Artigo escrito por: Dra. Betania Vahl de Paula (Bióloga, Mestre em Agronomia, Doutora em Ciência do Solo e Pós-Doutora em Fertilidade e Nutrição de plantas).
O melhoramento genético vegetal permitiu a “criação” de plantas com alto potencial de produtividade. Entretanto, a fim de poder expressar todo seu potencial de produção, é necessário que o produtor dê condições adequadas de desenvolvimento à essas culturas.
Nem o melhor agrônomo do Mundo conseguiria apenas olhar para uma planta e saber exatamente quais nutrientes estão em excesso ou em deficiência. Assim como um médico não consegue fazer diagnósticos precisos sem exames, o agrônomo também precisa dos resultados de alguns “exames” para saber qual é o problema da planta. Esses “exames” normalmente são a análise de solo e análise foliar.
A análise de solo permite saber quais nutrientes estão disponíveis no solo para a planta absorver, enquanto a análise foliar permite saber o que realmente a planta absorveu daquele solo. Em mais uma analogia a medicina humana, nem todo nutriente disponível nos alimentos é absorvido pelo ser humano, assim como nem tudo que tem no solo a planta consegue absorver.
Determinar a acidez e as carências em nutrientes permite realizar calagem (adição de calcário para ajustar o pH do solo entre 5,5-6,0) e adubação no tempo certo, a fim de garantir que o solo tenha condições adequadas ao desenvolvimento das plantas. Além disso, considerando que a maioria das frutíferas são plantas perenes, as quais permanecem explorando o mesmo local durante muitos anos, apenas a análise de solo não é suficiente para garantir altas produtividades. Vários fatores como a baixa umidade, a compactação do solo, a concorrência de ervas daninhas, a interação entre nutrientes, a acidez etc., podem impedir que a planta se nutra adequadamente, mesmo tendo o nutriente disponível.
Desse modo, a análise foliar, permite comprovar se a calagem e a adubação estão cumprindo adequadamente os objetivos de nutrir os pomares. O diagnóstico do estado nutricional, realizado com base nas amostras de folhas, permite comparações com resultados de culturas altamente produtivas, facilitando os ajustes necessários nos programas de calagem e adubação, assim como o médico compara os resultados do exame de sangue com a referência para o indivíduo.
No entanto, muitos produtores não fazem o “exame da folha” e não percebem a tempo que a planta não absorveu os nutrientes necessários, o que acarreta perdas de produtividade e de qualidade da produção, que podem representar milhões dependendo da cultura e do tamanho da área. Da mesma forma, o excesso de nutrientes também pode causar perdas de produção e representa um desperdício de adubos, que atualmente estão caríssimos e pesam os custos de produção.
As pesquisas têm mostrado que empregar ferramentas como as análises de solo e folhas, cujo custo é relativamente baixo (entre R$50,00 e R$85,00 por amostra), permite utilizar de forma racional os fertilizantes, aumentando a possibilidade de aumentar a produtividade e diminuir custos, aliado a redução dos impactos ambientais da atividade agrícola. Se em cada área que o produtor fizer os “exames”, ele economizar apenas um saco de ureia (média de R$ 210,00), ele paga as análises e sobra dinheiro no seu bolso!
Isso sem acessar ao Programa bonus Metrologia do Sebrae, que custeia até 60% do valor das análises para micro e pequenas empresas, micro e pequenos produtores rurais e microempreendedores individuais dos setores da indústria, comércio, serviços e agronegócios do Rio Grande do Sul.
A forma e a época de coleta das folhas variam conforme a cultura e deve ser orientada pelo agrônomo ou técnico. Normalmente as folhas são coletadas e colocadas em sacos de papel identificados com o nome da área, cultura e nome do produtor e, em seguida, entregues no laboratório de análise química. Inclusive em Santa Maria, tem o laboratório da Universidade Federal de Santa Maria que presta esses serviços.
Com os resultados em mãos, o agrônomo ou técnico pode comparar os valores com as referencias da cultura e ajustar a adubação. Inclusive existe uma startup de Santa Maria, a Performance Vegetal, que além de serviços de consultoria e pesquisa, possui uma plataforma que usa inteligência artificial para integrar fatores como solo, folha, clima, produção e qualidade para gerar referências e diagnósticos nutricionais mais precisos para culturas e cultivares. Atualmente essa startup está incubada na Pulsar Incubadora Tecnológica, vinculada ao InovaTec UFSM Parque Tecnológico.