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[GRITOS DO SILÊNCIO] Doação de corpos no Brasil: o luto, o preconceito e o avanço científico

Estudo aponta motivos religiosos e falta de aceitação familiar como barreira



 

Para quem tem fé, a morte é só mais uma fase no grande escopo da existência humana. As religiões, por mais diversas que sejam, têm algo em comum: procuram dar um significado maior para o fim da vida. Quando a hora chegar, a “alma” – objeto de salvação em muitas crenças – deixará o corpo, que por sua vez, permanecerá num caixão, numa urna, ou qualquer outra opção que aquele indivíduo preferiu em vida. 

O estudo daqueles que “já se foram” não é de hoje. Aconteceu, pioneiramente, no Egito Antigo, e então, pouco a pouco, foi atravessando a história. Na Europa, cadáveres de criminosos eram utilizados para estudos de anatomia. Depois, a morfologia (o estudo dos seres vivos) já estava presente em todo o mundo e passou a ser realizada em corpos não-reclamados – que não puderam ser reconhecidos depois do falecimento. 

A utilização de cadáveres doados tem superado a de indigentes em diversos países, conforme pesquisa publicada na Revista Brasileira De Educação Médica. Apesar disso, o ato ainda é questionável para algumas pessoas no Brasil. Tanto fatores culturais quanto a falta de conhecimento sobre a doação podem ser agentes dificultadores para o processo.

Desde novembro de 1992, no Brasil, a lei nº 8.489 determina que a doação de cadáver pode ser feita ainda em vida. Basta que a pessoa tenha mais de 18 anos ou o consentimento dos responsáveis legais, e tenha deixado expressa a vontade de doar por meio de um testamento físico, virtual ou uma escritura pública. Para o procedimento acontecer depois da morte, um familiar ou representante do falecido deve ter ciência da intenção de doar, concordar com o processo e preencher os mesmos testamentos.

Tabus e suporte psicológico

Embora os trâmites pareçam menos burocráticos do que se espera, a doação de cadáveres, especialmente após a morte, pode ser muito difícil. As barreiras do preconceito e do desconhecimento acerca da prática por parte dos familiares podem sobrepor o sonho de um futuro doador. 

Em um estudo realizado em 2023 na Universidade Federal do Maranhão com 125 discentes da área da saúde, 35,2% dos entrevistados alegaram que não doariam o próprio corpo. Entre os acadêmicos, 9,1% apontaram que seus familiares não aceitariam, 6,8% não doariam por motivos religiosos e 4,5% por vergonha de reconhecimento.

A psicóloga Maria Maristela Jordani explica que, às vezes, há quem não deseje que seus familiares doem, mesmo tendo eles o direito e o pedido atestado. Nesses casos, ela auxilia a família do doador a “elaborar tanto a ‘culpa’, quanto o luto”. O serviço prestado por Maria e por outros psicólogos que atuam em centrais de doação é uma das formas de combater os preconceitos relativos ao processo. 

Segundo a profissional, após 20 dias de doação, os profissionais vão até as famílias e oferecem um atendimento que ela define como acolhedor e humanizado. Essa etapa serve para “ressignificar o luto, ocupando os familiares com a perspectiva de movimento, de que o corpo não será mais ‘utilizado’ pelo seu ente querido”.

A doação voluntária de corpos na UFSM

Na Universidade Federal de Santa Maria, o Departamento de Morfologia, ligado ao Centro de Ciências da Saúde, recebe doações desde 2016, quando deu início ao Programa de Doação Voluntária de Corpos. A ação é fundamental para estudantes de 18 cursos, de graduação e pós-graduação, que têm seu primeiro contato com cadáveres humanos na disciplina de Anatomia.

De acordo com o coordenador do programa, Carlos Eduardo Seyfert, o departamento conta, hoje, com 11 cadáveres advindos de doações. Há anos, o programa não recebe corpos indigentes. Nos métodos de ensino se mantém o respeito ao cadáver: não são permitidas fotografias, nem filmagens, no momento da aula. 

 

Os professores fazem questão de conversar com os alunos sobre a importância desse estudo e o quão dificultosa pode ser a doação. Em algumas universidades, os estudantes passam pela formação sem manejar corpos humanos. Na tentativa de suprir a falta de cadáveres, livros de anatomia são utilizados e modelos em plástico, resina ou simuladores virtuais auxiliam para uma maior compreensão das práticas físicas.

 

Para realizar a doação para a UFSM, é preciso preencher as declarações necessárias, sendo uma para si e outra para terceiros. Para mais informações sobre o procedimento dentro da Universidade, é possível entrar em contato com o endereço de e-mail: doeseucorpo@ufsm.br.

Pedro Gonçalves

Repórter do Gritos do Silêncio, estudante de Jornalismo pela UFSM. Contato: pedro.marion@acad.ufsm.br

Foto: Rafael Happke/Revista Arco

Edição e publicação: Kemyllin Dutra, repórter do Gritos do Silêncio, estudante de Jornalismo pela UFSM.

Contato: kemyllin.dutra@acad.ufsm.br

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