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[GRITOS DO SILÊNCIO] TikTok e crianças: exposição e adultização nas redes sociais

Pesquisa revela que 88% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos de idade possuem alguma rede social.



Em tempos de intensificação da presença no ambiente virtual, o uso das redes sociais por crianças torna-se cada vez mais predominante. Ainda que haja sistemas regulatórios de idade para barrar o acesso de menores nas plataformas, eles são facilmente burlados devido a falhas na confirmação de identidade.

Conforme a pesquisa TIC Kids Online Brasil de 2023, coordenada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), a porcentagem de menores de idade na faixa etária de 9 a 17 anos que possuem alguma rede social é equivalente a 88% de sua população. Dentre as plataformas digitais utilizadas por esse grupo, o TikTok se encontra em 3º lugar, com 27% do público.

Conhecido pelos vídeos de curta duração, o aplicativo chinês TikTok, lançado em 2016, se popularizou no período pós pandemia como um espaço aberto para a criação de conteúdos de entretenimento e a expressão da criatividade. Durante o isolamento social, o público aderiu à rede como um meio de interação e compartilhamento de informações. A resposta positiva dos usuários sobre ela permitiu a expansão de suas funções para usos que ultrapassam o lazer, se transformando em um lugar favorável para a comercialização de produtos e serviços. 

A consultoria de marketing estadunidense Her Campus Media indica que o TikTok é responsável por influenciar o consumo de 75% da geração Z. Além de provocar um grande impacto no funcionamento do mercado, hoje o TikTok dita as tendências do momento, desde o nicho de moda e músicas até o de estilo de vida.

O acesso do público infantil a essa quantidade de informações, muitas vezes voltada a jovens e adultos, pode gerar danos às etapas de entendimento do mundo e de si para a criança. Um dos fenômenos observados com o excesso do uso de redes sociais pelas crianças é a adultização infantil.

 

Redes sociais e adultização infantil

O termo “adultização infantil” se refere à aceleração forçada do desenvolvimento da criança para que ela tenha comportamentos não esperados de sua idade. Quando inserida nas mídias sociais, sem a supervisão adequada de um responsável, a criança está sujeita a essa circunstância.

A psicóloga Bruna Cousseau, especializada em Desenvolvimento Infantil, explica que, no período da infância e adolescência, as redes sociais podem promover distorções de imagem e causar confusão na percepção moral, uma vez que faculdades mentais ainda estão em formação. “Sabemos que a constituição da percepção de quem somos é modelada e aprendida no ambiente em que estamos inseridos. Esse ambiente virtual também se torna fator influenciador das crenças em formação sobre nós, nossas capacidades, nossas qualidades e defeitos, autoconceito e autoimagem, tornando fácil a apropriação desses modelos”, afirma.

Com a cultura do cancelamento fortificada nas plataformas, movimento que pode incitar o linchamento virtual para individuos que cometem algum erro, a preocupação sobre a saúde mental de crianças e adolescentes expostas a essas situações é redobrada. “Eles estão mais vulneráveis às críticas e julgamentos recebidos, compreendendo que o senso de si está em formação e que habilidades como de avaliação, senso crítico e discernimento ainda se encontram muito incipientes”, destaca a psicóloga.

Bruna ressalta que, a depender das características individuais e temperamentais da criança e do adolescente, a exposição a comentários negativos e a exclusão podem ser fatores agravantes para o surgimento de psicopatologias, como a ansiedade e depressão. Segundo ela, o uso excessivo das plataformas digitais reflete, também, nas relações interpessoais do público infantojuvenil. “A aptidão para comunicar a própria opinião e emoções, se autorregular e controlar impulsos, se posicionar e estabelecer limites, falar em público e ser empático se tornam possíveis problemas”, salienta.

 

Segurança digital

Para proteger as crianças e adolescentes de danos à sua integridade e preservar a fase da infância, Bruna aconselha os responsáveis a manterem um diálogo aberto sobre os perigos online. “É fundamental a abertura para trocas de ideias e orientações sobre os comportamentos e pessoas que devem ser evitadas, como não compartilhar endereço, fotos ou informações pessoais. Também deve-se falar claramente sobre os perigos e deixar claro que, na internet, é preciso tomar os mesmo cuidados com desconhecidos e com o que publica e acessa”, reitera.

Em 2023, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) implementou o portal “De Boa na Rede”, que dispõe de orientações para pais e responsáveis sobre como proteger os filhos dentro das mídias sociais. Com o objetivo de combater os crimes cibernéticos contra crianças e adolescentes, o site disponibiliza ferramentas para controle parental, instruções para verificar a maneira como as redes estão sendo acessadas e uma área destinada à realização de denúncias.

A indicação de Bruna é que sejam aliados a esse monitoramento de atividades a adição de filtros de conteúdo e o controle de tempo nas telas. “Esse cuidado deve ser reforçado, principalmente, nas redes sociais, que são locais onde se pode interagir com outras pessoas, muitas vezes desconhecidas. É necessário estar próximo enquanto a criança estiver utilizando as telas e realmente acompanhar, além de ter acesso a todas as suas senhas”, adiciona.

 

Sociabilidade e vida acadêmica

A psicopedagoga Rafaela Nascimento, que também possui especialização na área de Desenvolvimento Infantil, menciona que crianças e adolescentes muito expostos à internet possuem mais dificuldades em lidar com outras pessoas pela falta de paciência e autocontrole. “Eles não têm muita paciência para momentos de diálogo e fazer novas amizades. Não conseguem trabalhar em equipe e ter um raciocínio de resolver conflitos, são crianças mais ansiosas. Vivem em uma bolha e essa é a realidade delas, então, quando se deparam em uma situação em que devem ver a realidade do outro, podem não entender e achar que é errado”, complementa.

Outra área vulnerável a esses efeitos é a vida acadêmica. Em contraste com o modelo de vídeos rápidos de entretenimento, os conteúdos de aprendizagem se tornam maçantes e exigentes. Segundo o estudo OPEE 2023 – Educadores Brasileiros: educando na era digital, profissionais da educação consideram que os impactos da tecnologia no desenvolvimento do comportamento infanto-juvenil são, de modo majoritário, negativos. As principais consequências são a redução da interação e da convivência entre os pares (30,20%) e a dificuldade de concentração e foco (29,86%).

De acordo com Rafaela, atualmente, a leitura de crianças e adolescentes está fragilizada, assim como a capacidade de interpretação de texto. “Elas já estão mais habituadas a ficar assistindo o vídeo. Não conseguem organizar os pensamentos para fazer atividades da escola. Então tem aí esses prejuízos”, alerta.

 

Camila Castilho

Repórter do Gritos do Silêncio, estudante de Jornalismo pela UFSM. Contato: camila.castilho@acad.ufsm.br

 

Ilustração: Isadora Bortolotto, repórter do Gritos do Silêncio e estudante de jornalismo pela UFSM. Contato: isadora.bortolotto@acad.ufsm.br

Revisão e publicação: Kemyllin Dutra, repórter do Gritos do Silêncio, estudante de Jornalismo pela UFSM. Contato: kemyllin.dutra@acad.ufsm.br

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