A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, n° 13.146/2015, assegura um conjunto de direitos e liberdades fundamentais para PCDs, que buscam promover a igualdade de condições, a inclusão social e a cidadania. A norma deveria ser seguida rigorosamente em todas as instituições que aceitam pessoas com alguma deficiência em seu ambiente, mas, em muitos casos, isso não acontece.
A Universidade Federal de Santa Maria, em seus 62 anos de existência, sempre contou com uma forte assistência estudantil, a fim de proporcionar boas experiências e a permanência de universitários. Entretanto, a segunda maior universidade do Rio Grande do Sul que, somente no ano de 2022, teve 64 matrículas de pessoas com deficiências efetivadas, conta com espaços inacessíveis em seu campus sede. Essa falta de acessibilidade cria desafios diários para estudantes PCDs que circulam pelo local.
O problema na prática
O estudante de Ciências Sociais Paulo César Marques Júnior possui deficiência física e relata alguns problemas que encara ao frequentar o Restaurante Universitário, principalmente quando precisa usar o banheiro. “O banheiro tem acessibilidade, mas não tem acesso adequado nas capelas com vaso sanitário. Tem a instalação necessária para mictório, mas ainda não foi colocado. Um mictório seria muito útil, pois eu não precisaria de auxílio, poderia continuar com minha autonomia, ir ao banheiro e sair”, explica o universitário.
Outras dificuldades são citadas, como a largura das portas, que em algumas ocasiões dificultaram o acesso com a cadeira de rodas, e os problemas de acesso no Centro de Convenções da UFSM, onde o estudante passou por alguns impedimentos. “Eu trabalhei no evento “Brasil Terra Indígena”, fiz parte da organização, mas não tive acesso ao palco, pois não havia rampa. Isso é muito complicado, ainda mais sendo um prédio novo da UFSM”, comenta Paulo.
Auxílio da UFSM e da comunidade acadêmica
Embora invisível para algumas pessoas, a questão da acessibilidade, de modo geral, recebe um olhar muito atencioso da comunidade acadêmica. A acadêmica Letícia Severo, que cursa Jornalismo e possui deficiência visual, enfrenta algumas dificuldades na Universidade. “Em alguns lugares da UFSM, procuramos referências para nos locomover, porque não tem um piso tátil. No prédio 21, por exemplo, que tem poucas referências, acabamos procurando referências próprias”, explica.
Sobre esses desafios no referido prédio e sua relação com professores, servidores e outros estudantes, Letícia conta: “Faltam elevadores e referências, então, quando eu tenho aula no 21, sempre tenho que contar com o auxílio dos colegas ou de alguém que já conheço para ir e voltar”. A estudante menciona que, apesar disso, a UFSM tem dado um bom auxílio, por meio da Coordenadoria de Ações Educacionais (CAED), subunidade administrativa vinculada à Pró-Reitoria de Graduação.
A CAED desenvolve ações de apoio junto ao público da UFSM, como a promoção da aprendizagem e da acessibilidade. O setor disponibiliza terapeutas ocupacionais que ajudam na locomoção de PCDs e oferecem estratégias que dão mais autonomia a esses estudantes nos espaços que eles mais utilizam. O projeto Gritos do Silêncio contatou a CAED para tirar dúvidas sobre a falta de acessibilidade nos pontos expostos pelos entrevistados, mas até a data de publicação da reportagem, não houve respostas.
Texto: Kauã Mello
Repórter do Gritos do Silêncio, estudante de Jornalismo pela UFSM. Contato: kaua.mello@acad.ufsm.br
Foto: Kauã Mello, autor da reportagem.
Revisão: Kemyllin Dutra, repórter do Gritos do Silêncio e estudante de jornalismo pela UFSM. Contato: kemyllin.dutra@acad.ufsm.br
Publicação: Elisa Bedin, repórter do Gritos do Silêncio e estudante de jornalismo pela UFSM. Contato: elisa.bedin@acad.ufsm.br