As cultivares de soja possuem um potencial máximo de rendimento determinado pela sua genética. No entanto, esse potencial só é expresso quando as condições ambientais são ótimas, sendo que, na prática isso geralmente não ocorre. Os fatores ambientais modificam-se a cada safra e influenciam diretamente o potencial, porém através de práticas de manejo é possível mitigar esses efeitos. Neste sentido, compreender quais são as fases de desenvolvimento da cultura da soja, bem como os períodos de maior sensibilidade da cultura aos fatores ambientais, é essencial para adequar as práticas de manejo.
Dentre as representações do desenvolvimento da cultura da soja, a mais empregada divide o desenvolvimento da planta em duas fases: vegetativa (V) e reprodutiva (R). Na primeira, as subdivisões são representadas numericamente como V1, V2, V3…Vn, em que “n” representa o número de nós. Os dois primeiros estádios são representados por VE (emergência) e VC (estádio cotiledonar). Já a fase reprodutiva, pode ser dividida em quatro partes, sendo elas: R1 e R2 o florescimento, R3 e R4 o desenvolvimento da vagem, R5 e R6 desenvolvimento da semente e R7 e R8 maturação da planta.
O primeiro estádio de desenvolvimento é a germinação e emergência. Nesse período, a semente inicia a sua germinação por meio da absorção de 50% do seu peso, de água. Posteriormente, são emitidas as estruturas primárias como a radícula e ocorre a elongação do hipocótilo em direção ao solo, expondo os cotilédones na superfície. A duração deste período, depende das condições de umidade e temperatura do solo. Sendo assim, buscar uma profundidade de semeadura adequada para as condições da área é essencial para garantir a germinação e emergência adequadas.
Cabe destacar que, a capacidade da plântula em romper a superfície do solo reduz com semeaduras mais profundas, e deve-se atentar também a temperatura na condição de maior profundidade, pois ocasionam crescimento mais lento. Além disso, doses pequenas de fertilizantes depositadas abaixo da semente estimulam o crescimento radicular, mas a deposição de fertilizantes muito próximo da semente causa injúrias a semente e as plântulas.
O controle de plantas daninhas no período inicial também é de suma importância, buscando reduzir ou anular o efeito competitivo por água, luz e nutrientes. A inoculação de bactérias fixadoras de nitrogênio (FBN) são fundamentais, tendo em vista que nos solos brasileiros, há baixa população destas bactérias e estas são fundamentais para a disponibilidade de nitrogênio para a cultura.
Durante o período vegetativo, deve-se realizar o monitoramento de insetos-praga e doenças, com o objetivo de que estes não reduzam o potencial fotossintético da cultura, com a redução da área foliar. No período vegetativo, aproximadamente de V2 a V6, as plantas possuem uma capacidade de recuperar a sua área foliar no caso de eventos climáticos adversos, como granizo por exemplo. Entretanto, se esse dano atingir a porção abaixo do nó cotiledonar, ela morrerá, pois não há nenhum broto axilar abaixo deste nó. Cabe destacar que outros aspectos como densidade de plantas, estande inicial, distribuição de sementes também são fundamentais.
Na maioria das cultivares o crescimento vegetativo e a produção de novos nós continuam durante alguns estádios reprodutivos. No estádio R1 inicia-se o florescimento das plantas de soja (caracterizando o início do estádio reprodutivo), que ocorre da base para o topo. Por esse motivo, as vagens da ponta do racemo são mais maduras que as vagens do ápice. Nesse momento, as taxas de crescimento vertical das raízes aumentam e permanecem altas até o estádio R4 e R5.
As plantas em R2, normalmente já acumularam 25% de sua matéria seca final e nutrientes, atingiu aproximadamente 50% de sua altura final e desenvolveu cerca de metade do número total de nós. Nessa fase, no entanto, os estresses (umidade, temperatura, luz, deficiência nutricional, etc.) reduzem ainda mais o potencial produtivo, com o abortamento de estruturas reprodutivas (flores). Esse estádio marca o início de um período de rápido e constante acúmulo diário das taxas de matéria seca e de nutrientes pela planta, que continuará até logo após o estádio R6. Ademais, se 50% das folhas forem perdidas, o rendimento será reduzido para aproximadamente 6%.
