“Esse vai ser o futuro da construção civil?”. Foi o que um grupo de pesquisadores da UFSM se perguntou ao assistir uma palestra sobre concreto digital. A perspectiva futurista e a vontade de estudar mais o assunto, motivaram os pesquisadores. Eles idealizaram um projeto e o tiraram do papel o mais rápido possível para colocar a UFSM dentro do “boom” da impressão 3D de concreto. Assim nasceu o projeto NanoCem3D, que estuda a manufatura que promete trazer o futuro para dentro da nossa universidade.
No final de 2021, o Grupo de Estudos em Materiais Sustentáveis para Construção (GEMASC), iniciou as tratativas para a busca de recursos e compra da impressora 3D. A partir daí, alguns dos pesquisadores direcionaram seus esforços para o estudo da impressão de concreto. A ideia do projeto é contribuir para tornar a construção civil um campo mais sustentável. O professor e orientador do projeto, Erich Rodríguez, conta a importância de trabalhar com a indústria automatizada para proporcionar uma construção mais rápida e com menos desperdício de resíduos. Segundo Rodríguez, “nosso objetivo é tentar resolver esses problemas a longo prazo, porque a indústria digital pode ser uma boa alternativa”.
A nova tecnologia surge em oposição aos materiais tradicionalmente utilizados na construção civil. Embora ela seja relativamente recente e ainda muito cara, a impressão de concreto tem enorme potencial de desenvolvimento de mercado. Os pesquisadores trabalham com uma peça deste quebra-cabeça. Eles precisam estudar o processo em microescala para que, eventualmente, possa ser implementado em grande escala. Para contribuir com o aperfeiçoamento econômico desta tecnologia, são desenvolvidas pesquisas sobre materiais, parâmetros, softwares e processos.
A doutoranda em Engenharia Civil e pesquisadora do projeto, Tuani Zat, conta que na construção civil ainda se utilizam processos ultrapassados e que o objetivo do estudo é inovar na produção. A automação da construção, a longo prazo, é mais benéfica ao meio-ambiente do que o método tradicional, reduz a mão de obra e diminui o desperdício de materiais.
Um dos motivos de buscar alternativas para a utilização de concreto é a preocupação com a emissão de dióxido de carbono e com o alto consumo do clínquer, principal constituinte do cimento e um grande poluidor. Dentro do GEMASC, os pesquisadores trabalham com materiais alternativos desde 2018 e, no último ano, a equipe decidiu começar os estudos na área de impressão de concreto em 3D.
O projeto foi dividido em três frentes de pesquisa: uma com argamassa mais básica para que possam estudar as propriedades mecânicas do material – processos de corte, camadas e etc -, uma que testa o processo de impressão com geopolímeros – ligantes alternativos produzidos a partir de resíduos – e uma que que trabalha com cimento branco para estudar questões decorativas. Além disso, a equipe testa quantas camadas o material suporta, em quanto tempo ele consegue imprimir e outras particularidades.
No dia a dia, o grupo escolhe o foco de pesquisa que eles irão se dedicar naquele momento e depois definem seus objetivos. Antes de tudo, constituem uma mistura que seja imprimível na máquina, para depois estudar suas diversas propriedades e encontrar a consistência perfeita.
Para realizar a impressão, os pesquisadores precisam pensar em um material que tenha bom desenvolvimento, pouco desperdício e seja funcional com um tempo rápido de produção. A equipe testa diversas misturas, alterando suas propriedades até encontrar a condição que atinja os objetivos delimitados para aquele estudo. O orientador do projeto costuma nortear a composição da mistura e a doutoranda Tuani Zat é responsável por organizar a equipe e designar as tarefas de cada um.
Cimento sustentável
A doutoranda da UFSM, Tuani Zat, trabalha com a impressão 3D de materiais cimentícios mais sustentáveis para a construção civil. Ela explica que o cimento como o utilizamos hoje é um grande emissor de CO² e, além de gerar muitos desperdícios, o processo de produção é ultrapassado. Zat possui histórico com pesquisas em materiais sustentáveis devido ao seu trabalho de mestrado na produção de cerâmica vermelha a partir de resíduos. Para ela, é fundamental que a UFSM incentive tecnologias que prezam por um futuro melhor e inovem dentro da construção civil.
Em seu projeto de doutorado, ela trabalha com a funcionalidade da impressão com materiais sustentáveis através dos estudos da reologia do material. Zat modifica as propriedades a níveis micro e nano que alteram as especificidades do material final. A viscosidade, tensão, força aplicada e etc são características que não importam nos métodos tradicionais e que, para a automação, necessitam de mais estudos. Ela afirma que seus objetivos são produzir materiais alternativos e um laudo de que são viáveis para a impressão: “Queremos viabilizar o uso de diferentes materiais na construção da forma mais sustentável possível”.
Cinza Volante
A graduanda em Engenharia Civil, Maria Fernanda Dornelles Howes, desenvolve seu Trabalho de Conclusão de Curso dentro do projeto de impressão de concreto em 3D. Howes utiliza o geopolímero, material obtido através de resíduos, em sua pesquisa. Ela trabalha com a cinza volante, encontrada na fumaça da queima de carvão mineral. O material, que seria descartado pela indústria, é destinado para produção de concreto alternativo. Outro benefício para a utilização da cinza volante seria a renovabilidade, uma vez que é obtida na queima de carvão mineral, sendo possível sempre se obter mais sem gerar escassez.
Reportagem: Ana Luiza Dutra e Luísa Monteiro
Fotos: Luísa Monteiro