Os encaminhamentos da pesquisa surgiram a partir de reflexões pessoais advindas das motivações que permeavam a produção em gravura durante o meu percurso nos ateliês. As gravuras que iniciaram o meu processo usavam como referências fotografias de grupos étnicos do continente africano as quais se potencializam com a cor preta da tinta e a expressividade dos vazios na matriz. Esse processo possibilitou a mim ressignificar a cor preta, associando à cor retinta da pele negra. Assim como me conectar com a cultura afro- brasileira, aproximando-me visualmente não mais de referências distantes geograficamente, mas de referências visuais brasileiras. Nessa aproximação, com fotografias de negros e negras do século XIX, desenvolvi como Trabalho de Conclusão de Curso (defendido em 2019) uma série de obras em que o espelho era o suporte e, por sua vez, cobria-o de tinta preta e entalhava sobre a tinta as figuras presentes nas fotografias usadas como referência. Desse modo, propunha uma aproximação tanto de quem observava quanto do meio em que as obras estavam; assim como um confronto de visualidades entre o presente e o passado. Ao todo são 14 obras que expõem a pluralidade e diversidade da população afro-brasileira. Sendo assim, como objetivos específicos, busco com essa série ressignificar o olhar sobre si a partir do olhar sobre o outro, elucidando os estranhamentos que ocorrem em minha experiência como pessoa negra que teve e tem pouco contato com outras pessoas negras e, consequentemente, com as manifestações culturais afro-brasileiras; propor confrontamentos entre passado e presente por meio da justaposição de visualidades de fotografias do século XIX e visualidades contemporâneas e, assim, discorrer sobre as origens e narrativas afro-brasileiras que contam a história da população negra por outro viés que não o da escravidão unicamente, através de fotografias do século XIX que expõem a diversidade étnica da época.