No estádio R3, há o início da formação da vagem (“canivetes” ou “canivetinhos”). É importante destacar que, a produção excedente de flores e vagens e o longo do período de florescimento (de R1 a R5) é desejável. Isso permite um certo grau de escape a pequenos períodos de estresse. As condições de estresse que causam altas taxas de aborto, de R1 a R3 normalmente não reduzem o rendimento. Ademais, o estresse nesses estádios pode resultar em um aumento no número de sementes por vagem e no peso por semente, que também ajuda a compensar o abortamento das flores e das vagens jovens. Algumas práticas de manejo como: adubação, espaçamento reduzido, estande adequado, irrigação e controle das plantas daninhas podem auxiliar na redução da taxa de abortamento.
O estádio R4 marca o início mais crítico de desenvolvimento quanto ao rendimento. Estresses de umidade, luz, nutricionais, geadas, acamamento ou desfolha em qualquer período deste estádio e logo após, no R6, reduzirá a produção mais que em qualquer outro período do desenvolvimento. Desses fatores, o de mais destaque é o estresse hídrico, sendo assim, havendo a possibilidade de irrigação suplementar, essa prática é recomendada, com o objetivo de reduzir o abortamento e também auxiliar na mobilização de nutrientes acumulados pela planta no estádio vegetativo.
O estádio R5 consiste no enchimento dos grãos. Nesse momento, a demanda por água e nutrientes é alta, devendo, se possível, manter a prática de irrigação suplementar quando necessário. As deficiências hídricas podem reduzir a disponibilidade dos nutrientes porque as raízes não podem absorvê-los e nem crescer nas camadas superficiais e mais secas do solo. Dessa forma, parte do fósforo e do potássio deve ser colocada em profundidades maiores, onde o solo estará úmido e os nutrientes disponíveis à planta.
Posteriormente ao enchimento de grãos, há o estádio R6, que é caracterizado pela semente cheia, mas ainda “verde”. Em R7, no início da maturidade, as chances de ocorrerem abortamento são menores, o número total de vagens por planta e o número de grãos por vagem são fixados gradualmente com a maturidade da planta. Apesar das chances de abortamento serem menores, havendo períodos muito longos de estresse, principalmente hídrico, poderá resultar na formação de sementes menores e, consequentemente, redução do rendimento. Outro aspecto que se deve atentar é quanto às altas populações de plantas, irrigação e ocorrência de chuvas torrenciais que aumentam a altura da planta e propiciam o acamamento das mesmas. Isto, reduz o rendimento devido a um aumento nas perdas de colheita a ao uso ineficiente da luz pela planta.
Em R8, quando há maturidade completa, pode-se observar os erros cometidos na lavoura, tais como: baixas densidades de semeadura ocasionando em vazios no campo, acamamento, estande reduzido, etc. A umidade de colheita é um ponto fundamental para essa cultura. A umidade ideal para colheita e armazenamento é de 13%. No entanto, ela é iniciada com maiores porcentagens de umidade, sendo necessária a secagem posterior. O atraso desta operação, com umidade abaixo de 13%, causa aumento nas perdas dos grãos, no número de grãos danificados, e diminui o peso dos grãos para comercialização. Essas perdas podem ser evitadas com adoção de velocidade de colheita apropriada, manutenção da abertura do côncavo, regulação da velocidade do cilindro, das peneiras e do ar da ventilação.
Com isso, nota-se que conhecer o desenvolvimento, bem como os períodos de maior ou menor suscetibilidade da cultura é fundamental para atingir elevadas produtividades e adequar o manejo para momentos certos.
Autora:
Mariana Miranda Wruck, acadêmica do 9º semestre de Agronomia e bolsista do grupo PET Agronomia na Universidade Federal de Santa Maria — UFSM