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Alunos e servidores com deficiência visual enfrentam desafios no Ensino Remoto



Foto horizontal e colorida, vista em profundidade, de uma calçada de concreto com piso tátil em cor rosa envelhecido. A calçada se localiza do centro para a esquerda da imagem. À esquerda da calçada, um canteiro com diversas árvores, lado a lado. Logo depois, uma rua com pavimentação de paralelepípedos. À direita da calçada um grande gramado. À direita do gramado, uma edificação branca seguida de um bosque fechado. Ao fundo, centralizado na imagem, um prédio cinza com aproximadamente nove pavimentos, e elementos de proteção solar na cor branca em todas as janelas. Em frente ao prédio, algumas árvores com copas cheias. Acima do prédio, o céu azul.
Piso tátil que leva até o prédio da Reitoria da UFSM. Foto: Pedro Souza

Mesmo com o avanço da vacinação contra o coronavírus, a UFSM segue com suas aulas presenciais suspensas desde o dia 16 de março de 2020. Um longo período que exigiu a adaptação de toda a comunidade acadêmica, para que fosse possível dar continuidade às atividades de forma remota. Durante o ensino remoto, alunos e servidores com deficiência visual não tiveram que lidar com barreiras físicas, mas se depararam com barreiras comunicacionais e metodológicas.

Para Letícia Severo da Rosa, 41, que ingressou no curso de Comunicação Social – Jornalismo, no início de 2020, as dificuldades foram ainda maiores. Ela tem deficiência visual congênita e, apesar de já estar adaptada aos recursos tecnológicos, precisou se adequar às atividades propostas no ensino remoto. 

A acadêmica de Jornalismo começou o curso pouco antes da suspensão das aulas e,  sem a experiência presencial, enfrentou muitas dificuldades. Para ela, o suporte da comunidade acadêmica foi imprescindível nesse momento: “Tive o apoio do Núcleo [Subdivisão de Acessibilidade] e a boa vontade dos professores. Tive a chance de ter colegas bem engajados, bem solícitos, mas temos aquelas dificuldades que são inevitáveis”, disse a acadêmica.

Foto horizontal e colorida, tirada em perfil,  de uma mulher negra, com cabelo preto, liso e comprimento pouco abaixo dos ombros, sentada em uma cadeira e mexendo em um notebook apoiado sobre uma mesa quadrada. A mesa está à direita na imagem. Próximo ao notebook, alguns aparelhos de radiojornalismo, como microfones e caixas de som. A mulher está em uma pequena sala, e  ao fundo, há uma parede revestida com espuma para isolamento acústico. À esquerda na imagem, uma porta está aberta.
Letícia produzindo conteúdo em um estúdio da Web Rádio União, rádio produzida pela União De Cegos Do Rio Grande Do Sul (UCERGS). Foto: Arquivo pessoal

Apoio psicológico e pedagógico

A Coordenadoria de Ações Educacionais (CAEd),  que desde as interrupções das atividades presenciais atua de forma remota, desenvolve ações de apoio ao público da UFSM. A Subdivisão de Acessibilidade, criada em 2007, faz a mediação entre os professores, a coordenação, o aluno e seus colegas. O atendimento é realizado através de uma equipe multidisciplinar. Os serviços de apoio psicológico e pedagógico oferecidos, são importantes na inclusão e focados na permanência de alunos com deficiência visual na Instituição.

De acordo com a Técnica em Assuntos Educacionais, Fabiane Vanessa Breitenbach, quase toda semana alguma atividade é ofertada pela Subdivisão. É papel de toda a comunidade acadêmica possibilitar a construção de uma política de acesso e permanência dos alunos com baixa visão e cegos matriculados na UFSM. Esses eventos e palestras surgem como um caminho importante na busca da acessibilidade.

Segundo dados disponibilizados pelo CAEd, no ano passado foram ofertadas treze (13) palestras, totalizando 547 participantes: “É um número maior quando comparado aos eventos presenciais que fazíamos antes da pandemia. Além disso, com as edições online estamos atingindo o público externo à UFSM, de outras universidades e também países, pessoas que, se fosse na modalidade presencial, não teriam como participar dos nossos eventos”, afirmou Breitenbach.

Além da adaptação dos profissionais, é necessário que haja uma adequação dos materiais fornecidos aos alunos deficientes visuais.  A acadêmica de Jornalismo explica que os leitores de tela são softwares que podem ser instalados em computadores ou em aparelhos celulares. Eles percorrem textos e imagens, lêem em voz alta tudo o que ele encontra na tela. No ano passado, a estudante passou por algumas dificuldades em relação ao material disponibilizado no ensino remoto: “Quando tiram fotos do livro, às vezes aparecem umas dobras, coisas que atrapalham o leitor de tela. O leitor de tela só vai ler aquilo que ele conseguir identificar”, explicou.

