O sistema de plantio direto (SPD) foi uma das alternativas adotadas para reduzir a erosão dos solos, fenômeno que causa a perda da camada superficial, justamente onde estão localizados a maior parte dos nutrientes, podendo acarretar em outros problemas como o assoreamento e contaminação de rios. Além disso, a camada de palhada sobre a superfície reduz o impacto da gota da chuva, a velocidade de escoamento da água, o selamento da camada superficial e aumenta a infiltração quando aliado às práticas de terraceamento e curvas de nível.
Nesse contexto, destaca-se o fato de que o SPD reduz as oscilações de temperatura do solo, favorecendo a biota do local. Os microrganismos fixadores de nitrogênio se beneficiam do plantio direto pois ele favorece a fixação biológica de nitrogênio (FBN) principalmente em leguminosas, como é o caso da soja (Glycine max), uma cultura de grande destaque na produção de grãos brasileira.
O nitrogênio (N) é o nutriente mais requerido pela cultura e estima-se que são necessários 80 kg deste para produzir uma tonelada de grãos de soja. Algumas bactérias do gênero Bradyrhizobium trabalham simbioticamente com a leguminosa fornecendo o N necessário para as demandas da oleaginosa e essa planta lhe fornece o Oxigênio (O2) e produtos da fotossíntese para a sua sobrevivência (EMBRAPA SOJA, 2008).
Essas bactérias entram em contato com as raízes, infectando-as via pêlos radiculares, formando uma nova estrutura conhecida como nódulo, como pode ser visto na Figura abaixo.
Os rizóbios que formam os nódulos ficam agregados dentro das células da planta em um compartimento rodeado pela membrana peribacteróide. Ela permite com que as bactérias fiquem em um ambiente anaeróbico, pois o complexo da enzima nitrogenase é inibido quando entra em contato com o oxigênio (O2). Assim, elas recebem o O2 por meio das proteínas transportadoras chamadas de leghemoglobinas,as responsáveis pela coloração avermelhada nos nódulos ativos (SOUZA; SANTOS; HUNGRIA, 2009).No Brasil, utiliza-se a técnica popularmente chamada de “inoculação”, que consiste na inserção de um aglomerado de milhares de microrganismos durante os estádios ativos da planta. Esse procedimento, é necessário pois o centro genético de origem da soja é na China, e como ela não ocorre naturalmente aqui, também não existem nódulos nativos capazes de supri-la, o que justifica a obrigatoriedade da inoculação nas áreas de primeiro cultivo. A reinoculação é importante porque, quando a semente carrega milhares bactérias, a formação dos nódulos é imediata, sem a necessidade de atrair as bactérias como ocorre quando as sementes não têm o inóculo, (EMBRAPA SOJA, 2008).
O uso de fertilizantes em culturas de grãos é uma prática comum, no entanto, a FBN na cultura da soja com a inoculação e a reinoculação de rizóbio em SPD já proporciona alta produtividade de grãos e o balanço positivo de N para o sistema (ALVES, et al., 2006). Segundo Hungria, Campo e Mendes (2001), o uso de fertilizantes nitrogenados na cultura da soja prejudica a FBN e, mesmo usando apenas uma dose inicial ou “de arranque” na semeadura ou em cobertura com uréia em qualquer estágio de desenvolvimento da planta, não trará benefícios ao rendimento de grãos.
Nessa perspectiva, apenas a inoculação já trará muitos benefícios, pois a soja não vai consumir o N disponível no sistema e o agricultor não vai ter gastos a mais com o uso de fertilizantes nitrogenados. Portanto, esse favorecimento do processo de fixação biológica do nitrogênio atmosférico por meio da inoculação das sementes, se torna o método mais correto nos parâmetros ambientais, economicamente viável e socialmente justo para atender as demandas de N da cultura oleaginosa.
Autora:
Alissa Frigotto, acadêmica do 4º semestre de Agronomia e bolsista do grupo PET Agronomia — Universidade Federal de Santa Maria
Técnica em Agropecuária — IFC campus Concórdia
Referências:
ALVES, B. J. R. Fixação biológica de nitrogênio e fertilizantes nitrogenados no balanço de nitrogênio em soja, milho e algodão. Revista de Pesquisa Agropecuária Brasileira, 2006.
EMBRAPA SOJA. Tecnologias de Produção de Soja — Região Central do Brasil 2008. Londrina: Embrapa Soja, 2008. 292 p. (Sistemas de Produção/Embrapa Soja, ISSN 1677–8499, n. 12)
HUNGRIA, M.; CAMPO, R.J.; MENDES, I.C. Fixação biológica do nitrogênio na cultura da soja. Londrina: Embrapa Soja, 2001. 48 p. (Embrapa Soja. Circular Técnica, 35; Embrapa Cerrados. Circular Técnica, 13)
SOUZA, R. C.; SANTOS, M. A.; HÚNGRIA, M. O papel das nodulinas na fixação biológica do nitrogênio na cultura de soja. Londrina: Embrapa Soja, 2009. 5 p. (Embrapa Soja. Documentos, 312)