Até o fim da década de 1990, a Lagarta Chrysodeixis includens, popularmente conhecida como Lagarta-falsa-medideira, era considerada uma praga secundária na cultura da soja devido ao seu baixo índice de infestação nas lavouras. Contudo, na década de 2000 começaram a ocorrer surtos dessa espécie em cultivos de soja, passando a ser considerada uma praga de grande importância econômica. Algumas hipóteses sugerem que a alta incidência desse inseto nas lavouras ocorreu com a entrada da Ferrugem Asiática (Phakospsora pachyrhizi) no Brasil e o aumento do uso de fungicidas para o controle dessa doença, isso levou a morte de fungos entomopatogênicos que auxiliavam no controle de C. includens (Grupo Cultivar, edição 191).
A lagarta falsa-medideira é de origem tropical e subtropical do Continente Americano, é polífaga, ou seja, se alimenta de várias espécies de plantas. Hospeda plantas de algodão, feijão, tomate, girassol e fumo, mas tem preferência e melhor adaptabilidade às plantas de soja. É uma lagarta de fácil identificação, possui dois pares de falsas pernas na região abdominal e um par na região caudal, sua coloração pode ser influenciada pela alimentação, mas em geral possui cor verde-clara, com listras brancas longitudinais e pontuações pretas no corpo (PROMIP), conforme a figura 1.
A realização do monitoramento é de extrema importância para o controle da praga. Deve ser realizado através de amostragens com pano de batida em número representativo para a lavoura (1 a 10 ha, 6 pontos; 10 a 30 há, 8 pontos; 30 a 100 há, 10 pontos) e frequentemente. As primeiras percepções da presença da praga na lavoura são, a desfolha da soja em forma de rendilhados, construção de uma teia de seda onde se prende durante a fase de pupa, quando adulta, a mariposa apresenta coloração marrom-acinzentada e suas oviposições geralmente são isoladas e na parte inferior do dossel foliar com coloração amarelada. Deve ser controlada quando apresentar dano econômico de 30% na fase vegetativa e 15% na fase reprodutiva da soja, equivalente a 20 lagartas/metro em ambas as fases (IRAC-BR).
Por décadas, a lagarta-falsa-medideira foi controlada por inseticidas químicos (Ramalho, 1994). O uso contínuo desses inseticidas, muitas vezes não seletivos, submeteram a espécie a altas pressões de seleção, reduzindo a performance no controle da praga. O Comitê de Ação a Resistência a Inseticidas (IRAC-BR) e STACKE et al. 2020, constataram resistência desenvolvida por populações de campo de C. includens à inseticidas inibidores da biossíntese de quitina (IRAC MoA 15).
Dessa forma, algumas estratégias de manejo para controlar a falsa-medideira devem ser utilizadas, tais como:
- Rotação de culturas com plantas não hospedeiras da praga, favorecendo a quebra do ciclo do inseto e reduzindo os níveis populacionais;
- Uso de cultivares BT. Para a cultura da soja, há no mercado cultivares que expressam a proteína inseticida Cry1Ac que controla includens. Nesse caso, é importante fazer o plantio de áreas de refúgio — área de plantio destinada a cultivares que não expressam proteínas da bactéria Bacillus thuringiensis. A área deve possuir 20% do total plantado com cultivar BT. O refúgio ajuda a minimizar a evolução da resistência de insetos às plantas, de forma que estas permaneçam mais tempo no mercado.
- Uso de inseticidas. Muito importante em áreas onde não são utilizadas plantas BT. Em áreas de refúgio, busca-se utilizar o mínimo possível de inseticidas para não extinguir totalmente a população praga que é importante para a manutenção da tecnologia BT.
Ao que se refere ao uso de inseticidas, é importante respeitar as janelas de pulverização para minimizar a exposição de mais de uma geração dos insetos ao mesmo modo de ação do inseticida ou utilizar inseticidas biológicos que estão no mercado, como algumas opções de vírus, fungos ou bactérias.
Desse modo, para o agricultor assegurar o manejo eficiente da Lagarta-falsa-medideira, é importante fazer a adoção de boas práticas agrícolas, realização de programas de manejo integrado de pragas e manejo da resistência de insetos, monitorar constantemente a lavoura em busca de focos de lagarta ou de ovos no dossel foliar, fazer uso de áreas de refúgio, utilizar inseticidas com diferentes modos de ação, bem como inseticidas biológicos e seletivos. Assim, espera-se retardar a evolução da resistência da lagarta C. includens, aumentar os lucros produtivos na lavoura e possibilitar que os produtos disponíveis para seu controle permaneçam mais tempo no mercado.
Referências:
REVISTA CULTIVAR. Manejo integrado da lagarta falsa-medideira em soja. Edição 191. Disponível em: https://www.grupocultivar.com.br/artigos/manejo-integrado-da-lagarta-falsa-medideira-em-soja
AGRO BAYER BRASIL. Lagarta falsa-medideira da soja. Disponível em: https://www.agro.bayer.com.br/alvos/lagarta-falsa-medideira#tab-4
IRAC-BR, Comitê de Ação a Resistência a Inseticidas Brasil. Falsa-medideira, Chrysodeixis includens. Disponível em: https://www.irac-br.org/
PROMIP, Manejo integrado de pragas. Lagarta falsa-medideira na cultura da soja. Disponível em: https://www.promip.agr.br/lagarta-falsa-medideira-cultura-soja/
STACKE, Regis F., et al. “Field-evolved resistance to chitin synthesis inhibitor insecticides by soybean looper, Chrysodeixis includens (Lepidoptera: Noctuidae), in Brazil.” Chemosphere (2020): 127499. https://doi.org/10.1016/j.chemosphere.2020.127499
RAMALHO, F.S., 1994. Cotton pest management: Part 4. A Brazilian perspective. Annu. Rev. Entomol. 39, 563e578. https://doi.org/10.1146/annurev.en.39.010194.003023
Autor:
Venicius Ernesto Pretto , acadêmico do 3º semestre do curso de Agronomia e bolsista do PET Agronomia — Universidade Federal de Santa Maria .
Texto publicado em: https://maissoja.com.br/manejo-de-chrysodeixis-includens-em-soja/