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[GRITOS DO SILÊNCIO] Você realmente está bem?

Como a rotina acadêmica pode prejudicar a saúde mental dos estudantes



A imagem é a fotografia de uma estudante branca, que possui cabelo castanho claro, amarrado em um coque, e usa uma regata amarela. Ela está sentada em uma mesa da biblioteca, e tem no rosto uma expressão de cansaço, enquanto lê um livro. Sua cabeça está apoiada na mão direita, como se estivesse tentando se manter acordada.
Conforme estudo realizado na Universidade Federal da Bahia, cerca de 79% dos acadêmicos têm questões relacionadas à saúde mental.

Acordar cedo, ir para a aula, estudar, estagiar, fazer parte de grupos de pesquisa ou projetos de extensão e, ainda, socializar e ter tempo de lazer – tudo isso com pouco dinheiro disponível. Não é de hoje que a rotina do universitário, principalmente o que estuda em instituições federais, é agitada e, não raro, conturbada. Além de sofrer com a alta demanda de atividades acadêmicas, o estudante, muitas vezes vindo de longe e sem uma rede de apoio por perto, nem sempre se adapta a essa realidade e, assim, os problemas psicológicos começam a aparecer.

De acordo com a pesquisa disponibilizada na dissertação de Rafael Anunciação Oliveira, doutorando em psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), realizada com alunos da referida instituição, de 509  participantes, 78,6% possuem suspeita de Transtornos Mentais Comuns. Os TMC, como são popularmente conhecidos, são um conjunto de sintomas que podem indicar ansiedade e depressão, por meio de irritabilidade, fadiga, insônia, falta de atenção e esquecimento, entre outros. Ademais, a pesquisa mostra que o percentual de estudantes do gênero feminino com tais sintomas é maior (83,9%).

Em dados gerais, conforme o estudo “Global Student Survey”, feito pela Chegg.org em 2021, 87% dos universitários brasileiros declaram que a pandemia do Covid-19 aumentou o estresse e a ansiedade. A consulta foi aplicada em 21 países e 16,8 mil jovens de 18 a 21 anos foram ouvidos. No Brasil, a análise indica que os principais desafios que essa geração enfrenta – e que atuam como motivadores para a ansiedade – são o aumento da desigualdade e o acesso escasso a empregos de qualidade.

A procrastinação é uma das adversidades trazidas pela ansiedade, e faz com que o trabalho não seja realizado, mas, ao mesmo tempo, a necessidade de realizar a tarefa fique na cabeça do procrastinador. Procrastinar de vez em quando é comum, principalmente quando se lida com algo maçante. No entanto, do ponto de vista da saúde mental, essa prática, quando recorrente, é extremamente prejudicial e pode ser sinal de casos mais sérios, como a ansiedade, a depressão e a Síndrome de Esgotamento Profissional (Burnout).

As universidades preparam seus discentes não só para o mercado de trabalho, mas também para a pesquisa, um dos principais focos dessas instituições. Ler por horas em frente ao computador, virar noites para escrever artigos ou perder o sono para preparar apresentações são parte da rotina de pesquisadores. Esses hábitos, combinados a pouco ou nenhum autocuidado, podem gerar alta carga de estresse. Um levantamento de 2018 da psicóloga e doutora em Filosofia, Teresa Evans, revela que de 2.279 acadêmicos entrevistados, 41% têm ansiedade moderada a grave e 39% depressão moderada a grave.

Aqui na UFSM, o cenário não é diferente. Segundo o psicólogo da Clínica de Estudos e Intervenções em Psicologia (CEIP), Álysson Pacheco, a maioria dos alunos que procuram atendimento estão sobrecarregados, frequentemente por uma exigência no ambiente universitário, e, por isso, deixam de lado seu próprio bem-estar. O profissional destaca que os estados emocional e psicológico devem receber atenção, uma vez que esses fatores são responsáveis, também, por aumentar a produtividade e afastar a procrastinação.

Clínica de Estudos e Intervenções em Psicologia (CEIP)

O psicólogo da CEIP relata que a pressão sobre os universitários existe, mas que não é a única responsável pelo desenvolvimento de questões mentais. “O modo como os estudantes lidam com essas demandas e suas capacidades e habilidades individuais de resiliência e de resolução de diversos problemas influenciam muito essa perspectiva de saúde mental”, afirma Pacheco. Com essa procura por atendimento psicológico, a UFSM oferece serviços por meio da Coordenadoria de Ações Educacionais e dos próprios Centros de Ensino, através as Unidades de Apoio Pedagógico, além da CEIP.

Porém, essas ofertas muitas vezes não chegam a todos os alunos da instituição, fato que pode ser associado a uma fragmentação nos serviços. Outro aspecto a ser considerado é que o principal objetivo da Universidade é a educação, o que torna essencial uma contrapartida do município de Santa Maria para fortalecer a rede de atendimento psicológico gratuito. Sem isso, existe uma sobrecarga de demanda na Instituição, que, muitas vezes, não possui estrutura ou profissionais suficientes.

Os atendimentos psicológicos da clínica, atualmente realizados por psicólogos e estagiários, seguem duas linhas teóricas: a cognitivo-comportamental e a psicanálise. No local, há um grupo para idosos com ansiedade e depressão e outro para estudantes da Universidade que estão longe de casa, ambos em processo de entrevista para iniciar a programação. Existem, ainda, os workshops (realizados a cada 15 dias) e o Escuta CEIP, ação em parceria com a Unidade de Apoio Pedagógico do Centro de Ciências Sociais e Humanas, específica para acadêmicos da unidade e voltada para atendimentos mais pontuais.

Texto: Clarisse Amaral

Repórter do Gritos do Silêncio, estudante de Jornalismo pela UFSM. Contato: clarisse.amaral@acad.ufsm.br

Foto: Pedro Pagnossin, repórter do Gritos do Silêncio e estudante de jornalismo pela UFSM. Contato: pedro.moro@acad.ufsm.br

Revisão: Kemyllin Dutra, repórter do Gritos do Silêncio e estudante de jornalismo pela UFSM. Contato: kemyllin.dutra@acad.ufsm.br

Publicação: Elisa Bedin, repórter do Gritos do Silêncio e estudante de jornalismo pela UFSM. Contato: elisa.bedin@acad.ufsm.br


Escute o nosso programa: Descuido com a saúde mental dos universitários

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