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ENTRAR, PERMANECER E TRANSFORMAR

A UFSM é a primeira universidade federal a ter um espaço multiprofissional de apoio a pessoas LGBTQIAPN+



Para escutar o áudio da reportagem, clique abaixo: 

A Universidade implementou políticas afirmativas que visam não apenas o ingresso, mas a permanência de estudantes da comunidade trans na graduação e pós-graduação. Uma das iniciativas é a Casa Verônica. Fundada em 2021, atua n a promoção da igualdade de gênero e no suporte à comunidade trans: é o primeiro espaço multiprofissional de apoio para pessoas LGBTQIAPN+ vinculada a uma instituição de ensino superior federal. 

De acordo com a psicóloga Gabriela Quartiero, integrante do setor, os serviços oferecidos vão desde o primeiro acolhimento psicossocial até orientação jurídica. Contam também com a parceria do Transcender – único ambulatório trans do interior do estado. O jornalista Wellington Hack pontua: “Também atuamos para que os estudantes em transição dos outros campi possam solicitar o atendimento online e ter encaminhamento ao ambulatório”.

O espaço não tem atendimento psicossocial individual contínuo, mas disponibiliza encontros semanais, como o grupo terapêutico “Transição na Universidade”. Além de participar ativamente de eventos anuais, como a Parada do Orgulho e o Viva o Campus, cerca de 13 projetos de ação e extensão são financiados pela Casa Verônica, com temática voltada para questões sociais que abrangem gênero, sexualidade e enfrentamento de violências. 

Em 2024, a UFSM reservou 71 vagas suplementares distribuídas entre 54 cursos de graduação, destinados para pessoas transgêneras, travestis e não-binárias. De acordo com a Coordenadoria de Oferta e Relacionamento (COFRE), de todas as vagas, apenas cinco foram preenchidas.

A acadêmica de Educação Física e vanguarda do movimento trans em Santa Maria, Ísis Gomes, afirma que os apoios na UFSM são uma conquista coletiva, mas permanecer na graduação ainda é um desafio. “A conquista pela cota trans é uma vitória, 54 dos 136 cursos é pouco. No edital, por exemplo, não fomos contemplados com cota em Medicina. Uma pessoa trans não pode ser médica?”, questiona Isis sobre as questões de equiparidade de ofertas.

No Processo Seletivo de Pessoas Transgêneros, conforme o Edital Nº 127/2023, as vagas são adicionais e não comprometem a oferta regular da UFSM. Para o curso aderir ao processo, é necessário que o Colegiado, por meio de votação, aceite a demanda.                                                                                                            Em janeiro deste ano, a Universidade divulgou a lista de egressos com os nomes de batismo, os popularmente chamados ‘nomes mortos’, o que desencadeou violações e constrangimentos.  

A situação gerou discussões entre as comunidades acadêmica e administrativa. O calouro de Jornalismo, Darlan Lemes, relata que a exposição do nome morto causou desconfortos e sentimento de invalidação. “É uma violação, agride o psicológico de pessoas trans e retrai todos os direitos que nossa comunidade já conquistou”, afirma. Apesar de já ter os documentos oficiais retificados, direito garantido no Brasil desde 2016, o estudante comenta que ainda não conseguiu inserir o nome social no sistema administrativo da UFSM, apesar desta garantia ser assegurada desde 2015.

A assistente social da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), Ângela Sousa, lamenta e se manifesta com o ocorrido. Para ela, a universidade tem uma estrutura eurocêntrica histórica, o que implica em resistência na implementação de políticas inclusivas. Mas Ângela afirma que colocar a culpa somente no sistema de registro da UFSM é ignorar um erro que é cultural e estrutural.

O acesso à universidade pública é uma conquista para as pessoas trans e travestis no país. Mesmo que o processo em busca da equidade social seja lento, o ingresso já é uma realidade. “Acima de tudo acreditamos na educação, sabemos que essas violências estão acontecendo e tentamos o máximo mostrar para as pessoa o seu direito por meio da educação” pontua Gabriela Quartiero. 

Ilustração: Pedro Pagnossin

Panorama

O cenário de inclusão na educação é desafiador: no ano de 2018, 0,2% dos estudantes matriculados no ensino superior no Brasil se identificavam como transgêneros, segundo o relatório da  Associação de Travestis e Transexuais (ANTRA). 82% das pessoas abandonaram os estudos ainda na educação básica. Apenas 10% integram o mercado de trabalho.

No Brasil, a expectativa de vida de pessoas trans é de até 35 anos de idade. O país lidera o ranking dos que mais matam essa população no mundo . Os esforços pela permanência e formação na universidade não são apenas a garantia do direito à educação, mas também uma forma de construir um futuro digno e com perspectiva de direitos.

Reportagem: Ana Bacovis

Contato: bacovis.ana@acad.ufsm.br

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