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[GRITOS DO SILÊNCIO] Entre letras e muros: a elitização do ensino no Brasil

“A falta de acesso ao conhecimento e à cultura prejudica todo mundo”, afirma doutora em Literatura Comparada



A educação brasileira nasceu marcada por divisórias sociais que deram forma ao sistema e estruturaram uma sociedade segregada. Segundo estudos sobre a dualidade da escola brasileira na primeira metade do século XX realizados pela mestre em história Elianda Tiballi, é possível observar na análise da história da educação no Brasil que vários interferências ocorreram na estruturação do ensino público. Entre os fatores estão a herança cultural, a ordem política e o sistema econômico. 

Dessa maneira, o Brasil cresceu sob uma organização educacional surgida em meados do século XIV que focava no ensino formal para a elite colonial e religiosa existente no país. Ainda durante as expedições jesuíticas, as escolas eram feitas para ensinar o homem branco e rico que se alocou aqui. 

De modo geral, a origem da educação brasileira é afetada por dependência, exploração, violência e desrespeito às diferenças culturais. Além disso, ela foi insuficiente em questões de igualdade e é considerada assim ainda hoje. A pesquisa Global Education Monitor 2024 aponta que 38% dos brasileiros entrevistados consideram o acesso desigual à educação como o maior obstáculo educacional em nosso país. 

A professora do Centro de Artes e Letras da Universidade Federal de Santa Maria, Cinthia Belonia, explica que o processo histórico da educação no Brasil fortaleceu, de algum modo, o colonizador. Para ela, que estudou em seu doutorado Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas em Língua Portuguesa com foco em estudos culturais e pós-coloniais, a educação formava líderes que ajudaram o colonizador a comandar o território, seja dentro das comunidades originárias ou das capitanias hereditárias. 

Todas essas etapas construíram barreiras entre as parcelas minoritárias da sociedade e o ambiente educacional de qualidade. A elitização do acesso ao conhecimento é um fator determinante para o estado em que a educação brasileira se encontra.

Panorama da educação brasileira

 

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), cerca de 400 mil crianças e jovens entre 6 e 14 anos não frequentavam a escola em 2023. No mesmo ano, dados analisados pelo UNICEF indicavam que 13,3% dos estudantes do ensino fundamental das redes estaduais e municipais de ensino têm dois ou mais anos de atraso escolar. A evasão escolar em escolas urbanas também assusta: o Censo Escolar 2023 apontou 5,9% de desistência.

Embora não seja o único motivo, o sucateamento da educação pública pode ser um potencializador da falta de interesse ou da impossibilidade de permanência por parte de jovens estudantes. Em outubro de 2022, o Tribunal de Contas da União avaliou as escolas brasileiras e chegou à conclusão que, em termos de infraestrutura, quase 60% das salas de aula estavam inadequadas.

A visão que persegue a educação pública a faz menos valorizada e a torna vítima de sucateamento. Assim, a elitização do acesso ao conhecimento formal de qualidade e à cultura como forma de lazer (seja ela cinematográfica, teatral ou de literatura) se fortalece.

Reflexos na leitura

Conforme dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2020, em quatros anos houve uma queda de 4% no número de leitores no país. A coordenadora da pesquisa, Zoara Failla, em entrevista à Agência Brasil, declarou que “o Brasil está vivendo uma crise na economia, vemos dificuldade para o acesso, para a compra [de livros]. As pessoas estão frequentando menos bibliotecas”. 

Nas prateleiras, os preços assustam aqueles que desejam consumir literatura. Uma pesquisa realizada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Nielsen Book mostra que no segundo semestre de 2024 houve um aumento de 12,47% no preço dos livros, fazendo com que atingissem um preço médio de R$ 54,49.

Em 2020, o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu a taxação de livros alegando que esses artigos são itens de luxo. Cinthia relaciona esse posicionamento e o alto preço de itens literários ao desestímulo à leitura. “Quando aumenta o imposto sobre o livro, aumenta o preço do papel para as editoras e isso também vai cair em cima do consumidor na hora de comprar o livro”, explica. 

Para a professora, a elitização é enraizada em nossa cultura e, para desconstruí-la, o primeiro passo é tornar acessíveis a educação e a cultura. “A cultura deve ser financeiramente acessível. Todos tinham que ter a oportunidade de conhecer várias coisas. Por mais que eu goste de ler, tem um tipo de literatura que não me interessa, mas para chegar a essa conclusão, eu antes pude conhecer variados estilos. A falta de acesso ao conhecimento e à cultura prejudica todo mundo. O alvo afetado não é só a classe trabalhadora ou a elite”, afirma.

 

Darlan Lemes

Repórter do Gritos do Silêncio, estudante de Jornalismo pela UFSM.
Contato: darlan.lemes@acad.ufsm.br

Foto: Kemyllin Dutra

Edição e publicação: Kemyllin Dutra, repórter do Gritos do Silêncio, estudante de Jornalismo pela UFSM. 

Contato: kemyllin.dutra@acad.ufsm.br

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