Nesta terça-feira (13), o Programa de Educação Tutorial da Comunicação Social da Universidade Federal de Santa Maria – PETCom/UFSM, reuniu-se em sala virtual para iniciar as atividades de ensino de 2021. Com a participação de Laura Storch e Lucas Missau, coordenadores do Laboratório de Experimentação em Jornalismo – LEX/UFSM, a atividade reuniu em torno de 35 pessoas interessadas no debate da desinformação, tecnologia e fact-checking.
A atividade iniciou com a exposição de slides por parte de Lucas Missau, que apontou a relevância que a compreensão dos processos de desinformação tem hoje, nos processos comunicativos e na sociedade em geral. Para ele, deve-se pensar a comunicação e ética da comunicação, neste momento, a partir de uma premissa: a desinformação é uma prática comunicacional? Este é um ponto de partida comum, pois a discussão sobre a desinformação está centrada em sua difusão massiva e que envolve, também, aspectos econômicos, educacionais e culturais.
De um ponto de vista técnico, as ações de plataformas poderiam criar mecanismos para conter e barrar a disseminação de notícias fraudulentas. No entanto, esse ponto esbarra na seguinte questão: queremos que somente alguns indivíduos e/ou empresas possam dizer o que é verdade e o que não é? Para Laura Storch, a desinformação está no campo comunicacional, mas deve-se pensar ela também a partir da interdisciplinaridade com outros campos, como a neurociência, a filosofia, as ciências sociais, entre outras.
Outro questionamento muito importante trazido por Lucas na apresentação leva-nos a pensar em como e por que as pessoas consomem e compartilham a desinformação? Uma tentativa de resposta leva em conta os conceitos de congruência cognitiva – que seria a probabilidade dos usuários aceitarem e compartilharem informações que estejam de acordo com sua visão de mundo, e a dissonância cognitiva – a probabilidade destes usuários dispensarem evidências que disputam com suas crenças.
Para os pesquisadores, a premissa do exercício proposto era pensar a desinformação como prática comunicacional. “Quando pensamos a relação entre comunicação e desinformação, estamos sugerindo o enfrentamento de um fenômeno complexo a partir da perspectiva comunicacional. A desinformação pode não ser um problema exclusivo do campo de atuação da comunicação, em particular das profissões”, refletem Lucas e Laura. A desinformação pode ser considerada um fenômeno mais amplo, uma vez que implica campos como a política, a justiça, a neurociência, a filosofia, a computação, entre outros. No entanto, de acordo com os pesquisadores, é relevante e positivo implicar a Comunicação nos processos de estudo e compreensão da anatomia social da desinformação e de suas implicações sociais. “Como problema comunicacional, a desinformação desacomoda o campo da Comunicação e o coloca em relação com sua própria história e com outros campos sociais, entre eles o próprio campo político. Não nos parece uma questão de tentar encaixar a desinformação nas práticas do campo da comunicação, mas, mais do que isso, comprometer o campo da comunicação com o estudo de uma questão que lhe atravessa fundamentalmente”, complementam.
Na próxima terça-feira, dia 20/04, a partir das 13h, o PET Comunicação Social se reunirá para debater a temática a partir de uma atividade de pesquisa que irá refletir sobre o artigo “O joio, o trigo e os filtros bolha: uma discussão sobre fake news, jornalismo, credibilidade e afetos nos tempos das redes”, da pesquisadora Sylvia Moretzsohn. O texto escolhido é uma indicação da Professora Dra. Laura Storch e pode ser acessado aqui.
- Indicação de site: https://www.postarounao.com.br/
- Referências citadas na apresentação:
– Calvo, E., & Aruguete, N. (2020). Fake news, trolls y otros encantos. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Siglo XXI Editores.
– Tandoc, E. C., Lim, Z. W., & Ling, R. (2018). Defining “Fake News”: A typology of scholarly definitions. Digital Journalism, 6(2), 137–153. https://doi.org/10.1080/21670811.2017.1360143