Quando alunos com deficiência visual ingressam, a própria Subdivisão de Acessibilidade entra em contato com os professores para informar a existência do serviço de adequação de material, seja no início ou ao longo do semestre, através de um formulário eletrônico. É importante lembrar que, além de bem adaptado, o material precisa ser disponibilizado com antecedência no Moodle ou e-mail do estudante.

Os serviços disponibilizados pela Subdivisão de Acessibilidade não se resumem ao auxílio com materiais:  “Temos [acesso à] profissionais que atendem em um horário disponível para nos dar suporte nas dificuldades que temos na vida acadêmica, como execução de alguma tarefa ou dificuldades de acesso, e até mesmo em assuntos pessoais”, expõe Da Rosa.

Respeito às individualidades

O CAEd salienta que a comunidade acadêmica precisa estar atenta às individualidades de cada aluno. Breitenbach explica que ter experiência com um estudante cego ou de baixa visão, não quer dizer que sabemos lidar com todos: “Precisamos estimular o uso dos recursos disponíveis. Se um aluno não conhece Braille ou não sabe utilizar os leitores de tela, isso não significa que ele nunca vai aprender. Tudo é ensinado”.

“Um clique de vocês [estudantes sem deficiência] são inúmeros comandos que acionamos no teclado. Então, às vezes, vamos conseguir ter acesso a algum material, mas ele não vai se tornar prático para aquele momento”, compartilha a acadêmica. “Além dessas questões mais abrangentes, tem a questão individual de cada um”, complementou a aluna.

Para a acadêmica de Pedagogia, Rutiléia Campos, a adaptação ao ensino remoto foi mais complicada. Devido à deficiência visual, Rutiléia deixou de estudar na adolescência. Voltou a estudar depois de 20 anos, através do EJA, modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Prestou a prova do Enem e ingressou no curso de Pedagogia em 2020, na UFSM.

“Foi bastante complicado, entrei junto com a pandemia. O desafio foi maior para mim, pois tive que utilizar a tecnologia. Não entendia nada de computador. A mudança foi muito grande. Cheguei a pensar em desistir”, desabafou Rutiléia. O apoio do CAEd foi um fator decisivo na sua permanência. “O atendimento é incrível, me auxiliou bastante, junto com minhas monitoras”, contou a aluna.

Rutiléia não esconde a felicidade: “Hoje já consigo dominar o Moodle. Aprendi a utilizar o e-mail. Às vezes não acredito que consegui. Me sinto uma vencedora ao alcançar esses objetivos que eu sonhava. Quero trabalhar na área da Educação Especial, da acessibilidade. Estou cheia de sonhos e de projetos. Ninguém é incapaz”, declara a acadêmica de Pedagogia.

As expectativas de um retorno ao presencial são altas para as duas discentes. A comunidade acadêmica quer o retorno. Independente da data, o importante é que a Universidade inclua cada vez mais esses alunos, e ofereça condições para um aprendizado efetivo em todos os setores.

Acessibilidade em todos os setores

Primeira servidora cega a chegar na UFSM, a técnica-administrativa Fernanda Taschetto, iniciou suas atividades na instituição em 2005. Desde lá, acompanha o crescimento da instituição nas questões de acessibilidade e inclusão: “Avançamos na remoção das barreiras arquitetônicas, comunicacionais e metodológicas, e aprendemos com a necessidade específica de cada pessoa que ingressa na UFSM”, conta Taschetto.

Foto horizontal e colorida, centralizada e enquadrada do peito para cima, de uma mulher branca, deficiente visual, com cabelo castanho, liso e comprimento na altura do ombro. Ela está sentada no corredor de uma biblioteca, entre duas estantes de livros. Ela veste uma blusa estilo regata, branca, com estampas na cor dourada e rosa. A mulher usa acessórios como brincos e uma corrente dourada no pescoço.  Ela está com o olhar voltado para a câmera com expressão neutra. Nas estantes, há diversos livros organizados por categorias.
Fernanda Taschetto na biblioteca do Centro de Educação. Foto: TV Campus

A servidora tem uma doença degenerativa na retina que começou a se manifestar a partir de seus 12 anos. Com a evolução da doença, Fernanda perdeu a visão. “Hoje sou cega, mas tenho sentimentos bem diferentes do que naquele tempo [da adolescência], justamente pelo meu amadurecimento. Minha dependência na locomoção é a maior dificuldade que enfrento”, conta a técnica-administrativa.

Os colegas da biblioteca do Centro de Educação nunca tinham convivido com uma pessoa com deficiência visual antes de conhecerem a servidora. A primeira medida adotada foi a adaptação do computador com um leitor de tela, o que é fundamental para proporcionar a autonomia de deficientes visuais. Em um primeiro momento, houve estranheza e dúvida quanto às atividades que a técnica-administrativa poderia realizar, mas com a convivência essas barreiras foram vencidas.

