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​Rádio Universidade: 50 anos de histórias



Ao completar 50 anos, neste 27 de maio, a Rádio Universidade, emissora pública da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), não somente firma-se como exemplo exitoso de radiodifusão educativa e cultural, mas prova que está sintonizada com as novas tendências: além da tradicional frequência AM, recentemente passou a operar também em FM, por meio da UniFM, ampliando as possibilidades para seu público. Em comum entre ambas as emissoras, o compromisso com a qualidade e a informação em prol da sociedade. É a Rádio Universidade da UFSM completando seu primeiro meio século renovada e olhando para a frente, mas sem esquecer das glórias do passado.

“A trajetória da Rádio Universidade consolida uma postura visionária e ousada que é característica da UFSM desde sua origem. Nosso reitor fundador já projetava uma rede integrada de televisão e rádio educativas, que foi construída desde as décadas de 1960 e 1970, com um circuito interno de televisão, e tem na Rádio Universidade o veículo precursor. Chegar aos 50 anos com uma FM como derivada de toda esta trajetória é uma História belíssima, digna de muitas comemorações”, afirma a coordenadora de Comunicação Social, jornalista Carine Prevedello.

A Rádio Universidade transmitiu em caráter experimental desde as 10h do dia 28 de abril de 1968, mas a sua instalação oficial aconteceu no dia 27 de maio, no 8º andar do prédio da antiga Reitoria, no centro de Santa Maria. À época, a emissora operava na frequência de 1320 Khz, com uma potência de 1 Kw, passando para os 800 Khz no dial e potência de 10 KW em 1976.

Desde então, foram inúmeras conquistas. A partir da instalação do novo parque de transmissores no campus universitário de Camobi, no final de 1995, o sinal foi ampliado para toda a região centro-oeste do Estado. A nova antena, com 77 metros de altura, dobrou a capacidade de alcance, melhorando a qualidade de som. Atualmente, durante o dia, as transmissões da Rádio Universidade atingem mais de 150 municípios do Rio Grande do Sul – à noite, sem a necessidade de redução da potência, chegamàs fronteiras do Uruguai e Argentina, Santa Catarina e Paraná.

Mesmo antes da inauguração do parque de transmissores, a emissora já tinha iniciado um processo de atualização técnica de seus estúdios, com a aquisição de novos equipamentos de tecnologia digital. Em 1994, passou a ser utilizado o primeiro computador, e logo em seguida CDs e MDs começaram a substituir as antigas cartucheiras.

Em junho de 1998, pela primeira vez em sua história, aRádio Universidade AM passou a transmitir 24 horas diárias, e no ano seguinte, foi inaugurado o sistema de transmissão pela internet – este sistema foi trocado em 2007, com a utilização da tecnologia streaming flash.

Em 2001, a emissora investiu na reestruturação de seus estúdios, com a instalação de uma moderna mesa de áudio e um sistema de emissão por meio de computador. Em 2005, novos investimentos equiparam o estúdio de debates com microfones de primeira geração. Outros momentos marcantes na trajetória da emissora podem ser conferidos na linha do tempo disponível no site da Rádio.

Os inúmeros investimentos realizados ao longo dos anos permitiram que a Rádio Universidade se consolidasse, mantendo uma programação voltada à comunidade regional, com espaços dedicados ao jornalismo geral e esportivo, informação científico-cultural, cidadania, música e variedades, coberturas de eventos e divulgação da instituição mantenedora.

A atual diretora da Rádio Universidade, Rejane Miranda, destaca que o rádio, ao longo de décadas, conseguiu sobreviver em meio ao avanço tecnológico e se manter como fonte de informação, cultura e entretenimento. “A Rádio Universidade, em seus 50 anos no ar, acompanhou este processo, buscando sempre a modernização do seus equipamentos e a qualificação da sua equipe. Muito embora as rádio AM estejam migrando para a FM, nós nos mantemos firmes e, agora, com a UniFM 107.9, que veio para fortalecer essa história e levar o nosso melhor para o que mais nos importa: a satisfação do ouvinte”, afirma.

