A cotonicultura é muito promissora no Brasil, visto que é um dos poucos países com território disponível para a expansão da cultura, além de que, a demanda mundial por produtos naturais vem aumentando cada vez mais, favorecendo a fibra no mercado. Segundo a Conab, no ano de 2019, o Brasil passou a ser o segundo maior exportador de algodão mundial, somando 1,61 milhões de toneladas. Sua produção está concentrada principalmente nos estados de Mato Grosso e Bahia, os quais somam cerca de 90% da produção nacional. A atividade em clima tropical pode trazer muitas vantagens, porém também é acompanhada por alguns obstáculos, como a intensidade e severidade de ataques de pragas, doenças e plantas daninhas. Neste texto, abordaremos sobre as principais pragas e uma alternativa para seu controle, visto que muitas delas já são consideradas resistentes a seus inseticidas.
A gama de pragas na cultura do algodoeiro é muito vasta e significativa, em virtude de poderem atacar raízes, folhas, caule, botões florais, flores, maçãs (fruto) e capulhos (fruto aberto e seco). Essa gama compreende o Anthonomus grandis, Heliothis virescens ou Helicoverpa zea, Alabama argilaceae, Aphis gossypií, Pectionophora gossypiella, Tetranychus erticae,Spodoptera frugiperda, Bemisia tabaci, Horcias nobilellus, Diabrotica speciosa, Agrotis ipsilon e Planococcus minor. Daremos foco para algumas delas devido aos danos causados na cultura e importância econômica.
O curuquerê do algodoeiro (Alabama argillacea — Lepidoptera) é uma mariposa de hábitos noturnos, com cor marrom-palha e duas manchas circulares escuras no centro das asas anteriores. Sua lagarta mede cerca de 40mm, com coloração entre verde-amarelado e verde-escuro, sua cabeça é amarelada com pontuações pretas e listras longitudinais ao longo do corpo, locomovendo-se como “mede-palmo” (Figura 1). O curuquerê ataca o limbo foliar, acometendo as folhas quase que totalmente, causando uma desfolha intensa. Dependendo da época em que o ataque ocorre, ele pode causar maturação precoce das maçãs (diminuindo resistência das fibras) e paralisação da frutificação.
As lagartas-das-maçãs (Heliothis virescens e Helicoverpa zea — Lepidoptera), possuem hábitos noturnos, com oviposição isolada nos ponteiros, folhas novas ou nas brácteas dos botões florais. Ambas possuem colorações parecidas, sendo que na H. virescens a asa anterior é verde-amarelada com três faixas marrons oblíquas e asas posteriores claras, com faixa cruzada no centro, já a H. zea possui asas anteriores amareladas ou verde-amareladas, com faixa reniforme escura e asas posteriores claras. Suas lagartas possuem coloração variada (marrom, verde, rosada, amarelada), com manchas pretas. Ambas lagartas causam danos, resultando na destruição dos botões e maçãs, como mostrado na figura 2, e em menor parte, nas flores.
O bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis — Coleoptera) é considerado a principal praga da cultura atualmente, sendo que seu prejuízo pode acometer 75% da produção (Degrande et al., 2004 e Degrande, 2006). Seu adulto é um besouro (Figura 3) marrom avermelhado a cinza escuro, sendo que a coloração varia de acordo com a idade do inseto.
Mede em torno de 7mm, possui um bico prolongado com a boca em sua extremidade, além de um par de espinhos localizados no fêmur da perna anterior. Seu ataque se dá nos botões florais, nos quais as brácteas tornam-se amarelas e caem após sete dias. As maçãs atacadas podem cair ou não, ficando deformadas ou abrindo irregularmente, se estas estiverem em desenvolvimento pode ocorrer abortamento. As sementes no interior da maçã ficam destruídas e a fibra apresenta manchas. Segundo CEPEA, se o controle dessa praga não fosse feito, causaria uma redução de cerca de 30% na produção.
Um conjunto de ferramentas que está sendo utilizado como alternativa para o controle das pragas na cotonicultura, é o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que visa integrar várias técnicas de controle populacional (controle biológico, cultural e genético), para que essa população existente não cause danos econômicos à produção e também para evitar o uso indiscriminado de inseticidas, que leva a resistência de insetos. Estratégias de controle que podem ser utilizadas para diversas pragas são queima de plantas voluntárias, adubações com sulfato de amônio, utilização de calcário, rotação de culturas, e cultivares de algodão transgênico (Bollgard®). Porém, a utilização de insetos parasitas de pragas ou predadores, é específica para cada espécie, aumentando a biodiversidade de insetos não praga no ambiente.
A cultura do algodoeiro possui pragas diversas que podem atacar e causar danos muito significativos na produção e na qualidade das fibras. O controle dessas pragas é de extrema importância, porém, a utilização de inseticidas pode selecionar insetos resistentes, dificultando mais ainda seu controle, por esse motivo, o uso de técnicas empregas pelo MIP é uma opção de grande valência, principalmente do ponto de vista da sustentabilidade do meio ambiente, além da diminuição de perdas, manter alta produção e evitar gastos extras.
Referências:
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BASTOS, Cristina S. e TORRES Jorge B., 2005. Controle Biológico e o Manejo de Pragas do Algodoeiro.
PEREIRA Mônica J. B., ALBUQUERQUE Fábio A. de, BASTOS Cristina S., 2006. Pragas do algodoeiro: identificação, biologia e sintomas de ataque.
MIRANDA José E., 2010. Manejo integrado de pragas do algodoeiro no cerrado brasileiros.
CARVALHO Saul, 2018. A cultura do algodoeiro.
PRAÇA Lilian B., 2007. Anthonomus grandis Boheman, 1843 (Coleoptera: Curculionidae).
AZAMBUJA Rosalia, DEGRANDE Paulo E., 2013. Trinta anos do bicudo-do-algodoeiro no Brasil.
SEVERINO Liv S., RODRIGUES Sandra M. M., CHITARRA Luiz G., LIMA Joaquim Filho, CONTINI Elisio, MOTA Mierson, MARRA Renner e ARAÚJO Adalberto, 2019. Cultura do algodão cresce no Brasil, mas desafiam aumentam. Disponível em: <https://www.brasilagro.com.br/conteudo/cultura-do-algodao-cresce-no-brasil-mas-desafiam-aumentam.html>. Acesso em: 20 de junho, 2020.
Agro Bayer Brasil. Lagarta das maçãs. 2018. Disponível em: <https://www.agro.bayer.com.br/alvos/lagarta-das-macas-heliothis-virescens> Acesso em: 5 de agosto, 2020.
Olhar Agro & negócios. Uma das pragas que mais prejudica o algodoeiro, o Curuquerê pode destruir até 30% da lavoura, saiba mais sobre esta lagarta. 2015. Disponível em: <https://www.agroolhar.com.br/noticias/exibir.asp?id=19643¬icia=umas-das-pragas-que-mais-prejudica-o-algodoeiro-o-curuquere-pode-destruir-ate-30-da-lavoura-saiba-mais-sobre-esta-lagarta>. Acesso em: 20 de junho, 2020.
Autora:
Julia Damiani ,acadêmica do 2º semestre de Agronomia e bolsista do grupo PET Agronomia — Universidade Federal de Santa Maria
Texto publicado em: https://maissoja.com.br/pragas-do-algodoeiro/