Foto horizontal e colorida de uma mulher, deficiente visual, branca com cabelo castanho, liso e comprimento na altura do ombro, sentada atrás de uma mesa e digitando no teclado de um computador. Apoiada em um monitor de cor preta, uma placa branca com a informação “Não posso vê-lo, mas posso atendê-lo. Chame-me! Fernanda”. À esquerda, uma parede com janelas amplas. À direita, ao fundo, um globo terrestre apoiado sobre uma bancada. A mulher veste uma blusa estilo regata, branca, com estampas na cor dourada e rosa, e usa uma corrente dourada no pescoço.  Ela está com o olhar voltado para a o teclado do computador. Ao lado do monitor, alguns fios e aparelhos como mouse e um leitor de código de barras.
Fernanda em sua mesa de trabalho com um aviso sobre a deficiência visual. Foto: TV Campus

A técnica-administrativa destaca a atuação da Subdivisão de Acessibilidade junto às necessidades da comunidade acadêmica como fator importante no acolhimento de pessoas com deficiência: “Vejo o interesse crescente no desenvolvimento de projetos e na procura por palestras, capacitações e cursos nestas áreas. Avançaremos cada vez mais”.

Com o retorno às atividades presenciais mais histórias de inclusão como a de Taschetto, podem acontecer. Ser diferente não é ser incapaz. Histórias assim nos motivam a buscar, todos os dias, uma constante evolução e aprendizado para conviver com as diferenças.

CAEd possui diversos setores de apoio:

Imagem do fluxograma da Coordenadoria de Ações Educacionais (CAED). Na parte superior da imagem, centralizado, está uma caixa (retângulo) na cor azul, com a escrita CAED. Abaixo, ligadas a ela, estão cinco caixas – três na cor laranja e duas na cor verde. Na cor laranja estão, da esquerda para a direita: a caixa com a escrita Acessibilidade, a caixa com a escrita Apoio à Aprendizagem e a caixa com a escrita Ações Afirmativas. Na mesma linha, as caixas verdes são, respectivamente, a caixa com a escrita Saúde Mental e a caixa com a escrita Observatório de Inclusão. Abaixo da caixa com a escrita Acessibilidade estão, uma abaixo da outra, 11 caixas na cor laranja claro, representando as ações desenvolvidas: Adaptação de textos; Atendimento Educacional Especializado; Atendimento Fonoaudiológico; Atendimento com Terapeuta Ocupacional; Audiodescrição (AD) e Descrição de imagem; Gravação em Libras; Tradução e Interpretação Língua Brasileira de Sinais; Orientações à comunidade acadêmica; Palestras; Produção de materiais; e Projetos, sendo as 4 últimas caixas em tom de laranja ainda mais claro. Abaixo da caixa com a escrita Apoio à Aprendizagem estão, uma abaixo da outra, 12 caixas na cor laranja claro, representando as ações desenvolvidas: Acompanhamento Resolução 33/2015; Atendimento Pedagógico; Avaliação Psicopedagógica; Monitoria de Física; Monitoria de Língua Portuguesa e Produção textual; Monitoria de Matemática; Monitoria de Química; Orientações Resolução 33/2015 aos servidores; Orientações à comunidade acadêmica; Palestras e Minicursos; Produção de materiais; e Projetos, sendo as 4 últimas caixas em tom de laranja ainda mais claro. Abaixo da caixa com a escrita Ações Afirmativas estão, uma abaixo da outra, 10 caixas na cor laranja claro, representando as ações desenvolvidas: Monitoria de Apoio à Leitura de textos Acadêmicos; Monitoria de Apoio às Tecnologias digitais; Monitoria Indígena; Monitoria Português como Língua de Acolhimento; Participação em Ações de Ingresso Acadêmico; Rotas de Interação; Orientações à comunidade acadêmica; Palestras, Rodas de conversa e Cursos; Produção de materiais; e Projetos, sendo as 4 últimas caixas em tom de laranja ainda mais claro. Abaixo da caixa com a escrita Saúde Mental estão, uma abaixo da outra, 6 caixas na cor verde claro, representando as ações desenvolvidas nesta área: Atendimento Psicológico; Atendimento Psiquiátrico; Estágios; Palestras; Produção de materiais; e Projetos, sendo as 3 últimas caixas em tom de verde ainda mais claro. Abaixo da caixa com a escrita Observatório de Inclusão está uma caixa na cor verde com a descrição: Avaliação das ações de Inclusão na Universidade.

Você pode solicitar os serviços através dos links:

Solicitação de adaptação de textos

Solicitação de apoio a trabalhos, pesquisas e eventos acadêmicos

Contatos para o suporte

CAED/Acessibilidade UFSM

Telefone: (55) 3220 8730

E-mail: caed.acessibilidade@ufsm.br

Reportagem: Camila Souto

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