferece as ferramentas necessárias para sermos protagonistas na defesa de um futuro mais justo e sustentável. Em um mundo saturado de informações falsas, a educação crítica é a chave para desarmar a desinformação e construir um futuro mais consciente.
A educomunicação desempenha um papel fundamental no combate às fake news sobre desastres climáticos, promovendo a construção de uma base crítica na sociedade. No caso do Rio Grande do Sul, iniciativas como o Programa de Extensão Mão na Mídia da UFSM-FW atuam na produção e divulgação de informações verificadas sobre os impactos das chuvas intensas. Em parceria com redes de jornalismo e projetos acadêmicos, essas ações garantem que a população tenha acesso a dados confiáveis, evitando a desinformação e contribuindo para estratégias de prevenção e adaptação frente às emergências climáticas.
Por Franchesco de Oliveira Y Castro.