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TINA VIERO: PROFISSÃO PAIXÃO

A técnica de enfermagem soma mais de 30 anos dedicados ao trabalho na saúde infantil.



Fotografia quadrada e colorida de Tina, uma mulher branca de meia idade em frente a um quadro. A fotografia está em primeiro plano. Tina tem estatura baixa, cabelos curtos, loiros e lisos, tem olhos castanhos. Ela usa óculos de grau com armação transparente e brincos pequenos e dourados. Ela veste uma jaqueta com capuz, que é grossa, nas cores azul, branca e rosa, sobre camiseta branca. Atrás dela, um quadro colorido da "Turma do Ique" em uma parede branca. O quadro tem as cores laranja, azul marinho e branco. No lado esquerdo do quadro, desenho de uma criança em pé, que sorri e está com o punho direito para cima. Ao lado da criança, o nome "Turma do Ique". O quadro tem moldura branca. Ao fundo, parede branca.
Tina Viero | Foto: Vitória Sarturi

Ao chegar na Turma do Ique, fui recebida por Tina, uma figura acolhedora que me cumprimentou com um sorriso. Ela vestia um uniforme, o que indicava seu envolvimento com o projeto.  O ambiente estava movimentado, com crianças que corriam pelo playground e adolescentes acompanhados de seus familiares. Apesar da diferença de idade, todos estavam ali pelo mesmo motivo: consultas médicas.

Na tentativa de encontrar um lugar silencioso, fomos ao escritório. Mas ainda assim houveram algumas interrupções: crianças e adolescentes procuravam por Tina para dar um beijo de bom dia. Essas demonstrações de carinho chamaram minha atenção e levantaram o questionamento sobre o envolvimento dela na Turma do Ique. Por que ela é tão querida pelos jovens atendidos no projeto?

O CENTRO DE TRATAMENTO E CONVIVÊNCIA:
Desde sua criação, a Turma do Ique é um espaço acolhedor e foi criado com o intuito de trazer um pouco de alegria à vida de jovens que passam pelo câncer.

Maria Cristina Faria Corrêa Viero, mais conhecida como Tina, é a primeira a chegar todos os dias, pontualmente às 6h20 da manhã. Mesmo que não seja uma obrigação, ela abre  as portas da instituição, o que demonstra  cuidado e consideração pelos pacientes – especialmente aqueles que enfrentam longas viagens, principalmente durante o inverno. Sua preocupação é visível já que  muitos deles realizam trajetos noturnos para chegar até o centro de convivência.

Sua história com a instituição começou em um momento delicado na vida pessoal, o que resultou no afastamento do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), onde trabalhava como Técnica em Enfermagem há mais de 30 anos. Foi nesse período que Lenir Gebert, uma amiga, a convidou para participar da Turma do Ique. Desde então, Tina encontrou seu propósito: auxiliar e cuidar das crianças e adolescentes em tratamento e levar a eles esperança e carinho em meio às adversidades.

Segundo ela, a Turma do Ique é um céu aberto para quem frequenta o local, sendo um contraste com épocas anteriores em que crianças ficavam nos corredores do hospital com os adultos. Embora o trabalho com jovens tenha acontecido por acaso, Tina percebeu que tinha um dom para isso.”É maravilhoso para mim deixá-los à vontade e ser escolhida por eles. Meu papel é dar colo a cada um que chega aqui. Sinto que é uma missão cumprida na minha vida’’. 

Durante a conversa, fomos interrompidas por uma adolescente que abriu a porta do escritório em busca de Tina. Um sorriso se formou no rosto da enfermeira ao receber um simples ‘’bom dia’’ e um carinhoso beijo em sua bochecha. Ela comenta que esses gestos, como o da jovem, sempre chegam a ela de forma espontânea. Sobre os afetos que recebe, Tina os compara com um plantio: ‘’Se você plantar morangos, colhe morangos, e eu colho um monte de moranguinhos. É uma sensação muito boa’’.

