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República das Mulheres

O Projeto República das Mulheres é uma iniciativa pedagógica que tem como objetivo apresentar a literatura escrita por mulheres, que muitas vezes foram silenciadas e almejaram uma sociedade mais justa. Um recurso educacional que propõe a valorização da literatura feminina e dos processos históricos vividos. O propósito do projeto é levar para as escolas essas vozes silenciadas por tantos anos. Atuamos distribuindo Kits literários, realizando palestras e aulas de escrita criativa nas escolas do Município e Estado com o objetivo de fomentar a leitura de obras escritas por mulheres.

 

A primeira mulher que apresentamos é a madrilenha Luisa Carnés (1905-1964), esquecida por mais de oitenta anos nos porões da ditadura franquista. Luisa Carnés foi uma audaciosa jornalista que contou a sua vida e o que ela via em seu entorno. Luisa Carnés nasceu em Madri no dia 03 de janeiro de 1905 e morreu em um acidente automobilístico no dia 08 de março de 1964 no México, país que a acolheu durante o exílio. Ela entrelaçou com palavras em amarelo, vermelho e roxo as cores que simbolizavam a bandeira da Espanha e da República perdida. Suas obras literárias compreendem seu compromisso social e político, assim como a sua preocupação com as classes desfavorecidas.

As ilustrações destas obras foram recriadas pelas alunas do curso de desenho industrial da UFSM:  Beatriz Lima Mattos, Daniela Nunes Flores , Heloisa Falqueto Caliman.


Durante o período que viveu na Espanha Luisa Carnés publicou três romances. Peregrinos de Calvario (1928) é o primeiro e marca a entrada da escritora no mundo literário. Esta obra permanece sem reedição. O romance reúne três relatos: “El pintor de los bellos horrores”; “El otro amor” e “La ciudad dormida”. A escritora nos mostra a  felicidade como um ideal impossível principalmente para os pobres. Os personagens femininos desses relatos carregam o fardo ideológico imposto as mulheres. Luisa Carnés reconhece a palavra popular como uma ferramenta de proximidade com o leitor, seus personagens explicam o mundo com sua própria voz.

 

Em Natacha (1930) a escritora recria a difícil situação da mulher trabalhadora na Madrid pré-industrial do começo do século XX. Na narrativa o desejo feminino é contraditório e a personagem Natacha se sente culpada por ter um corpo que é definido desde o olhar masculino. A escritora nos apresenta o corpo como um lugar onde acontece a opressão, em um período em que o tema da violência contra a mulher não era explorado. Enfatiza o estado de submissão das personagens e apresenta a figura paterna como representante do patriarcado que causa danos às mulheres, que sofrem com a violência doméstica.

 

Tea- Rooms: mujeres obreras (1934) é o romance que consolida seu posicionamento pessoal e social. Uma reflexão contra a desigualdade, a política, o governo e os direitos das mulheres. A escritora expõe a realidade e os problemas que a classe trabalhadora enfrenta. Critica o casamento, a tradição, a religião e a hipocrisia social em relação a temas como a prostituição e  a prática do aborto. Constrói uma personalidade baseada em sua experiência e assim, se aproxima do romance autobiográfico. Expõe problemas coletivos que afetam a sociedade como um todo. Um romance que mostra a realidade social nele refletida e que resulta de um processo histórico concreto gerado pela mudança social da posição feminina.

 

Carnés segue rumo ao exílio no México. No exílio termina seu romance De Barcelona a la Bretaña Francesa (1939) que descreve os últimos meses da Guerra Civil Espanhola, além de um testemunho pessoal de sua fuga da Espanha, sua prisão em um campo de concentração franquista na França até a sua chegada no México.  São contos que formam parte de uma rede em que o social, o cultural e o político se entrelaçam. Carnés apresenta a dimensão testemunhal da guerra, descreve as condições do exílio e suas dramáticas circunstâncias marcadas pela precariedade e medo.

 

No mesmo ano escreve La hora del ódio (1939) um romance que apresenta uma ampla reflexão sobre a guerra e seus efeitos, no qual descreve a presença e a pressão dos agentes franquistas ao redor dos campos de reclusión franquista na França, a partir do momento que se produz o reconhecimento do governo do General Francisco Franco por parte das autoridades francesas e britânicas no final de fevereiro de 1939.

 

Em 1945, escreve sua única biografia Rosalía de Castro: raíz que representa a identidade espanhola e que, assim como os republicanos exilados, ama a sua terra. A poetisa Rosalía de Castro assim como Luisa Carnés cria um nexo autêntico entre o escritor e o povo que é vivido através das recordações e pensamentos dedicados àqueles que precisam abandonar a sua terra.

 

Escrito durante os anos quarenta, o romance Juan Caballero (1956) foi publicado nove anos depois. Carnés queria mostrar aos leitores mexicanos os combatentes republicanos que lutaram contra o regime franquista através das guerrilhas. Esta obra representa a resistência e a força do povo que se rebelou contra as injustiças. A escritora se vale da ficção para criar uma alternativa historiográfica e estabelecer a origem da guerrilha como uma modalidade de luta dos rebeldes que se negam a aceitar a derrota.

O romance El eslabón perdido (1962) escrito no México, permaneceu inédito até a sua edição publicada na Espanha em 2002 pelo professor e historiador Antonio Plaza. Esse romance demonstra a incapacidade humana de reconciliar o passado e o presente. Luisa Carnés nos apresenta o conflito de duas gerações (pais e filhos) diante da realidade do exílio e da vida. Confronta a Espanha de 1939 com o presente no México por meio de uma descrição contemporânea de seu universo.

 O seu último romance escrito no México ainda permanece inédito: La puerta cerrada (1964). O tema apresentado é a Revolução Mexicana, retratada por meio dos sentimentos de Manuel em relação a esse conflito bélico. A escritora começou a escrever esse romance em 1956 e não teve tempo de publicar o romance uma vez que faleceu dois meses depois. O romance começou a ser convertido pela escritora em uma peça de teatro, porém a adaptação não foi concluída.

 A obra dramática de Luisa Carnés ficou esquecida por muitos anos. Foi editada em 2002. Composta  por três peças:  Cumpleaños, Los bancos de Prado e Los vendedores del miedo, esta obra serve de denúncia dos pactos realizados entre Estados Unidos e Espanha. Carnés expõe publicamente a atitude dos governantes espanhóis que cedem parte da soberania do país para garantir a permanência do regime ditatorial imposto com a vitória de Franco.

Trece Cuentos  é a primeira antologia de contos compilada pela família de Luisa Carnés em 2017. Reúne alguns relatos biográficos em que a escritora segue enfatizando o papel da mulher. A coletânea foi dividida em quatro blocos temáticos que apresentam os relatos da juventude, da República, da Guerra Civil Espanhola e do pós-guerra, seguidos dos  contos mexicanos e dos que representam a atualidade política da Espanha no período. Os contos de Luisa Carnés nos mostram a falta de recursos da mulher espanhola, as crueldades da guerra e a repressão do período ditatorial além da nova realidade dos exilados no México, e sua nostalgia.

 

 

O projeto é composto por fichas ilustradas impressas em papel especial que narram a vida e a obra da escritora, bem como o contexto político no qual ela estava inserida. As fichas podem ser utilizadas para trabalhos com alunos do ensino fundamental anos finais e médio, e alunos de inclusão alfabetizados.

 

COORDENAÇÃO E PESQUISA

 Prof.ª Dr.ª Ana Paula Cabrera

 Prof. Dr. Enéias Tavares

 

 

DESENHO GRÁFICO

 

Daniela Nunes  Flores