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RAÍZES QUE CONTAM HISTÓRIAS

Para além das tendas da Polifeira do Agricultor, uma família de trabalhadores rurais encontra sustento e um futuro fértil por meio dos alimentos



Fotografia horizontal e colorida  de quatro pessoas de pele branca, em pé em frente a uma casa velha de madeira. São duas mulheres no centro, e dois homens, um em cada extremidade. Eles sorriem levemente. No lado esquerdo está o Senhor Darci, de pele clara, estatura média e com aproximadamente 60 anos. Ele veste uma camisa gola polo preta, uma calça jeans escura e usa um chapéu de palha. Ele está de mãos dadas com Dona Maria, que está ao seu lado. Ela tem pele clara, estatura média e com aproximadamente 60 anos. Tem cabelos brancos presos em rabo de cavalo. Ela veste uma camiseta preta com uma estampa da logo do “Feirão Colonial” e uma leggin preta. Ao seu lado, está Ana Paula, mulher de pele clara, com cabelo castanho escuro preso em rabo de cavalo, estatura média e com aproximadamente 30 anos. Ela veste camiseta e leggin pretas. Por último, ao seu lado, está Jefferson, um homem de pele clara, estatura alta, e com aproximadamente 30 anos. Ele usa um boné verde escuro, veste camiseta e bermuda pretas. Jefferson está com a mão esquerda no bolso da bermuda. Atrás deles, a casa de madeira, que é de cor branca envelhecida e tem telhado de zinco. Ao fundo da imagem e acima da casa, está o topo de algumas árvores em tons de verde e laranja. O chão é de terra.
Família da tenda Silveira e Souza. Seu Darci, dona Maria, Ana Paula e Jeferson, respectivamente. | Foto: Gabriel Barros

Uma casinha de madeira em meio a duas construções de tijolos, rodeada de galpões e uma vida inteira aos fundos: as plantações. Localizada no interior de Arroio Grande, distrito de Santa Maria, a família de produtores da tenda Silveira e Souza abre suas portas para a .TXT. Recepcionadas pela agricultora Maria Zorzella e sua família, acompanhamos um dia de preparação e colheita para a Polifeira do Agricultor.

Dona Maria e seus três cães nos levam para conhecer a plantação familiar. Atrás da casa de madeira, estendem-se mais de 30 variedades de árvores frutíferas, algumas vindas de fora do Rio Grande do Sul. Do açaí à seriguela, do urucum à laranja cidra, pés de cravo, mudas de mini-abacaxi, avelã. 

Conforme avançamos, ouvimos o estalar das folhas no chão e o cantar dos pássaros. Borboletas voam ao nosso redor e os beija-flores trabalham na  polinização das flores. A agricultora nos guia até a estufa de cactos e mostra com orgulho as diferentes espécies cultivadas – mais um diferencial dos comerciantes.  Depois, seguimos em direção à horta para acompanhar a colheita das hortaliças e verduras. Couve, brócolis, alface, repolho e cenoura são alguns dos produtos que ainda estão na terra mas que, no dia seguinte, estariam na Avenida Roraima para serem vendidos.

Enquanto seu filho Jeferson e seu esposo Darci colhem os alimentos, com um corte rápido e preciso na raiz, dona Maria nos conta da preocupação com o clima. Os períodos de seca dificultaram o crescimento do hortifrutti, ao mesmo tempo em que as chuvas intensas destruíram verduras e legumes. O coordenador da Polifeira do Agricultor, Gustavo Pinto, também falou sobre o problema que impede produtores de participar da feira: “Estamos com poucos feirantes porque vários não têm o que comercializar. Não tem água nem para beber na propriedade deles. Os açudes, os reservatórios de água, a maioria está seco”, lamenta. 

Maria Zorzella Souza, agricultora há mais de 40 anos, participa da Polifeira desde a sua criação, em 2016. Foi convidada por André Raddatz, feirante que incentivou Gustavo a formar a feira. Desde então, ela e Darci fazem parte do projeto. Há um ano, seu filho Jeferson e a esposa Ana Paula também passaram a fazer parte da iniciativa. Devido às consequências da seca, somente Jeferson e Ana Paula têm ido vender os produtos na avenida Roraima e em frente ao planetário da UFSM.

Mão de obra familiar

Todas as etapas, desde o plantio à colheita, somados aos produtos caseiros feitos por Ana Paula, são realizadas pela família. Eles prezam pela mão de obra familiar, uma das principais exigências da Polifeira. “A feira é para agricultores familiares, o público prioritário é esse. Eles podem vender de vizinhos, desde que seja da nossa região ou algum produto que não tenha por aqui, como o arroz orgânico”, comenta Gustavo. 

