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BRUSONE NO TRIGO: ciclo da doença, sintomatologia e manejo



Causada pelo fungo Pyricularia oryzae Cavara [teleomorfo: Magnaporthe oryzae (T.T. Hebert) M.E. Barr], a Brusone caracteriza-se por ser uma doença policíclica de difícil controle e com grande ocorrência nas lavouras de trigo do Brasil. Segundo GOULART & PAIVA (2000), esta moléstia pode vir a causar até 72,5% de dano ao peso das espigas de acordo com o período de infecção e localização da região tritícola. Uma vez infectados, os grãos tornam-se menores, deformados, enrugados e com baixo peso específico. Em consequência, grande parte destes é eliminada nos processos de colheita e beneficiamento da produção, acarretando em perdas significativas de produtividade.

De maneira geral, a incidência desta doença está diretamente atrelada às condições climáticas da região em que se encontra a lavoura. Os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e a região centro-sul do Paraná, nos últimos anos, apresentaram condições favoráveis ao desenvolvimento da Brusone, tornando-a uma moléstia de ocorrência esporádica nestas áreas. Foram registrados ciclos frequentes de alta umidade, sucedidos de precipitação pluvial ou orvalho, que ocasionaram longos períodos de molhamento do tecido vegetal, em temperaturas variando entre 25ºC e 28ºC, potencializando os danos da doença, como demonstrado na imagem abaixo.

Imagem 1: branqueamento da espiga por Brusone.

Fonte: Pedro Luiz Scheerer.

O fungo apresenta uma gama de hospedeiros, pertencentes, em sua maioria, à família Poaceae, dentre eles: o trigo, o arroz, a cevada e o milheto. O ciclo da Brusone tem início com a propagação e disseminação de conídios gerados nas fontes de inóculo de P. oryzae, que podem ser: (i) sementes, na forma de micélio dormente, atuando como veículos de disseminação passiva para a próxima safra; (ii) restos culturais, onde o cultivo de trigo, aliado a prática do plantio direto, favorece a sobrevivência do fungo; (iii) ocorrência de diferentes hospedeiros secundários; e (iv) presença de plantas voluntárias durante o período de entressafra. A água da chuva e o vento são os principais agentes de disseminação e transporte de P. oryzae a curtas e longas distâncias, respectivamente. Uma vez em contato com o hospedeiro, o fungo necessita de água livre para sua germinação. O ciclo da doença e suas relações entre patógeno e hospedeiro estão representadas no esquema abaixo:

Imagem 2: ciclo da doença.

Fonte: Anderson Luiz Durante Danelli.

Por se tratar de uma doença com presença de ciclo secundário, o processo descrito acima se repete diversas vezes no decorrer da safra, de forma sequenciada, sem a existência de períodos de repouso. Os esporos produzidos durante o ciclo da cultura são responsáveis pela propagação e aumento dos danos causados pela moléstia, onde poderá ocorrer elevado número de plantas infectadas, com várias lesões por planta.

Sua sintomatologia baseia-se na exteriorização de sintomas por toda a parte aérea da planta, principalmente nas espigas. Nestas ocorre o branqueamento do ráquis a partir do ponto de infecção, onde a lesão possui coloração escura-brilhante, demostrada na imagem 3. Esta mudança de coloração da espiga se dá em consequência da interrupção de translocação de água e nutrientes, prejudicando o enchimento de grãos e conferindo-lhes características não desejáveis para a sua comercialização.

Imagem 3: sintomas de Brusone nas espigas de trigo.

Fonte: Ariano Prestes de Moraes

Nas folhas, embora menos frequentes, as lesões possuem formato elíptico, coloração castanha e de 2 a 25 mm de comprimento e de 1 a 2 mm de largura, como se observa na imagem a seguir. De acordo com BAREA & TOLEDO (1997), os sintomas nas folhas variam em forma, tamanho e coloração conforme a idade da planta, observando-se esporulações nas faces superior e inferior (formação de conídios e conidióforos).

Imagem 4: sintomas de Brusone nas folhas de trigo.

Fonte: agrolink.com

Os danos causados pela Brusone podem ser minimizados com o emprego de medidas conjuntas de manejo cultural e de controle químico, principalmente relacionado com a prevenção da doença. Dentre estas ações destacam-se: a escolha da janela de plantio, de forma a evitar que a fase de emborrachamento e de formação de espigas coincida com o período de condições favoráveis à doença; o uso de cultivares menos suscetíveis a P. oryzae; e o emprego de rotação de culturas, visando diminuir a quantidade de inóculo inicial, retardando a disseminação da doença no campo.

No que se refere ao controle químico, segundo GOULART (2004) são poucos os ingredientes ativos registrados no Brasil para o controle da doença, e sua eficiência média de controle é de cerca de 50%. Essa baixa eficiência está associada às dificuldades no atingimento do alvo, em decorrência das características inerentes ao sítio de infecção (espiguetas da planta), além da própria efetividade do princípio ativo do fungicida utilizado contra o patógeno (PANISSON et al., 2004).

Desta forma, evidencia-se a importância de se realizar manejo integrado para prevenir a entrada da doença, visto que, uma vez presente na lavoura em nível de dano econômico, o controle da Brusone não se mostra satisfatório e economicamente viável. Anterior a aplicação preventiva de fungicidas deve-se realizar um estudo de viabilidade junto a um responsável técnico, aliado de monitoramento constante das condições climáticas da região.

Referências:

Antunes, J. M. Brusone do trigo é identificada em lavouras no Noroeste do RS.Embrapa Trigo, 2014. Disponível em:www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/2103461/brusone-do-trigo-e-identificada -em-lavouras-no-noroeste-do-rs. Acessado em: 09 de abril de 2021.

ARENDT, Pablo Fernando et al. Resistência de genótipos de trigo à brusone. 2006. Acessado em 02 de maio de 2021.

Danelli, A. L.D. Pyricularia oryzae: Virulência de isolados, densidade de conídios, no ar e efeito do nitrogênio na suscetibilidade do trigo. Passo Fundo, 2015. Acessado em: 13 de abril de 2021.

Reis et al. Brusone do trigo — ciclo da doença. OR Sementes. Acessado em: 09 de abril de 2021.

Santana et al. Eficiência de fungicidas para controle de brusone de trigo: resultados dos ensaios cooperativos, safra 2019. Embrapa Trigo, Passo Fundo, 2020. Acessado em: 09 de abril de 2021.

Autora:

Fernanda Maria Mieth, acadêmica do 6º semestre de Agronomia e bolsista do grupo PET Agronomia — Universidade Federal de Santa Maria.

E-mail: miethfernanda@gmail.com

Telefone: (55) 9 9678–4540

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