As tripes (ordem Thysanoptera) configuram pragas secundárias na cultura da soja, ou seja, apesar de causarem prejuízos, normalmente elas não representam um dano econômico expressivo. Entretanto, em algumas situações, a infestação cresce significativamente, podendo ocasionar grandes perdas de produtividade. O inseto já é bastante conhecido por agricultores na produção de hortaliças, algodão, feijão, dentre outras culturas que convivem com a praga há muitos anos. Na cultura da soja, a incidência tem aumentado e surpreendido os produtores, sobretudo na última safra, em que houve baixos níveis de precipitação.
O nome tripes representa as espécies de insetos da Ordem Thysanoptera, que se caracterizam por possuírem cerdas ou franjas nas margens das asas. São pequenos e medem de 0,5 a 5 milímetros de comprimento. Quanto ao seu ciclo de desenvolvimento, varia de 18 a 28 dias. Possuem hábito alimentar majoritariamente fitófago, com algumas espécies predadoras de ácaros, pulgões e cochonilhas. Os insetos-praga têm o aparelho bucal sugador e, quando se alimentam do conteúdo celular, rompem as células das plantas, causando um sintoma de raspagem, inicialmente com marcas de coloração mais esbranquiçada ou prateada, que posteriormente adquirem uma tonalidade mais escura. O ataque não ocorre só nas folhas, podendo apresentar-se nas inflorescências e outras estruturas da planta, dependendo da espécie do inseto.
Um dos danos diretos é a redução da área foliar fotossinteticamente ativa e, por esse motivo, interferem no peso do grão ou semente, diminuindo a produtividade. Além disso, podem ocasionar abortamento de folhas e flores pelo envelhecimento precoce promovido pelos danos na planta. Indiretamente, esses insetos são potenciais transmissores de patógenos, como o vírus que causa a doença “queima-do-broto”.
As características de cada fase de desenvolvimento do inseto são de extrema importância para entender e desenvolver um manejo eficiente. Na fase de larva ou ninfa, quando o inseto adquire coloração amarelada, acontecem os maiores prejuízos. Nessa fase ocorre a danificação do tecido e cera que protegem a planta da desidratação, aumentando a perda de água dentro do tecido vegetal e levando à murcha das folhas.
Na cultura da soja prevalecem as espécies Caliothrips braziliensis e Frankliniella schultzei. A primeira tem preferência de permanecer na parte inferior das folhas, no terço inferior e médio da planta, já a espécie do gênero Frankliniella se instala, na maioria das vezes, no tecido meristemático. Dessa forma, é essencial que ocorra o monitoramento da praga desde os estádios iniciais da cultura, a fim de realizar o controle antecipado para atingir com maior facilidade a superfície abaxial das folhas, onde o inseto fica instalado.
O acompanhamento torna-se mais difícil nos estádios de desenvolvimento avançados e com o aumento da população dos organismos, com riscos de reinfestação caso o controle químico não dispor de tecnologia de aplicação adequada para entrar em contato com a tripes.
O manejo deve acontecer de maneira integrada, considerando-se as culturas no sistema de rotação (atentando-se a hospedeiras como o trigo, feijão, algodão, milho, dentre outras) e o controle de plantas daninhas que servem de abrigo para a tripes e também para as doenças as quais ela transmite, tanto na safra quanto na entressafra.
Inseticidas com ação translaminar devem ser priorizados para que se tenha uma supressão eficiente. Além disso, é importante que eles sejam seletivos a fim de evitar a mortandade de inimigos naturais, como alguns coleópteros, hemípteros, larvas de dípteras e de crisopídeos. Os ingredientes ativos registrados para o controle das duas principais espécies são sobretudo acefatos (organofosforados), clorfenapir (análogo de pirazol), imidacloprido (neonicotinóide) e permetrina (piretróide).
De maneira geral, a tripes não apresenta sérios riscos se manejada e controlada da maneira correta, porém é importante redobrar o cuidado em épocas de deficiência hídrica. Nesse caso, o desenvolvimento na fase de pseudopupa no solo é favorecido, contribuindo para o aumento rápido da população, que seria suprimida naturalmente pela chuva. O vento também é um fator importante de dispersão da praga, visto que ela não possui grande capacidade de voo. Dessa forma, com o monitoramento das espécies, principalmente em períodos de déficit hídrico, manejo integrado, e o controle adequado no momento certo, tem-se eficácia na supressão desse inseto-praga.
Autora: Fernanda Silveira Ribeiro, acadêmica do 2° semestre de Agronomia e Bolsista grupo PET Agronomia — Universidade Federal de Santa Maria
Referências:
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Texto publicado em: https://maissoja.com.br/tripes-na-cultura-da-soja-principais-cuidados-no-manejo/