No ano de 2010, a UFSM recebeu a primeira estudante indígena. Laura Feliciana Paulo, da etnia Terena, ingressou em Medicina por meio do vestibular. Um ano depois, em 2011, de acordo com dados da Excelência a Serviço do Ensino Superior (Semesp), as universidades federais do país contavam com 3.542 estudantes indígenas. Em 2021, o número subiu para 16.784, em modalidade presencial e à distância.
O aumento da presença indígena no ensino superior não é o suficiente para garantir a permanência e a formação dos alunos. Segundo informações do Centro Indígena de Estudos e Pesquisas (CINEP), cerca de 20% dos estudantes indígenas brasileiros não conseguem concluir o ensino superior. Ainda que ações afirmativas sejam ofertadas, na UFSM essa realidade é a mesma.
O abandono da graduação é resultado de uma série de dificuldades. A permanência envolve adaptação, moradia, comunicação, problemas de apoio pedagógico, embate cultural e preconceito. O estudante de Medicina e membro da Liga Acadêmica de Assuntos Indígenas Yandê, Daniel Fernando Campos Sales, cita que incerteza é um dos motivos que os fazem retornar para casa antes do período previsto de conclusão. “Por mais que a gente saiba que os desafios da vida acadêmica são comuns em cada área, por que eles vão deixar a aldeia onde têm tudo e vir pra cá passar necessidade?”, questiona.
Um dos obstáculos centrais para os acadêmicos é a ambientação do português como segunda língua. Por consequência, surgem desafios individuais e coletivos, como a leitura de textos acadêmicos e a comunicação em seu convívio social. De acordo com Daniel, também há um estranhamento por parte dos não indígenas. “Você vê que as pessoas não foram preparadas para que você estivesse no meio delas e acho que não precisam nos entender muito, só respeitar”, afirma.
O que a UFSM oferece
Há 106 estudantes indígenas regularmente matriculados. Destes, 74 são da etnia Kaingang. Para acolher estes universitários, a Coordenadoria de Ações Educativas (CAED) oferece monitorias de aprendizagem e atividades de integração, como rodas de conversa com palestrantes especializados em assuntos indígenas. Acompanhamentos psicológicos são ofertados de acordo com a solicitação dos estudantes, via contato presencial ou online.
A Instituição também conta com a Casa do Estudante Indígena, pautada em 2014 e inaugurada em 2018. Atualmente, a Casa não possui um processo seletivo de moradia e o ingresso está sob organização dos alunos que já residem no local.
Em maio de 2023, o Ministério da Educação (MEC) anunciou a liberação de novas bolsas para o Programa Bolsa Permanência, destinado a estudantes indígenas e quilombolas cadastrados no ano anterior e que ainda não haviam sido contemplados. A demanda de inscrições pendentes da UFSM era de oito estudantes no semestre anterior e, este ano, foram repassadas 15 bolsas. Devido à falta de distribuição por fluxo contínuo, as bolsas excedentes retornaram para o Governo Federal. A pró-reitora de Assistência Estudantil, Gisele Guimarães, afirma que o movimento atual está concentrado na busca por um quantitativo maior de bolsas, além de conquistar uma autonomia das instituições no cadastro e na distribuição do auxílio.
Como forma de resistir à evasão, os estudantes indígenas da UFSM se organizam em coletivos para discutir suas lutas e interesses. Daniel comenta que, para conquistar um espaço acadêmico preparado para atender as demandas de todos, é preciso focar em dois eixos principais: a escuta institucional e a resistência universitária.
Reportagem: Vitória Sarturi
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