Um novo momento para a radiodifusão da UFSM teve início em 12 de dezembro de 2017, com a inauguração da UniFM 107.9. A programação da emissora, que prioriza notícias e música, foi desenvolvida com base em uma pesquisa de audiência feita com a comunidade universitária.

A nova rádio é um canal de radiodifusão de propriedade da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), concedido à operação da UFSM. As negociações para liberação do canal, compra de equipamentos e instalações técnicas iniciaram há 17 anos.

Escola de jornalistas

Idealizada por José Mariano da Rocha Filho, a Rádio Universidade vem concretizando, ao longo de sua história, aquilo que seu fundador previu em seu discurso de inauguração da emissora: multiplicar os benefícios da ciência e da tecnologia por meio de aparelhos receptores (confira no vídeo a seguir):

Em depoimento à TV Campus, a filha do reitor fundador, Eugênia Maria Mariano da Rocha Barichello, lembrou-se do pai animado com os preparativos para a inauguração da emissora, que foi modelo para outras universidades do país, com seu propósito de democratizar o acesso à informação, de divulgar a cultura.

A paixão de Mariano pelo rádio foi transmitida à filha. “Fiz 14 anos no ano da inauguração. Andava sempre com um rádio, era a minha preferida, tinha uma seleção de músicas e programas excelentes”, recorda.

Eugênia chegou a ser diretora da Rádio Universidade e, como professora do curso de Comunicação Social, acompanhou inúmeras gerações de jornalistas sendo formados com o diferencial de terem participado, como produtores e apresentadores, de programas da emissora, sob a supervisão de docentes como o saudoso Paulo Roberto Araújo. A emissora firmou-se como importante laboratório para os acadêmicos. Hoje, Eugênia analisa que a Rádio tem cumprido seu papel, sua função educativa, conforme estabelecido no passado.

Histórias de amor pelo rádio

As constantes inovações tecnológicas que marcaram os 50 anos da Rádio Universidade da UFSM, terceira emissora de rádio mais antiga do Brasil, foram pano de fundo para histórias de profissionalismo, dedicação e, acima de tudo, de amor pelo rádio. Servidores e colaboradores, na ativa e aposentados, relembraram em depoimentos à TV Campus momentos marcantes da emissora.

Antonio Roberto Bisogno entrou para a UFSM em 1966 como escriturário, mas em função da experiência jornalística, foi convidado pelo então diretor, Antônio Abelin, a integrar a equipe da nova emissora como locutor. Mais tarde, de 1977 a 1978, chegou à direção da emissora, antes de se tornar professor do curso de Odontologia. “Foi gratificante, sempre”, relembra, relatando inúmeras viagens e providências para que fosse possível transferir a torre da antena da Boca do Monte para o local onde está hoje.

Segundo ele, as dificuldades técnicas dos primeiros tempos eram superadas pela criatividade, e mesmo com o alcance limitado, havia retorno do público, apesar da falta de hábito da população a uma programação educativa, diferente das emissoras comerciais.

Cândido Otto da Luz trabalhava no Departamento de Biologia quando, em 1989, por concurso de ascensão funcional, chegou à Rádio Universidade para comandar o primeiro programa jornalístico da emissora. O Redação Aberta foi ao ar pela primeira vez em março de 1990 e segue até hoje informando seus ouvintes. Com experiência anterior em emissora comercial, o jornalista também foi pioneiro ao colocar o esporte em evidência nos 800 AM, com o Universidade Esportiva, e, mais tarde, reativando o Radar Esportivo, atualmente comandado por bolsistas do curso de Jornalismo.

Também comandou programas musicais – chegou a ter sete na semana – e o Universidade Comunitária, contemplado com o Prêmio Padre Landell de Moura de Comunicação em 2001, que buscava aproximar a universidade da comunidade. Outro fato que ele recorda é a cobertura da Conferência Mundial do Meio Ambiente, a ECO-92, no Rio de Janeiro, para uma cadeia de cinco emissoras da região.

