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SAÚDE MASCULINA EM PAUTA

Desinformação sobre o câncer de mama em homens dificulta diagnóstico e aumenta incidência da doença



Para escutar o áudio da reportagem, clique abaixo: 

No Brasil, o câncer de mama é o segundo com maior incidência em mulheres, de acordo o Conselho Nacional de Saúde. Por ser uma enfermidade predominantemente enfrentada pelo público feminino, é reconhecida de maneira equivocada como um risco exclusivo do gênero. O Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), por exemplo, cadastrou dez internações de homens vítimas da doença nos últimos quatros anos.

 

Conforme o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a taxa de incidência de neoplasia mamária no país em 2021 foi de 66.280 casos e os casos de câncer de mama masculino representam 1% do total. Ainda segundo o INCA, os estados da região sul apresentam a maior ocorrência da doença, principalmente o Rio Grande do Sul.

 

A ginecologista Laís Praetzel fez a dissertação de mestrado sobre a presença da doença em homens, com base nos casos registrados no HUSM, e relata que a falta de informação dificulta o diagnóstico prévio. “Quando eu pesquisei sobre os casos em homens, se o paciente tinha acompanhamento ou retorno, ele já havia falecido. Isso me chamou a atenção. O diagnóstico tardio aumenta as chances de mortalidade”, conta. Segundo a médica mastologista Viviane Esteves relatou ao portal da Fiocruz, a avaliação precoce da doença aumenta em mais de 90% as chances de cura.

 

Nas campanhas de conscientização em prol da saúde masculina, o foco recai sobre o câncer de próstata, uma vez que é o tipo de carcinoma com mais casos no gênero. Em 2019, por exemplo, a incidência de mortes pela doença foi de 15.983, de acordo com o Atlas de Mortalidade por Câncer. Em comparação, no ano de 2020, segundo o INCA, 207 homens faleceram em decorrência de câncer de mama. Por mais que a diferença de casos seja discrepante, Laís enfatiza que a chave para mudança é a conscientização. “Educar os homens a saberem da existência salvaria a maioria das vidas. Muitos nem acreditam que podem ter câncer de mama”, ressaltou.

Ilustração: Isadora Bortolotto

Um toque que salva

O câncer de mama é uma neoplasia que ocorre em decorrência da proliferação desordenada de células mamárias. Diferente das mulheres, os homens não têm as mamas desenvolvidas e têm pouco tecido na região. A mastologista Sabrina Ribas Freitas detalha que, pela ausência dos hormônios femininos estrogênio e progesterona, a genética exerce um papel crucial para determinar o risco dessa doença no público masculino. Quando se fala em alteração genética, existe um gene que frequentemente pode estar mais acometido nos homens, que é o gene BRCA, especialmente o BRCA2. “Esse é um gene transmitido de geração em geração, e que pode se envolver com risco aumentado para o câncer de mama masculino”, informa.

 

De modo geral, os sintomas tendem a ser os mesmos, independente do gênero. A profissional chama atenção para algumas peculiaridades no caso masculino, como um nódulo palpável, que muitas vezes pode passar despercebido devido à pouca quantidade de tecido mamário na região.

 

Outro sinal característico é a “descarga papilar sanguinolenta”, ou seja, o aparecimento de algum tipo de líquido, especialmente sangue, que sai pelo mamilo. Sabrina destaca a importância do autoexame e da realização de exames de imagem ao perceber uma diferença nos seios, tanto para homens quanto para mulheres. Essa prática pode ajudar a identificar qualquer alteração e aumentar as chances de eficácia no tratamento. Exames como mamografia e ultrassom podem ajudar no diagnóstico precoce.

Entender para precaver

‘Homem não chora e não fica doente’ são algumas das afirmações que homens costumam escutar quando se mostram vulneráveis. A construção social da masculinidade vem desde a infância e condiciona os indivíduos a serem fortes e viris. Isso pode influenciar negativamente na aceitação do diagnóstico de câncer de mama e na busca por cuidados.

 

O jornalista e mestre em Comunicação, Otávio Chagas, concentra seus estudos no conceito de masculinidade. Ele menciona que, em sua pesquisa, algumas ferramentas teóricas podem comprovar atitudes masculinas. Entre elas está a aprovação homossocial. Homens se submetem a situações críticas, arriscam a própria vida e se expõem de maneira desproporcional a riscos de saúde porque anseiam que outros homens validem suas identidades.

 

Por questões psicossociais enraizadas, Otávio comenta que a população masculina pode não dar devida importância à saúde. “Na socialização masculina, os meninos, para se tornarem homens, precisam se distanciar de tudo aquilo que possa ser relacionado ao universo feminino. O medo de ser visto como afeminado constitui a definição cultural de masculinidade”, conclui.

 

O psicólogo Rudinei Brum complementa que, ao receber um diagnóstico de carcinoma, o homem tende a se fechar pela dificuldade de expressão e aceitação.“Em alguns casos, o paciente começa a ter dúvidas sobre a própria masculinidade. Por ser tão direcionado ao público feminino, ele começa a ter uma crise existencial”, explica.

 

Rudinei alerta para o perigo de desenvolvimento de transtornos mentais durante o processo de tratamento. “Existe o risco no início do diagnóstico ocasionar uma depressão. E aí já é outro problema, surge outra doença que foi desencadeada pelo primeiro diagnóstico”, exemplifica. Ele também ressalta que a psicoterapia, especialmente a psicologia comportamental e cognitiva, pode auxiliar no tratamento do paciente. O objetivo é permitir que o paciente fale sobre o problema para descobrir os gatilhos e entender que sua masculinidade não é afetada, em um processo único e exclusivo do psicoterapeuta.

 

O acompanhamento psicológico é essencial para ajudar o paciente a lidar com as questões emocionais e psicológicas que podem surgir durante o tratamento. Com o apoio da psicoterapia, o paciente pode encontrar formas saudáveis de enfrentar os desafios e alcançar um equilíbrio emocional, fundamental para uma boa recuperação.

Gráfico. | Ilustração por: Isadora Bortolotto

Comunidade Trans

No contexto da saúde mamária da população transexual, a incidência de câncer de mama emerge como uma questão complexa e pouco comentada. Segundo um estudo desenvolvido pelo Centro Médico Universitário em Amsterdã em 2019, o índice do câncer de mama em mulheres trans é superior aos casos em homens cisgênero – devido ao uso recorrente de hormônios femininos no processo de transição. Enquanto isso, homens trans tem menor risco em relação a mulheres cis.

 

Sabrina Freitas informa que, ainda que haja a retirada das mamas, os exames de rotina são necessários. “A mastectomia redutora de risco não consegue zerar esse risco, o paciente segue com uma indicação de acompanhamento regular de exames de imagem e físicos”, alerta .

 

As recomendações atuais sugerem que mulheres e homens trans que não fizeram mastectomia* devem fazer mamografia a cada dois anos. Os exames têm de ser iniciados aos 50 anos, se estiverem usando hormônios por mais de cinco.

*Mastectomia: excisão ou remoção total da mama

 

Reportagem: Camila Castilho e Isadora Bortolotto

Contato: camila.castilho@acad.ufsm.br/isadora.bortolotto@acad.ufsm.br 

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