Docente da UFSM há mais de 20 anos, André Luiz Aita tem graduação em Engenharia Elétrica e mestrado em Ciências da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), doutorado pela Delft University of Technology (Delft), na Holanda, e hoje é docente do Programa de Pós-Graduação de Ciências da Computação na UFSM.
Com experiência na área de ciência da computação, Aita explora as possibilidades transformadoras proporcionadas e discute os desafios éticos e de privacidade associados ao seu uso. Em entrevista para a .TXT, ele compartilha sua visão sobre as responsabilidades dos desenvolvedores em garantir o uso ético e responsável das inovações.
.TXT: Como a ciência da computação ajuda a resolver problemas complexos que antes eram considerados insolúveis?
André: Não eram insolúveis. A solução que ainda não era conhecida. Por exemplo, a matemática, às vezes, tem problemas insolúveis talvez porque ainda não se tenha descoberto a solução. A computação trabalha com programação, que necessita de processadores, de computadores, para que o algoritmo e o programa rode. E a tecnologia, nos últimos anos, vem evoluindo de tal forma que esses processadores e esses computadores evoluíram muito. Então, aquelas tarefas que a princípio eram insolúveis porque consumiam muito tempo, hoje conseguimos fazer talvez em um dia ou em uma hora.
.TXT: Você acredita que existam desvantagens no uso excessivo da tecnologia na pesquisa?
André: Todo excesso é prejudicial e não só nessa área. Então nós temos que saber dosar. Eu diria assim: excessos são prejudiciais. A resposta é simples e não está associada à tecnologia. Se você toma a tecnologia e a usa em excesso, pode ter algum problema, algum revés em função desse uso demasiado.
.TXT: Quais são os desafios éticos e de privacidade associados ao uso da tecnologia na pesquisa científica?
André: A tecnologia permite a fácil comunicação. Não é a tecnologia que resulta nessa suposta falta de privacidade. Nós observamos as pessoas se expondo a partir de uma ferramenta que existe, certo? Quantas fotos você e eu temos publicadas na internet hoje? E essas fotos não se apagam nunca mais. A ferramenta que você tem disponível é que te permite se expor. A tecnologia está disponível, mas é você que escolhe se vai querer se expor ou não.
.TXT: Como os avanços em tecnologia afetam a forma como a ciência é aprendida?
André: Durante a pandemia percebemos um enorme avanço da tecnologia para ensino remoto e aprendizado. Antigamente, nós tínhamos uma única referência, que era a biblioteca, ou íamos ao professor, que era quem tinha o conhecimento. Hoje temos uma abundância de informações: não necessariamente são todas verdadeiras, mas há uma abundância delas.
.TXT: Quais são as responsabilidades dos desenvolvedores de tecnologia em garantir que suas inovações sejam utilizadas de forma ética e responsável?
André: O fabricante de uma faca é responsável por sua produção. Qual é a responsabilidade dele durante a fabricação da faca? Seria a mesma que aquele responsável pela tecnologia tem? Em outras palavras, qual será o uso que você dará a essa faca? No momento que se disponibiliza esse recurso, você sabe que permite que pessoas de má índole o utilizem. Que façam mau uso da tecnologia. De certa forma, têm responsabilidade. Às vezes, você constrói algo para o melhor uso e nem imagina que aquilo que produz terá um uso que não esperava. Normalmente projetamos coisas para que sejam bem utilizadas.
Reportagem: Maria Fernanda Dias
Contato: mariafernanda2001.mfm@gmail.com