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INCLUSÃO NAS ONDAS DO RÁDIO

“De Perto Ninguém é Normal” promove oficinas e apresentação de programa na Rádio Universidade para pacientes do CAPS



No ar desde 1998, “De Perto Ninguém é Normal” é um projeto para pessoas com transtornos ou sofrimento mental severo e persistente. A iniciativa é coordenada por profissionais da equipe técnica em saúde mental do Centro de Atenção Psicossocial Prado Veppo (CAPS) e conta com cerca de 12 integrantes. As reuniões são quinzenais, intercaladas por gravações para o programa, transmitido às segundas-feiras, às 17h, na Rádio Universidade 800 AM.

Dicas de saúde, receitas, recados, músicas, entrevistas e piadas compõem os quadros produzidos e apresentados pelos participantes. O rádio também é utilizado para discutir demandas de saúde mental, discursos contra o preconceito, luta antimanicomial e reivindicação de mobilização social para suas pautas. A principal solicitação dos participantes é a implementação de mais um CAPS em Santa Maria. A demanda surge devido à superlotação dos quatro centros da cidade e a enorme fila de espera. 

Em dias de gravação, o segundo andar da Casa da Comunicação da UFSM lota. Em meio às risadas e roteiros espalhados pelos corredores, os psicólogos tentam encaminhar as gravações no estúdio. Os participantes ocupam o tempo de espera de diversas formas: Tião conta piadas e Pedro distribui versículos aos colegas. Isso acontece enquanto outros gravam na sala ao lado. Todos querem contribuir e têm liberdade para isso: a criatividade é percebida em bordões como “Acorda povo de Santa Maria”, frase recorrente de Pedro durante as gravações.

Autonomia e saúde mental

A doutora em Psicologia Social e coordenadora do projeto, Marcele Zucolotto, afirma que a iniciativa visa o acompanhamento da saúde mental com a substituição do modelo centrado no tratamento hospitalar. Para ela, é fundamental preservar a cidadania e os vínculos sociais dos pacientes com autonomia e integração social.

A coordenadora salienta a importância do projeto ao atender uma população historicamente marginalizada, estigmatizada e esquecida por políticas públicas. O projeto possibilita a construção e o fortalecimento de autonomia aos membros, bem como de maior participação e integração social como o programa veiculado na Rádio, desde os anos 90.

  A professora acredita que o veículo é um dispositivo de circulação da voz e expressão do coletivo. Para ela, o programa pode conscientizar a comunidade de Santa Maria: “Mobiliza e sensibiliza [a população] da importância de assuntos referentes à saúde mental e da importância do respeito e de inserção social dessa população”, afirma a coordenadora.

Um dos participantes mais antigos do “De Perto Ninguém é Normal”, Ronaldo Aguiar, relata a melhora na qualidade de vida, bem estar e na interação com outras pessoas em 28 anos no projeto. Ronaldo consumia mais de dez remédios e relata que passava os dias dormindo, dopado, não interagia e teve que encarar oito internações devido a surtos psicóticos. Atualmente, consome dois remédios e está há mais de 15 anos sem internações. “Graças a Deus me sinto muito bem”, assegura. O participante compreende a importância do trabalho que o CAPS realiza e recomenda o ambiente para quem passa por momentos de alto estresse mental. 


Os atendimentos no CAPS Prado Veppo, para transtornos mentais graves, podem ser solicitados pelo telefone (55) 3174-1582.

Desenho vertical com bordas em grafite e fundo vazado de um homem em frente a um microfone de rádio. O homem é jovem e está de perfil. Ele tem cabelo curto e liso, é musculoso e está com expressão facial concentrada. Um dos braços está cruzado na altura do estômago e o outro está estendido. Ele veste uma camiseta com um broche de laço. O microfone está na altura do queixo e suspenso em uma estrutura de metal e tem a logomarca da Rádio Universidade 800AM. Seis ondas sonoras saem do microfone. O fundo é branco.
Ilustração: Isabela Souza Jardim

Para a UFSM, é uma oportunidade de reconhecimento de uma população que  historicamente sofreu estigmas e esteve à margem de políticas públicas e cuidados adequados”
Marcelle Zucolotto, psicóloga social e coordenadora do “De Perto Ninguém é Normal”


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Reportagem: Mariana Camargo
Contato: camargo.mariana@acad.ufsm.br

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