Desde a lei 10.436, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é reconhecida como meio legal de comunicação, e pelo decreto 5626, a disciplina de Libras é obrigatória nos cursos de Licenciatura e Fonoaudiologia. A recém-formada em História Licenciatura, Juliana Brisolla, cursou como disciplina obrigatória em seu último semestre da graduação, e relata que ainda não teve a oportunidade de praticar a língua. “Não lembro de tudo, só alguns sinais, e acho que conseguiria me comunicar muito pouco”, afirma Juliana.
O ensino de Libras na UFSM é oferecido em duas modalidades – disciplinas obrigatórias e complementares. Em média, mil estudantes por ano passam pelas disciplinas de Libras. Porém, um dos fatores que dificultam o ensino é a falta de continuidade no aprendizado. Os alunos surdos ainda enfrentam uma barreira para se comunicar com os alunos ouvintes e demais profissionais.
A UFSM também realiza cursos de Libras por meio da Coordenadoria de Ações Educacionais (CAED), e de disciplinas complementares dos cursos de graduação, as DCGs. A professora do Departamento de Educação Especial da UFSM, Mônica Zavacki – que atualmente ministra aulas de Libras para os cursos de Educação Especial e para o Programa Especial de Graduação (PEG) – explica que a inclusão da disciplina como obrigatória é um avanço. “Os surdos estão no mundo assim como qualquer outra pessoa, então eles devem ter o seu direito linguístico assegurado”, complementa Mônica.
A docente do Departamento de Educação Especial da UFSM, Carilissa Dall’Alba comenta as dificuldades em ministrar aulas de Libras. “Os ouvintes acabam aprendendo Libras já adultos, o que é diferente da aprendizagem das crianças, que, quando aprendem pequenas, têm muito mais facilidade”, afirma Carilissa. Além disso, a professora, que é surda, também menciona o capacitismo presente nas disciplinas: “Precisa de um processo até se adaptar e entender como se relacionar, porque em geral, esses estudantes nunca nem viram uma professora surda fora daqui”.
As DCG’s têm duração de um semestre, e a falta de prática e contato com pessoas surdas faz com que os discentes esqueçam o que foi ensinado. Segundo a chefe do Departamento de Educação Especial, Liane Camatti, o ensino vai além da comunicação. “A gente sempre tenta ensinar também o que é a língua, quem é o surdo, quais as diferenças culturais e linguísticas, como funciona os processos de desenvolvimento de uma criança surda”, destaca Liane. De acordo com ela, com essa maneira de ensino, os estudantes conseguem ter processos mais humanizados no contato com alunos surdos.
Sobre os intérpretes, Liane comenta que, como o cargo foi extinto em 2019, há uma dificuldade de repor quando profissionais saem da universidade. “Não tem mais como fazer contratação ou concurso para intérprete, então a gente precisa urgentemente que essa legislação seja revogada”, declara Liane. A professora também explica que, atualmente, não há falta de intérpretes, mas que a situação pode mudar caso o número de alunos surdos aumente.“É muito cansativo ficar interpretando durante duas horas direto sozinha, então a cada 20 minutos as intérpretes fazem revezamento, por isso sempre precisa de duas juntas”, ela explica.
O ensino de Libras também é importante para a interação dos acadêmicos surdos que estão na Universidade, como ressalta a intérprete de Libras da CAED, Diéssica Zacarias Vargas. “O ideal é que essa língua fosse ensinada nas escolas, inclusive para as crianças, [assim] nós teríamos surdos que se comunicam com todas as pessoas sem dificuldade”, afirma Diéssica.
A professora Liane também considera a visibilidade que as aulas de Libras proporcionam, um dos principais benefícios: “Começa a dar mais valorização e visibiliza uma língua que há 15, 20 anos atrás, não circulava, era invisível. E isso diminui aquele choque que as pessoas tinham diante da língua e dos surdos, por conta daquela falta de informações. A lei tem 21 anos apenas, mas a história dos surdos e da educação de surdos tem muito mais do que isso”.
Reportagem: Giulia Maffi e Júlia Almeida
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