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ESCOLA, LUGAR DE DIVERSIDADE

Projeto voltado à rede básica dialoga sobre pluralidade sexual e de gênero



Descrição da Ilustração: Ilustração horizontal e nas cores do arco íris em tons pastéis. Na ilustração, uma sala de aula ampla. Em primeiro plano, sete estudantes, de costas, sentados em carteiras escolares. Todos vestem uniforme na cor verde acinzentada. Cinco dos estudantes estão com um dos braços levantados, e é possível ver que estes têm pele negra. Quatro estudantes têm cabelo preto, e os outros têm cabelo nas cores azul petróleo, amarelo limão e lilás. Três dos estudantes têm cabelo comprido, e os outros quatro têm cabelos curtos. As classes têm cor de goiaba. Em segundo plano, em pé, está a professora em frente a um quadro escolar. A professora está no lado esquerdo da imagem, tem pele parda, cabelos pretos, encaracolados e na altura do ombro. O rosto dela não tem olhos, nariz e boca. Ela veste blusa lilás em tom pastel e saia lápis em verde acinzentado. Está com um dos braços levantados. Atrás dela, um quadro escolar horizontal em tom de verde e moldura marrom. Acima do quadro, um ventilador preto na parede. No lado esquerdo da imagem e ao lado do quadro, armário de madeira marrom claro com uma televisão antiga em cima. No lado direito da imagem, na vertical, a bandeira da comunidade LGBTQIAPN+, com seis listras nas cores vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e roxo. O fundo é uma parede rosa bebê.
Representação de uma sala de aula, enquanto alunos prestam atenção e a bandeira LGBTQIAPN+ ao lado | Ilustração: Amanda Rodrigues

Em meio aos livros da biblioteca da Escola Estadual Professora Margarida Lopes, a docente Fabiana Bianchini conta como aborda a diversidade nas escolas. Este tópico é interesse de mais 127 professores que se preocupam em entender como trabalhar questões de gênero por meio do projeto “Diversidade nas Escolas”. O programa, que é desenvolvido na UFSM, busca capacitar docentes, coordenadores pedagógicos e discentes de graduação para um ensino inclusivo sobre diferentes identidades de gênero e de orientações sexuais. Falar sobre a temática tornou-se prioridade para Benhur, Bibiana, Carla, Luci e Carlos, que têm um objetivo em comum: desenvolver formas de tornar a escola inclusiva para todos os estudantes. 

Com o assassinato das travestis Carol, Morgana, Mana, Verônica e Selena em cinco meses – entre 2019 e 2020, em Santa Maria -, os movimentos sociais reforçaram a discussão de pautas relacionadas à pluralidade sexual e de gênero e questões que levam à discriminação da população LGBTQIAPN+. Foi nesse contexto que se viu necessário a discussão da diversidade para além das políticas públicas, o que contempla as escolas. Em todo o Brasil, muitos jovens enfrentam a falta de segurança nas escolas: 73% de quem se declara LGBTQIAPN+ das escolas básicas relataram já terem sido agredidos verbalmente. É o que mostra a pesquisa realizada em 2016 pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais (ABGLT).

Para o professor do Departamento de Geociências da UFSM e coordenador do projeto, Benhur Pinós da Costa, unir a escola com as políticas que já eram desenvolvidas na cidade era sua prioridade. Ele tirou do papel o “Diversidade nas Escolas” atrelado ao Projeto de Lei 9091/2020, proposto pela vereadora Luci Duartes. “O projeto busca exclusivamente trabalhar o resgate do aluno e da aluna LGBTQIAPN+, para que eles não evadam das escolas”, explica Luci.Na sala da vereadora, há uma parede ocupada pela bandeira LGBTQIAPN+, símbolo da comunidade a que Luci Duartes pertence e defende. Sua atuação pode ser percebida desde os projetos na Câmara de Vereadores de Santa Maria até o ensino básico, em que é professora de Educação Física. “Quando eu era adolescente, muitas vezes tive vontade de desistir e abandonar os estudos pela minha condição sexual e pelo preconceito que eu sofria dentro das escolas”, afirma a vereadora. Experiências de preconceito por parte de professores e colegas motivaram Luci na criação do projeto de lei que ganhou vida com o projeto da UFSM.

Capacitar para acolher 

Desde 2009, incluir questões voltadas ao gênero e à diversidade fazem parte da trajetória acadêmica de Benhur. Agora, com as bolsistas Bibiana Irala Gomes e Carla Pizzuti Savian, busca estruturar a terceira edição do projeto para ampliar o alcance no país. Professores de diversas partes do Brasil já participaram das primeiras edições, que discutiram gênero nas escolas. Para  Bibiana, a temática precisa ser priorizada pelos professores porque o debate é necessário no âmbito escolar de forma frequente.

A professora sempre esteve envolvida com os  movimentos sociais, que a fizeram abrir o olhar para a diversidade. “Comecei a ver os depoimentos que mostram o quanto as pessoas sofrem discriminação desde o ensino fundamental. Por que não tem pessoas transsexuais nas escolas? Porque eles estão praticamente expulsos”, questiona Fabiana. Nas salas de aula não poderia ser diferente: a docente, que leciona há quase 30 anos, busca criar discussões com seus discentes sobre gênero e a comunidade LGBTQIAPN+. “A gente aproxima os estudantes com esses temas para desconstruir a naturalização do preconceito, do racismo e da discriminação – tudo isso que infelizmente faz o Brasil ser um dos países que mais matam pessoas LGBT”, comenta. 

Apesar de uma boa recepção com a temática, Fabiana percebe o desconforto dos jovens. Ela ressalta que o debate nas salas de aula é necessário para criar discussões sobre o tema, além de provocar estudantes a pensar sobre diversidades. A preocupação de professores como Fabiana é evidente nas pesquisas que alertam a insegurança do ambiente escolar para pessoas LGBTQIAPN+. Assim, os docentes demonstram que estão preocupados com os futuros dos jovens.


“Se é piada e causa dor nos outros, não é piada, é maldade mesmo”
Fabiana Bianchini

O palestrante no projeto e doutorando em estudos sobre Geografia Queer, Carlos André Gayer Moreira destaca que nas escolas, a pauta LGBTQIAPN+ muitas vezes é silenciada pela falta de conhecimento dos professores. Ele analisa principalmente como os currículos dos cursos de licenciatura de cinco universidades federais do Rio Grande do Sul abordam a causa. “Por mais que se produza conhecimento dentro dessas temáticas na geografia, ele é produzido de uma maneira muito individual por alguns pesquisadores. Isso ainda não está permeando o currículo”, declara. 

A aproximação entre universidade e escola ainda não é total, de acordo com os estudos produzidos por Carlos. Muitas das pautas relacionadas à temática da diversidade que circulam pelas instituições federais devem chegar aos espaços escolares de forma mais nítida para o professor. Para Carlos, as universidades têm o dever de dar assistência aos professores. “Normalmente nos espaços escolares há diversas carências e adversidades que só conseguiríamos de alguma maneira sanar ou minimizar as problemáticas se nós tivermos o apoio da Universidade”, enfatiza.


Reportagem: Mariane Machado e Vinícius Maeda
Contato: mariane.machado@acad.ufsm.br / vinicius.maeda@acad.ufsm.br

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