Tina diz que todos os dias há momentos marcantes na Turma do Ique. Para ela, os melhores são quando o paciente está no projeto apenas para uma revisão. Com o consentimento dos pais, faz questão de compartilhá-los em suas redes sociais. Para isso, conta que precisa ter cautela, já que às vezes pode ocorrer a recidiva do câncer. Ao falar de sua rotina no projeto, ela expressa seu amor e cuidado pelos jovens: “São filhos que a enfermagem me deu para cuidar e proteger’’. 

“O câncer não para”

Durante a pandemia, a Turma do Ique não fechou as portas porque ‘’o câncer não para’’, conforme relata Tina. Como Técnica de Enfermagem, ela conta que recepcionava os pacientes na portaria e verificava suas temperaturas. Mesmo com o medo do desconhecido, os funcionários da instituição trabalharam normalmente.

A dedicação de Tina é evidente em cada gesto de carinho e cuidado com os jovens em tratamento. A Turma do Ique não é apenas um trabalho, mas um compromisso que vai além das responsabilidades profissionais. Para Tina,  é o amor que impulsiona a sua atuação diária em que vocação e paixão se entrelaçam para fazer a diferença na vida daqueles que precisam: “A Turma do Ique para mim é profissão paixão.’’  


Uma história de esperança

Tina ingressou na UFSM por meio de concurso público em 1983, quando o HUSM chegava ao décimo terceiro ano de funcionamento. O interesse dela  pela área da saúde surgiu na infância por conta de seu pai, Miguel Sevi Viero, que era médico e tinha o consultório em casa. Nessa época, antes de iniciar o curso, já auxiliava o pai como instrumentadora cirúrgica. Ela conta que antes de iniciar no curso, já o auxiliava sendo instrumentadora cirúrgica.

Tina começou sua carreira na ala psiquiátrica, mas como descobriu que não era o que gostava de fazer, ficou na função por apenas seis meses.  Decidida a explorar outras oportunidades, foi para o CTI, em que permaneceu por dez anos. Mais tarde, por necessidades de serviço, fez sua última mudança: foi para a  Hemato-Oncologia. Desde então, já são 30 anos no serviço.

O serviço de Hemato-Oncologia é especializado no cuidado de crianças e adolescentes com leucemias, tumores e distúrbios hematológicos. Nessa unidade é fornecida assistência multiprofissional com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reintegrá-los à vida social.

Segundo Tina, na época em que começou, Santa Maria era referência no tratamento de câncer infantil. Ela conta que no passado, as crianças eram acomodadas em lugares que não eram apropriados, como em alas de pediatria ou junto aos adultos. Por isso, houve a necessidade de criar um centro de transplante e uma ala específica para crianças imunodeprimidas. Foi nessa época que, em parceria com sua amiga Lenir Gebert, participou da fundação do Centro de Transplante de Medula Óssea (CTMO) e do Centro de Atendimento à Criança e Adolescente com Câncer (CTCriaC). Nessas circunstâncias, as condições de trabalho eram diferentes: ‘’Havia menos chefes e conseguimos muitas coisas através da parceria e boa vontade das pessoas. Todos eram muito focados.’’ conta Tina.

A Técnica em Enfermagem relata que passou por todas as áreas da Hemato-Oncologia: coletas de medula óssea e células tronco, além da aféreses – área em que ocorre a separação dos componentes do sangue por meio de um equipamento automatizado. Também auxiliou as colegas no isolamento protetor, ou seja, quarto privado para pacientes que têm algum tipo de infecção comprometida.‘’A Hemato-Oncologia enfrentava uma grande demanda em um espaço limitado, então foram realizadas mudanças para garantir a segurança e o bem-estar dos pacientes’’, complementa Tina. 

Ela enfatiza que a Hemato-Oncologia, a partir desses serviços, oferece melhores condições para as crianças e os adolescentes, ao proporcionar um espaço ao ar livre e protegido. 

O paciente hemato-oncológico desenvolve uma conexão afetiva muito forte com a equipe. Por isso, durante sua trajetória no hospital, ela lembra que presenciou vitórias que a marcaram muito. Também enfrentou perdas que foram difíceis de assimilar porque o  hospital não oferece apoio psicológico adequado para lidar com essas situações.


Reportagem: Maria Eduarda Silva da Silva
Contato: maria-silva.2@acad.ufsm.br

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