Planta daninha é caracterizada como toda e qualquer planta que ocorre onde não é desejada. Por isso, tornam-se um grande empecilho para muitos produtores, causando impactos negativos consideráveis nas lavouras quando não são controladas, uma vez que competem por água, luz e nutrientes com as plantas cultivadas. Entretanto, sob o ponto de vista natural, essas plantas podem servir como indicadoras das características de solo, principalmente de fatores físicos e químicos.
Dessa forma, o produtor pode usá-las ao seu favor em determinados momentos, utilizando-as como parâmetro para uma pré-avaliação rápida da situação atual do solo no planejamento de seus próximos cultivos, pela interpretação dessas relações. Existem plantas indicadoras que refletem o pH, a deficiência e o excesso de nutrientes, a matéria orgânica e também inferir sobre a compactação de solo.
É importante destacar que além dessas plantas daninhas se desenvolverem muito bem nas lavouras de cultivos anuais pelo fato de algumas das espécies mais competitivas possuírem metabolismo fotossintético C-4, que permitem que a fotossíntese seja realizada com os estômatos praticamente fechados, algumas delas utilizam os exsudatos radiculares como um mecanismo de defesa para obterem seu espaço (alelopatia), criando uma competição com as culturas semeadas pelo produtor, que é facilitada pelo ambiente do solo ser propício para seu desenvolvimento.
O pH é uma variável importante para a fertilidade do solo, visto que determina a dinâmica de nutrientes e a sua disponibilidade para as plantas. Com base nisso, as plantas que indicam acidez possuem adaptação e se desenvolvem muito bem em condições de solo com o pH baixo e presença de alumínio em sua forma tóxica.
Além disso, algumas plantas só se desenvolvem em solos com fertilidade elevada e são extremamente sensíveis aos estresses ambientais, indicando condições favoráveis de solo. As mesmas surgem em solos com pH muito próximo a 6, com alto teor de matéria orgânica, podendo indicar uma boa condição de manejo de solo. Por outro lado, as indicadoras de deficiência ou excesso de nutrientes são comuns nos cultivos e propiciam ao produtor a observação da fertilidade de seu solo, seja de micro e/ou macronutrientes. Também há plantas que indicam e são tolerantes à alta compactação do solo, com baixa aeração e umidade.
Com base nisso, é importante salientar que o aparecimento dessas plantas não está limitado apenas a um fator, e sim a um conjunto de características do solo que propiciam seu desenvolvimento, cujas principais plantas indicadoras são:
- Picão branco (Galinsoga parviflora) é predominante em solos arenosos, de pH neutro, com deficiência em cálcio. Além disso, é hospedeira de nematoides do gênero Meloydogine e Heterodera;
- Língua de vaca (Rumex obtusifolius) indica excesso de nitrogênio de origem animal, ocorrendo principalmente em solos com pisoteio animal;
- Carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidium) representa a deficiência de cálcio nas lavouras;
- Capim mourão (Sporobulus indicus) aparece em pastagens com baixo teor de molibdênio;
- Tanchagem (Plantago tomentosa) é uma planta que se desenvolve em solos pobres em cálcio;
- Amendoim bravo (Euphorbia heterophylla) surge quando a lavoura é deficiente em molibdênio;
- Corda-de-viola (Ipomoea purpúrea) aparece somente quando há escassez de potássio;
- Capim colchão (Digitaria sanguinalis) também predomina em lavouras com deficiência de potássio;
- Beldroega (Portulaca oleracea) representa quantidade razoável de matéria orgânica no solo, bem como boro e predomina solos arenosos;
- Caruru (Amaranthus viridis) também indica presença de boro, matéria orgânica e nível considerável de nitrogênio;
- Guanxuma (Slida rhombifolia e Malvastrum coromandelianum) indica que o solo contém uma camada dura e compactada, com baixa profundidade, de 8 a 25 cm;
- Grama seda (Cynodon dactylon) ocorre em solos pisoteados, com a camada superficial dura e pH variável de 4 a 8;
- Capim carrapicho (Cenchrus echinarus) indica solos completamente compactados;
- Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica) também representa solos compactados, porém férteis;
- Capim arroz (Echinochloa crusgalli var. crusgalli) aparece em solos com nível de toxicidade expressivo;
- Tiririca (Cyperus rotundus) surge em solos com alta umidade e que possuem bom período de insolação, presente tanto em solos ácidos como alcalinos;
- Capim amargoso (Digitaria insularis) indica erosão subterrânea de 60 a 80 cm, e também ocorre em pastagens úmidas;
- Maria mole (Senecio brasiliensis) indica solo adensado com uma camada de água estagnada de 40 a 120 cm, com baixo nível de potássio;
- Cabelo de porco (Carex spp) predomina solos compactados, com nível baixo de matéria orgânica, bem como de cálcio;
- Capim papuã (Brachiaria plantaginea) indica apenas que o solo foi revolvido recentemente, após um período desaparece.
Portanto, é válido salientar que essas interpretações de indicadoras não dispensam o uso da análise de solo para quantificar os níveis ideais tanto de calagem quanto de fertilizantes para os cultivos, mas que auxiliam para o diagnóstico prévio da área. Ademais, o aparecimento dessas espécies não convém apenas para sinalizar a saúde do solo, e sim para auxiliar em seu melhoramento, como exemplo a guanxuma, que surge em solos muito compactados e com o desenvolvimento de sua raiz pivotante auxilia na descompactação do local, apesar de serem plantas invasoras, que não são interessantes para o sistema.
Referências:
PRIMAVESI, Ana. Algumas plantas indicadoras: como reconhecer os problemas de um solo. 1.ed. São Paulo: Expressão popular, 2017. 48p.
FIGUEIREDO, F C. et al. Plantas indicadoras da condição de solo. Universidade Federal de Lavras — Departamento de ciência do solo, 2007. Disponível em: <513.pmd (seb-ecologia.org.br)>. Acesso em: 27 de agosto, 2021.
Autora:
Agnes Estela Fontana, acadêmica do 2° semestre de Agronomia e Bolsista grupo PET Agronomia Universidade Federal de Santa Maria — UFSM.