“A rádio deu um salto muito grande. Hoje a audiência é bem maior do que quando entrei. Entraram profissionais com mais experiência em outros órgãos de imprensa, implantaram algumas coisas, deixou a rádio num outro patamar”, observa Cândido em seu depoimento à TV Campus, acrescentando que pretende continuar na ativa até quando puder. “Só saio da rádio de maca”, brinca.

Pioneirismo na cultura e ecologia

A cultura teve espaço cativo nestes 50 anos de Rádio Universidade. E um dos responsáveis por isto é o jornalista Jair Alan Côrtes Siqueira, servidor técnico-administrativo desde 1993, mas que já havia sido bolsista na emissora. Apaixonado por cinema, sempre produziu e apresentou programas destinados à Sétima Arte, inclusive o Cine Música, ainda hoje apresentado ao vivo nas manhãs de sábado. “Tenho uma relação de paixão com a rádio. Fiz do meu hobby o meu ganha-pão”, relatou à TV Campus, recordando ainda que a Rádio Universidade foi a primeira emissora de fora de Uruguaiana a cobrir a Califórnia da Canção.

Para Jair Alan, a Rádio Universidade é a mais democrática de Santa Maria. “E, acima de tudo, preocupada com a evolução cultural e a evolução do bom gosto das pessoas. Tenho orgulho de fazer parte dessa equipe e dessa emissora que tem o ideal de levar a informação e a formação de opinião às pessoas, e não a deformação de opinião”, afirma.

Também de vanguarda foi o programa “Antes que a natureza morra”, produzido e apresentado por James Pizarro durante mais de 27 anos nos 800 AM. Antecipando discussões sobre temas ligados à sustentabilidade, o programa foi um marco. “Na época, significava falar mal das multinacionais, contra a centralização do poder, do capital. Eu não podia fazer nas rádios comerciais, me sobrava arrumar um espaço com a Rádio Universidade”, conta Pizarro, docente aposentado do curso de Agronomia.

“Antes que a natureza morra” recebeu menção honrosa no Prêmio Ondas 82, da Fundação Roquette Pinto. O programa de um homem só por pouco não desbancou o vencedor, que tinha 22 redatores. “A cidade inteira escutava um programa de educação ecológica”, recordou Pizarro em depoimento à TV Campus para um documentário sobre os 50 anos da Rádio Universidade.

A voz da Rádio Universidade

A voz da Rádio Universidade completa 39 anos de emissora em setembro deste ano, contabilizando o tempo em que foi bolsista na locução e integrou o quadro efetivo de locutores. Neste período, o diretor de programa Roberto Montagner se tornou uma das vozes mais reconhecidas do rádio em Santa Maria. “Por estar há tanto tempo no microfone da Rádio Universidade, as pessoas, quando me ouvem, me identificam, e em qualquer lugar que vou é muito comum haver este reconhecimento”, relatou à TV Campus. “Esta identificação com a instituição e com o veículo é um fato singular na minha vida”, acrescentou.

Em quase quatro décadas, Montagner participou de inúmeras transmissões, como as do listão do vestibular, e comandou programas como o Informe Cultural, que é o programa mais antigo em atividade ininterrupta na Rádio Universidade. Em 37 anos a serem completados em junho, já foram quase nove mil documentários culturais e científicos veiculados.

Tendo acompanhado grande parte da trajetória da Rádio Universidade, vivenciado as constantes mudanças tecnológicas – que exigiram empenho de toda a equipe –, Montagner observa que a emissora coloca o ensino, a pesquisa e a extensão produzidos pela UFSM a serviço da comunidade. “Nós temos a missão de levar para a comunidade o que a instituição faz e produz”, destacou, em seu depoimento à TV Campus.

Originalmente publicado no portal de notícias da UFSM. Texto por Ricardo Bonfanti (com informações do site da Rádio Universidade).

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