Devido ao potencial de 30 mil pessoas que passam todos os dias pelo campus, a Polifeira inicialmente foi pensada como oportunidade de gerar renda para os produtores. Com o tempo, percebeu-se que também permite segurança alimentar para os consumidores em relação à origem do produto. Isso porque o projeto controla a rastreabilidade, quem e como produz. “A feira passa a ser voltada do agricultor para o consumidor. E, nos últimos anos, já vejo ela com papel de debater criticamente questões alimentares”, conclui o coordenador.

Sem agrotóxico

A família Silveira e Souza trabalha com o conceito de alimento saudável. A preocupação é produzir mercadorias de qualidade que respeitem os processos naturais, sem uso de agrotóxicos. “É como o Darci diz: para saber o que come, é só o que a gente planta, porque nada tu vai comer sem agrotóxico. Não adianta, tudo que vem de fora, vem com agrotóxico”, observa Maria.

Para Gustavo, colocar a questão alimentar em discussão no espaço universitário é uma oportunidade para entender os objetivos do desenvolvimento sustentável. Dessa forma, a Polifeira prova ser mais do que um simples comércio ao valorizar os princípios do alimento natural produzido pelo agricultor na região central do estado.

Conforme os últimos alimentos são recolhidos, Dona Maria fala sobre o apoio que os produtores recebem do projeto. Profissionais agrônomos e cursos são oferecidos para os feirantes. Para ela, todo esse conhecimento é uma das grandes vantagens da Polifeira.

Construção de raízes

A colheita do dia dura cerca de uma hora. Seu Darci, com chapéu de palha, e Jeferson, de pés descalços e embarrados, começam a carregar os caixotes com as hortaliças até a caminhonete. Como a propriedade é extensa, não teria como carregar um a um até o galpão para serem higienizados. Seguimos o caminho de volta a pé com a agricultora. Durante o percurso, ela nos fala sobre outro benefício proporcionado pelo projeto: os vínculos criados com o público. “Tu pega amizade. As pessoas vêm direto onde a gente está. Então, é como eu digo sempre, é a convivência e saber como tratar as pessoas”, conta Dona Maria.

A Polifeira é a única fonte de renda da família. Dona Maria revela que os melhores dias de vendas são dentro da UFSM – em que o suco de laranja, os hortifrutis e o geladinho fazem sucesso. Além disso, são vendidos escondidinhos, crepes, pastéis e panquecas. Assim como eles, outras 30 famílias são beneficiadas pelo projeto. Desde 2018, já foram comercializados mais de R$ 2,5 milhões. “É muito dinheiro pensando numa feira dentro de um Campus Universitário”, afirma Gustavo, que se impressiona com os altos números.

“É brabo ser mulher” 

Depois de retornarmos à frente da casa, nos acomodamos em cadeiras de praia sobre a grama verde. Nesse momento, tivemos a oportunidade de ouvir dona Maria e Ana Paula sobre as dificuldades de ser feirante. Ana Paula pontua os preconceitos em relação à sua idade. “Tem bastante discriminação, principalmente ali na Roraima. Como sou eu que faço os escondidinhos e as panquecas, sempre acham que é a mãe de Jefferson quem faz. Tipo, a Ana é nova, não sabe fazer… É brabo ser mulher”. 

Outra situação que elas vivenciam é a queda do movimento durante as férias da Universidade. Nesse período, a Roraima se torna o principal ponto de vendas, onde não há energia elétrica para o uso de fritadeiras ou espremedores de frutas. Outro problema de infraestrutura é a necessidade de montagem e desmontagem dos gazebos em dia de feira. Por isso, uma das metas da coordenação da Polifeira é a construção de um lugar fixo.

No fim da conversa, fomos surpreendidas por Ana Paula com duas bandejas de um delicioso bolo de chocolate. O ambiente é preenchido pelo aroma, que ressalta o sentimento de afeto.  Após muitos ensinamentos e risadas, em meio a um entardecer dourado e cercadas pela serenidade da natureza, encerramos nossa visita à propriedade. As duas mulheres compartilham conosco a importância deste lugar na vida delas. “É uma escolha nossa. Acredito que teria outras coisas melhores. Talvez sim, talvez não. Mas a qualidade de vida que a gente tem aqui é imensurável perto da qualidade de vida da cidade, sabe?”, comenta Ana Paula. E dona Maria ressalta: “Não saio daqui por nada”.  


Conheça a Polifeira do Agricultor

Todas às terças, das 7h às 12h30, na Avenida Roraima. Nas quintas, no Largo do  Planetário da UFSM, das 12h  às 17h30.


Reportagem: Maria Francisca de Mello, Mariana Rodrigues e Samara Debiasi
Contato: mariafranciscamello24@gmail.com / mariana.rodrigues@acad.ufsm.br / samara.debiasi@acad.ufsm.br

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