Por Rafael Miranda, CEO da Qiron Robotics
Em 2 de abril é celebrado o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo, um transtorno do desenvolvimento que afeta a capacidade de comunicação e interação social das pessoas. Recentemente, em 24 de março, um estudo divulgado pelo CDC (Centro de Controle de Prevenção e Doenças) nos Estados Unidos mostrou que 1 em cada 36 crianças nascidas no país apresentam essa condição. Isso representa um aumento de 22% em relação ao estudo anterior, divulgado em 2020, reforçando a importância de buscarmos soluções inovadoras para o tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Robótica e TEA: Uma abordagem inovadora
Nesse contexto, a robótica tem se mostrado uma ferramenta promissora para auxiliar os terapeutas. Um estudo recente publicado na revista Sensors destaca o potencial da robótica no tratamento do Transtorno do Espectro Autista, com ênfase na melhora de habilidades sociais, comunicação e interações emocionais. A presença do elemento lúdico e caricato nas sessões facilita o engajamento desses indivíduos e estimula o desenvolvimento dessas habilidades, tornando o processo terapêutico mais leve e agradável. Além disso, os robôs nessa área são ferramentas adaptáveis, capazes de ajustar seu comportamento e linguagem para atender às necessidades individuais de cada criança, o que pode resultar em uma abordagem mais eficaz e direcionada para o tratamento. Nesse sentido, a robótica pode ser considerada uma evolução do uso de terapia com fantoches, que são inanimados, e de animais de estimação, que podem ser imprevisíveis.
Robôs Humanoides: Promovendo Interação Natural e Intuitiva
Uma característica bastante comum nos robôs terapêuticos é seu formato humanoide. Por sua capacidade de imitar e se comunicar com a linguagem corporal, gestos e expressões faciais, de forma semelhante a um ser humano, essa característica ajuda a criar uma interação mais natural e intuitiva. Por meio desses robôs, por exemplo, é possível criar um ambiente seguro e confiável para que os pacientes compartilhem seus sentimentos, medos e ansiedades com mais facilidade, o que pode levar a uma melhora significativa na qualidade de vida dessas pessoas.
Em países como o Reino Unido e Luxemburgo, os robôs Kaspar e QTrobot, respectivamente, têm sido amplamente utilizados como ferramentas para auxiliar crianças com autismo a se comunicar, interagir socialmente, desenvolver os aspectos cognitivos e a expressar emoções. Porém, essas soluções trabalham exclusivamente em inglês e oferecem barreiras de acesso ao público brasileiro.
A contribuição da Qiron Robotics no Brasil
A Qiron Robotics é uma startup que está na Pulsar Incubadora vinculada ao InovaTec UFSM Parque Tecnológico. A startup tem o propósito de humanizar a tecnologia. Entre suas soluções, destaca-se o robô Beo, um robô social expressivo projetado para trazer resultados em uma variedade de casos de uso, incluindo a educação de crianças com autismo e outras necessidades especiais. Em parceria com a Universidade Federal de Tocantins (UFT), a empresa vem trabalhando há 2 anos na criação de um protocolo específico para o tratamento de TEA, unindo autismo e robótica em uma abordagem inovadora. Com base nos estudos preliminares, já foi observado melhora significativa na compreensão, assimilação e atenção para a mensagem de saúde mental. Isso permitiu que, desde o ano passado, o robô já venha sendo utilizado como ferramenta lúdica, auxiliando os terapeutas na instrução e cuidado dos pacientes, sendo a Clínica Pensée como a primeira instituição do RS a utilizar a tecnologia.
Em suma, a incorporação da robótica no campo da saúde mental, particularmente no tratamento do Transtorno do Espectro Autista, tem demonstrado um grande potencial de impacto positivo na vida dos pacientes. Já a cooperação entre empresas, instituições de ensino e clínicas, como a parceria entre Qiron, UFT e Pensée, desempenha um papel crucial no aperfeiçoamento e disseminação dessas inovações tecnológicas. Por fim, à medida que a robótica se torna mais acessível, espera-se que seu uso na saúde mental continue a crescer, melhorando a qualidade de vida e a autonomia de um número cada vez maior de indivíduos no espectro autista e em outras condições que exigem cuidados especiais.