O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) afeta cerca de 2 milhões de brasileiros com mais de 18 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, que dá seus primeiros sinais na infância. Ele possui três grupos de sintomas: a desatenção, hiperatividade e impulsividade causados por uma falha no sistema inibitório. Entretanto, passam despercebidos dentro da comunidade acadêmica, o que pode dificultar a permanência desse aluno no ensino superior.
Por vezes, taxados de “avoados” ou “desinteressados”, os estudantes que são diagnosticados com o transtorno lidam com muitas adversidades e podem ter um desempenho acadêmico inferior. A doutora e coordenadora do curso de Psicologia da UFSM, Clarissa Tochetto de Oliveira, explica que: “De fato, eles possuem um desempenho acadêmico menor, mas isso não significa que são menos inteligentes, porém, a pessoa diagnosticada vai lutar muito mais para fazer as mesmas coisas em função dessas distrações”.
A estudante de Artes Cênicas da UFSM, Renata Diefembach Gassen (22), que possui sintomas de TDAH, diz já ter ouvido comentários de colegas e professores que acreditavam que mentia sobre seu transtorno para não ser tão “cobrada”, ou então, “se você não faz tratamento com medicação, você não tem problema”. Situações como essa deixam claro o despreparo da sociedade e ainda reforçam a teoria de que o TDAH não existe. De acordo com Clarissa, “Negar esse transtorno é negar a assistência que essas pessoas precisam, porque elas só vão receber assistência e tratamento se a gente souber que existe uma condição a ser tratada”.
A UFSM oferece, por meio da Coordenadoria de Ações Educacionais (CAED), uma assistência multiprofissional com uma equipe formada por Fonoaudiólogas, Psicopedagogas, Educadoras Especiais, Pedagogos, Psicólogos, Psiquiatras e, mais recentemente, contam com uma especialidade em clínica geral. A intenção é oferecer um atendimento voltado ao processo do aprender, como ele ocorre e quando se pode ser potencializado. A coordenadora do CAED, professora Silvia Pavão, problematiza que nesses casos o aprendizado não acontece em sua plenitude: “Muitas vezes os estudantes chegam na Universidade e conseguem aprender o que está sendo exposto, mas e a descoberta? Aquilo que o aluno pode vir a ser dentro do mundo acadêmico?”.
Perigos do autodiagnóstico
A Chefe da Subdivisão da Acessibilidade da CAED, Fabiane Breitenbach, reforça a importância de um diagnóstico clínico e pontua como a questão do autodiagnóstico baseado em informações lidas e pressupostas da internet vem se alastrando. Atualmente, cada vez mais as pessoas têm buscado explicações rápidas para padrões comportamentais, inclusive, existe um termo coloquial utilizado para definir essa prática, cyberchondriac. De acordo com o dicionário Oxford, o termo significa “pessoa que busca compulsivamente informação na internet sobre sintomas reais ou imaginários de determinada doença.
Os efeitos da desinformação afetam e contribuem para que o transtorno seja banalizado. Vídeos que circulam pelas redes sociais citam alguns sintomas e fazem com que se efetue um autodiagnóstico que, muitas vezes, não coincide com a realidade. O autodiagnóstico é preocupante, pois muitos estudantes entram em contato com a CAED afirmando ter o transtorno., Eles buscam pela confirmação de suas hipóteses para se sentirem amparados, em alguns casos, passam por outras dificuldades que têm os mesmos sintomas de TDAH. “Os acadêmicos buscam motivação para estudar e esquecem que o fundamento disso está em ter disciplina”, explica a chefe da subdivisão de Acessibilidade, Fabiane Breitenbach.
A desinformação quanto ao TDAH sempre existiu e não ocorre somente no mundo virtual. Existem profissionais que negam a existência do transtorno ou que não estão preparados para fazer o diagnóstico. Quando isso ocorre, gera um desserviço que contribui para a banalização. Contudo, há informações científicas de qualidade, que ajudam a entender o transtorno e a tratá-lo, e, para isso, é preciso que haja a informação.
COMO CONSEGUIR ASSISTÊNCIA DA CAED?
Para solicitar um atendimento psicológico ou pedagógico, trabalha-se com o seguinte processo: Cada centro de ensino tem sua unidade de apoio pedagógico, e há um diálogo com a Caed. Desse modo, deve-se procurar as unidades para que possa ser feito o encaminhamento para o atendimento. Existe a possibilidade de efetuá-lo através do site https://www.ufsm.br/pro-reitorias/prograd/caed/, lá terá um formulário a ser preenchido, para em seguida, o estudante seja dirigido ao atendimento. Entretanto, o mais correto é identificar a demanda, para ver o que o acadêmico de fato necessita.
Repórteres: Bruna Piedras e Nicole Vargas Zanotto
Ilustração: Ana Caroline Alves Crema